terça-feira, 15 de agosto de 2017

O Fantasma



Vou tentar contar uma história, que já não é inédita, mas tentarei dizê-la por palavras minhas. Ineditismos não são fáceis de criar, mas adaptações não ficam mal a ninguém:
Mudei de casa, para outra já antiga que tinha um imenso corredor, ao fundo do qual era escuro como breu. Lá em casa, todos tinham medo de andar naquele corredor às escuras menos eu. Um dia aparece por ali um tipo que me diz: “Mudaste para esta casa? Olha que está assombrada, dizem que ao fundo do teu corredor anda por lá um fantasma”. Claro que desatei a rir, mas, pelo sim pelo não, fui pé ante pé, às escuras, até ao fundo do corredor, acendi a luz de repente e, népia! Fantasma nem vê-lo. Passados uns tempos, aparecem lá pela frente da casa uns tipos vestidos de branco dizendo-se os sacerdotes do fantasma, trazendo com eles uma série de escritos, dizendo que eram as ordens do fantasma, que eu tinha de fazer isto e aquilo, porque era ele quem mandava. Perguntei quem tinha escrito aquilo e foi-me respondido que tinham sido palavras do fantasma ditas a um deles, sacerdote eleito do mesmo e, se eu não cumprisse o fantasma zangava-se e faria os possíveis por me castigar. Pensei: estes gajos querem impor restrições e obrigações à minha vida. Claro que corri com eles.

Fui até casa, peguei num cacete e, com as luzes apagadas, ao fundo do corredor, desatei à cacetada para todos os lados. Acendi a luz de repente e, uma jarra partida, várias mossas na parede, uma mesa com perna quebrada, mas fantasma nada. Agora estou com um dilema: não consigo provar que o fantasma não está lá, mas não acredito que esteja pois o dito não se manifesta. Que acham que faça? Mando tudo às couves e deixo de pensar nisso ou construo um altar e passo a rezar ao fantasma?