terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Dia de Ano Novo

Hoje é dia 1 de Janeiro de 2013. Longe vão os tempos em que acordava na manhã no dia de ano novo e tudo me parecia diferente. Era diferente o ar que respirava, estavam diferentes os amigos, a manhã quase sempre radiosa. Hoje não. Não consigo “ver” assim as coisas. A Terra deu mais uma volta como em todos os outros dias e até a sua órbita não se alterou muito pois o seu ponto de mudança foi no solstício (21 Dez). Diz o povo que “Janeiro fora adianta uma hora” e até é verdade, vamos tendo cada vez mais dia e menos noite, mas eu sinto que a noite, para mim, se está a tornar cada vez maior. Vivi até aqui sempre cheio de esperança e de vontade de realização, agora sinto que a vontade desapareceu e a realização já não é possível. Serão os meus quase 76 anos? Julgo que não. Não me sinto velho nem estou doente, felizmente. A cabeça funciona e os neurónios parecem estar todos arrumadinhos e funcionarem em pleno. Porquê esta sensação de desânimo e impotência?
Chegar até aqui com uma vida mais ou menos estabilizada e razoável, pensar que assim continuaria e verificar que o meu pobre País, em vez de melhorar só piorou, causa-me toda esta tristeza. Como foi isto possível? Onde ficaram os ideais de Abril? Onde ficou a nossa liberdade? O que falhou?
Lembro-me daquela manhã em que todos esperançámos um futuro risonho. Em que todos nos empenhámos nas transformações. Já lá vão quase 39 anos. É uma vida. E que fizeram aqueles a quem livre e democraticamente entregámos o poder? Salvo raras excepções, espoliaram, enriqueceram, criaram leis que os protegem e perpetuam no poder, dão cada vez menos oportunidades democráticas de mudança, enfeudaram-se aos donos do dinheiro no mundo e conduziram o nosso pobre País a esta miséria “salazarenta”.  
Pois. E agora? Como sair disto?
Não lhe encontro solução. Por isso esta manhã de Ano Novo cheira-me a ano velho.
Estou estupidamente à espera da pensão de Janeiro. As notícias são tão más que até ainda não tive coragem de fazer as contas. Mas a minha vida vai ter de mudar. Infelizmente para pior. Será que terei capacidade para aguentar os sacrifícios que se avizinham?
Sei que muitos estarão muito pior do que eu. O desemprego, a diminuição de rendimentos, o aumento de impostos e os aumentos ao consumo, vão atirando com as pessoas para a miséria. Muitos ficaram sem casa por não a poderem pagar, muitos já se alumiam à luz de velas e já nem tomam banho por falta de gás. Muitos vivem na rua. Matam-se filhos por impotência. Os suicídios proliferam. O crime aumenta. E os nossos governantes? Aqueles a quem entregámos o poder? Ter-lhes-á faltado mesa na passagem de ano? Penso que não. E a consciência? Doer-lhes-á? Penso que também não.
Entretanto continua a cheirar-me a ano velho… 2013 vai ser uma tristeza.