terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Karnal e Eu.

 

Não conhecia Leandro Karnal. Normalmente não me interesso muito por intelectuais brasileiros. Encontrei-o na Net e o facto de ser ateu moveu a minha curiosidade. Logo numa das primeiras audições achei que homem tinha tido uma experiência religiosa muito parecida com a minha. O homem é um portento. Historiador, filósofo e professor, fala com uma dicção excelente e uma clareza extraordinária. Claro que comparar Karnal comigo é um abuso da minha parte. Até devia mudar o título deste meu texto. A sua estrutura intelectual não tem nada a ver comigo. Karnal fala com todos de uma forma tão serena e atenciosa que prende crentes e não crentes. Conhecedor da história das religiões, ao falar não hostiliza ninguém e apresenta factos das religiões como se os considerasse totalmente verdadeiros. E é aqui que está uma grande diferença de mim quando falo de religiões. Eu sou muito mais acutilante e às vezes demasiado agressivo na apresentação das minhas ideias. “Mea culpa”. Karnal fez-me ver que tentar incutir na cabeça dos outros aquilo que nós cremos ser a verdade, é errado. Mas, se pudesse estar a sós com Karnal, gostaria imenso de lhe fazer umas perguntas. Vamos ver se consigo expor as minhas ideias. Karnal, em várias das suas exposições, apresenta passagens dos evangelhos, como se as mesmas tivessem sido verdades, não sei se para colocar nas mentes dos ouvintes a ideia de que aquilo de que fala é uma forma de regra social, se acredita mesmo na veracidade do facto. E isso confunde-me. Vamos, pois, tentar criar em pensamento, uma sala onde eu e Karnal estivéssemos juntos. Então eu teria uma pergunta para ele:

“Dr. Karnal, o senhor nas suas dissertações cita muitas vezes frases e actos de Jesus. E, nessas citações, dá a ideia que acredita na veracidade daquilo que foi dito. Sendo o Senhor, além de filósofo um historiador, de certeza sabe que está provado que o evangelho mais antigo, foi escrito 70 anos depois da pretensa data da morte de Jesus, e o último cerca de 100 anos depois. Também sabe que os mesmos não foram escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João, mas sim segundo estes. Portanto, estes homens, se por acaso seguiram Jesus, teriam na altura no mínimo 20 anos. Parece-me que pessoas com 90 anos ou mais não estariam em condições de relatar com exactidão tudo aquilo que está escrito em grego, por escribas que certamente ouviram estes relatos em aramaico, língua que se falaria nessa época na Palestina. Por outro lado, também certamente sabe que evangelhos houve muitos, mas canónicos só esses quatro, por serem os únicos que endeusavam Jesus. Como grande historiador que é e, também um excelente conhecedor da história das religiões, certamente se apercebeu da similitude da história de Jesus com outros deuses redentores, tais como Hórus, Mitra, Dionísio e mais alguns. Quer-me parecer, portanto, que tais escritos não passam de mitologias tais como a vida dos deuses, egípcios, gregos, romanos, etc… será assim?”

Não sei o que me responderia, mas certamente não me deixaria na ignorância.

Aproveito para recomendar que vão à Net ver e ouvir Leandro Karnal. Vale a pena.