domingo, 19 de outubro de 2014

“LE NOZZE DI FIGARO”


Fui até à Fundação Calouste Gulbenkian para, no grande auditório, assistir à projecção em grande ecrã, das “Bodas de Fígaro” do tão conhecido génio Wolfgang Amadeus Mozart. Estas transmissões, que se realizam aos sábados umas vezes pelas 17H30 outras pelas 18 horas, são uma excelente iniciativa da Fundação que mais tem contribuído para a divulgação de eventos culturais no nosso país. Bilhetes relativamente baratos proporcionam salas esgotadas com uma frequência de bons apreciadores. As transmissões são feitas a partir do “The Metropolitan Opera” de Nova York, umas vezes em directo outras em diferido. Claro que não é bem a mesma coisa do que ver ao vivo, mas torna-se bastante aceitável e com o decorrer do espectáculo até nos esquecemos que estamos a ver uma projecção que dura das 18H até às 21H45 com um intervalo de mais ou menos meia hora.
Orquestra sob a direcção de “James Levine”, um excelente baixo/barítono, “Ildar Abdrazakov”, no papel de Fígaro, uma talentosa soprano/actriz, “Marlis Peterson” num papel muito vivo e bem interpretado de Susana. A parte mais negativa foram as legendas em português do Brasil, feitas muito em cima do joelho, trocando constantemente os géneros. No intervalo excelentes entrevistas aos protagonistas, não legendadas, mas num inglês perceptível que dá para apanhar duas no cravo contra uma na ferradura. A música é excelente num libreto cómico, talvez um pouco banal, mas que faz sorrir. Não nos podemos esquecer que, à época, a ópera era o teatro do povo.

Ao intervalo, ouviam-se comentários, que aquela não era história do Barbeiro de Sevilha, que a de Rossini é que era, etc. As pessoas muitas vezes desconhecem que, os libretos foram escritos por pessoas diferentes com intervalos de 30 anos, ambos adaptações de duas peças de Beaumarchais sob o mesmo tema. A primeira “O Barbeiro de Sevilha” e a segunda “As Bodas de Fígaro”. Curiosamente Mozart compôs sob a segunda, em 1785/86, sob libreto de Lorenzo da Ponte e, Rossini compõe sob a primeira em 1816, com libreto de Cesare Sterbini. Temos assim duas óperas em que a primeira é sob uma história continuação da outra que deu origem à segunda. Torna-se pois um pouco confuso para quem já viu as duas e não sabe disto. Na ópera de Mozart o nosso Fígaro já não é barbeiro, mas sim camareiro do Conde de Almaviva, já casado com Rosina, a quem ajudou, ainda como barbeiro, na sua conquista. Curiosamente, o Barbeiro de Sevilha será transmitido sábado 3 de Jan de 2015. Valeu pois a pena ir até à Gulbenkian ouvir Mozart e ver teatro musicado e cantado, com uma boa encenação já transportada para uma época mais moderna, o que se nota pelos trajes. Vão à ópera.

sábado, 11 de outubro de 2014

A morte do pombo


À morte ninguém escapa nem o Rei nem o Papa…”. Lembrei esta cantilena de miúdos ao encontrar um pombo morto na rua, durante o meu passeio matinal de sábado, esmagado por um automóvel. Pobre pombo que certamente andaria tão satisfeito procurando o seu sustento e a arrastar a asa à sua única companheira, sim porque os pombos são monogâmicos, assim como os católicos dizem que são, mas só perante os homens, porque perante o seu Deus muito têm que se desculpar, mas, dizia eu, ia o nosso pombinho feliz e contente e zás… “Mas eu sim escapo dela, compro uma panela que me custe um vintém…”. Será que se me meter numa panela que me comporte… “Meto-me dentro dela e tapo-me muito bem…” Bah! Não acredito, a morte vai dar por mim e lá vou eu para o bé-lé léu. A morte é mesmo uma chatice, acaba connosco em menos de um fósforo, transforma-nos em excrementos ou em cinza e lá acabamos. Há um pobre de um espermatozoide, um campeão, que corre que nem um desalmado para ser o primeiro a atingir a meta, consegue, entra no ovinho e lá ficamos nós para nascer em menos de nove meses. É pouco tempo comparado com aquele que se leva, às vezes para morrer. O nosso espermatozoide, com muito esforço, muitas das vezes debalde porque o conduzem para caminhos errados, lá consegue fazer com que do nada possa surgir a nossa vida e, depois, tarde ou cedo, lá vem a morte e puf… Será que haverá a tal panela?
Passa a morte e diz: Aqui não está ninguém…”. Pois! Fia-te nessa. Tal como o pombo vais morrer, só que eu sei disso e o pombo não sabia, ninguém tem culpa de o meu cérebro processar esse conhecimento. O pombo também já viu outros dos seus morrerem, só que não processa o conhecimento de que a ele também vai acontecer o mesmo. Já nós passamos todo o tempo a tentar, filosoficamente, encontrar formas de nos perpetuarmos. A morte é mesmo uma chatice e temos de a aguentar, a não ser que a panela funcione e, “Boa tarde meus senhores passem todos muito bem…”. Era  bom,  mas não funciona assim e o pobre do pombinho não tem uma alma para se evolar subindo até uma nuvem onde um fatito branco imaculado e uma lira o esperem condenando-o a tocar eternamente… Que chatice!