Já há muito que o meu filho me tinha falado num filme que classificou de excepcional e eu não cheguei a ver. “Gato Preto, Gato Branco” de Emir Kusturica, foi há alguns anos um êxito de bilheteira no nosso País. O filme tinha sido agraciado com um Leão de Ouro no festival de Veneza e teve excelentes classificações dos críticos. O Cinema Ideal na Rua do Loreto colocou novamente em exibição o filme agora com uma cópia restaurada. Desta vez não me escapou e fui vê-lo ontem. Depois de um trânsito infernal, nesta época anda tudo doido, consegui chegar à Praça de Camões para pôr o carro no parque. Tive de deixar a Catarina na esquina e que fosse andando para o cinema que eu tinha de guardar o carro. Conclusão: levei montes de tempo para entrar. Ora estava completo, ora livre, mas entrava-se a um e um. Lá consegui um lugar no piso -4 e tive de utilizar o elevador para sair e tentar “correr” até ao cinema. Cheguei uns bons minutos atrasado, coisa que me provoca um stress dos diabos. Ainda tive de mostrar o certificado de vacinação antes de me poder sentar. Parece que não perdi muito do filme. Mas falemos do dito:
No início o ambiente choca-nos um
pouco pelo insólito das personagens, trajes e ambiente. A pouco e pouco vamos
entrando na “história” e o choque vai-se desvanecendo. Numa comunidade cigana,
penso que meios sérvios, que vive numa terreola à beira do Danúbio, vive-se de
esquemas, trafulhices, roubos, festa e música. As pessoas, quase todas, feias,
desdentadas, divertidas, e trajadas de
cores garridas, vão fazendo negócios duvidosos com soldados russos, tais como
desviar comboios de vagões de gasolina. Um dos ciganos envolve-se num negócio
com outro, “ganster”, rico, cocainómano e devasso, e fica a dever-lhe bastante
dinheiro que não tem como pagar. O Malandro apresenta-lhe uma solução, casar o
seu filho com a sua irmã mais nova, mas que não deve muito à beleza e é meia
anã. Mas nem a anã, nem o filho do nosso cigano querem casar, uma porque está à
espera do seu príncipe encantado e o outro apaixonado por uma linda rapariga
filha da dona de uma tasca onde vende comida, bebida e cujo divertimento era,
munida de uma carabina, atirar nos barcos que passam no rio destruindo os
pertences dos seus proprietários. A partir daqui é o granel total. No casamento
a noiva foge com o apoio do noivo e acaba por ser apanhada pelo filho de um
outro “ganster”, esse ainda mais rico, altíssimo e de grandes bigodes e é o
amor à primeira vista. Desata tudo aos tiros, mas lá se acalmam e resolvem por
bem fazer dois casamentos. A música no filme é primordial e desde uma banda
atada nas alturas ao tronco de uma árvore e de irem buscar um avô ao hospital
com uma fanfarra a tocar por ali dentro e a tocarem nas festas, está sempre
presente. No meio daquilo tudo dois gatos um macho branco e uma fêmea preta
andam por ali como que a gozarem a maluqueira dos humanos, aproveitando tudo a
que podem deitar a unha e fazendo “amor”. No fim acabam como testemunhas do
casamento do rapaz. Cenas insólitas como uma partida que os noivos fazem ao
“ganster” armadilhando-lhe a retrete de madeira
acabando o malogrado por cair dentro do “caldo” interior e mal cheiroso à ressurreição de
dois avôs que se pensavam mortos e tinham sido colocados num sótão com gelo em
cima para que os funerais não adiassem o casamento, tudo aconteceu.
Dito assim parece uma comédia
burlesca, mas não é, está lá muito ensinamento da vida. É realmente um filme
insólito mas interessantíssimo. Valeu a pena.
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