sábado, 28 de setembro de 2024

Telhados de vidro


Há muito que não ia ao teatro. Por sugestão do meu filho fomos ao teatro ver a peça Telhados de Vidro, ao Trindade, da autoria de David Hare (giro, David Lebre). O facto de ter como interprete Diogo Infante pesou na minha decisão. Ultimamente não tenho visto muito teatro. Hoje as formas de interpretação, pouco declamada como não era antigamente, fazem com que algumas falas passem despercebidas aos meus ouvidos, talvez um pouco já cansados. Mas, dei por bem empregue o meu tempo. Diogo Infante, hoje director do teatro da Trindade, é realmente um intérprete de excelência, e a Benedita Pereira, que só conhecia de algumas novelas, não lhe fica atrás. Um terceiro actor, Tomás Taborda vai muito bem e é uma revelação.

O tema da peça não é inédito, mas é-nos apresentado de forma moderna, ao mesmo tempo quase caricata, mas no fim trágica.

Um empresário de sucesso, completamente fascista e senhor de si próprio fica viúvo e visita a antiga amante que agora vive só, num pequeno apartamento, mas que viveu muito tempo junto da falecida, sua amiga, que trai mas, que abandona o seu amor ao pensar que a amiga tem conhecimento da ligação.

A conversa entre os dois mostra a distância de vida e pensamento dos ex-amantes, separados por ideologias antagónicas e valores morais, mas ao mesmo tempo com desejos recíprocos que os aproximam. A jovem, no início da peça, também é visitada pelo filho do seu amante, que, abalado pela morte da mãe se mostra bastante traumatizado pelo abandono quase total a que o pai o veta. Esse facto acaba também por ser um dos temas em desacordo entre os ex-amantes.

Ineditamente a peça tem legendas que apresentam ideias ou intenções dos intervenientes, mas que, no fim não se verificam. Interessante.

Ao ler o programa com um singelo resumo dos acontecimentos aprendi uma palavra que desconhecia totalmente, didascália. O meu rapaz sabia (é uma cabecinha d’ouro).

 

PS: Didascália ou rubrica são indicações cénicas para indicar como determinada acção, como determinada cena, como determinado espaço ou como determinada fala devem ser feitos em uma peça de teatro. Wikipédia

 

 

 

domingo, 22 de setembro de 2024

Daddio – Uma noite em Nova Iorque

 


Andava com algum interesse em ver este filme. Sabia-o todo passado num táxi entre o aeroporto JFK e Manhattan. Uma conversa entre uma passageira, cerca de 30 anos loura e bonita e o motorista, homem já para cima dos cinquenta. Pensava eu que ia ver um filme maçudo só de conversa e com pouco interesse. Felizmente estava enganado. A realizadora consegue “segurar” o espectador de modo a não cansar. Não se pode dizer que seja uma obra-prima com diálogos demasiado intelectuais. Não. Acaba por ser uma conversa entre um homem experiente, conhecedor dos seres humanos e duma mulher que tem um amante, homem casado com 3 filhos, mas que procura fora aquilo que acha já não ter em casa. O táxi acaba sendo um divã de psiquiatra em que, tanto a paciente como o médico, explanam as suas angústias, frustrações e modos de vida. O motorista, homem inteligente, consegue da moça confissões de momentos íntimos que nunca confessara a ninguém. Ficamos a saber que regressava da casa de uma meia-irmã,11 anos mais velha onde o pai nunca conseguiu expressar-lhe um carinho tendo apenas, uma única vez, despedindo-se com um aperto de mão.

Enquanto a conversa se processa, a moça mantém com o amante um diálogo, por Messenger, em que se nota o interesse apenas sexual do homem por uma rapariga muito mais nova.

A conversa acaba por ser quase um desafio entre os dois para ver quem se confessa e sobre o quê. A distância é longa e a viagem sofre apenas uma interrupção por motivo de um acidente. O diálogo não é interrompido durante esse hiato e apenas termina no final da viagem. No fim o motorista estende-lhe a mão e moça faz-lhe uma festa na cara. O interessante na realização é que não se vê ali qualquer interesse de ordem sexual, apenas transparecendo o gosto dos dois em conseguirem confissões expressas  a desconhecidos sabendo que, normalmente, nunca mais se encontrarão.

Freud deveria ter gostado. Eu não amei especialmente, mas achei interessante.

 

PS. Procurei o significado de Daddio e acho que é um eufemismo de Pai (Daddy).