quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Curiosidades sobre o estabelecimento do calendário Gregoriano


Sabem o que isto é?

 “Int(DifData("d";[Datanascimento];Data())/365,25)”.

Isto é uma instrução de VBA (visual basic for aplications) que é usada num campo que mostra a idade de qualquer individuo dentro de uma base de dados.
Int = nº inteiro; DifData = Diferença de datas; “d” = em dias; [Datanascimento] = A data de nascimento do indivíduo - Data() = Data actual (hoje); / = dividir; 365,25 = ano.

Então se o ano é de 365 dias porquê 365,25?

A resposta está aqui:


Pois é, os matemáticos não conseguiram arranjar um ano inteiro com o nº de dias que correspondesse exactamente ao período de translação da terra e, assim, arranjaram este esquema de anos bissextos de 4 em quatro anos e todos os que forem divisíveis por 400. Em 1582 o Gregório 13º, para acertar agulhas mandou tirar 10 dias ao mês de Outubro de 1582 pelo que o dia seguinte a 4 de Outubro passou a ser 15 de Outubro de modo a que o calendário acertasse com as estações do ano. Vários países não católicos, como os ortodoxos e os protestantes, só alguns anos mais tarde adoptaram o calendário Gregoriano (era de Cristo) e andaram a reger-se por calendários diferentes. A título de curiosidade, a Inglaterra só alterou o seu calendário em 1752 e a maioria dos ortodoxos só no início do século XX.
Segundo Umberto Eco no seu livro “O Pêndulo de Foucault”, foi devido a este desfasamento de calendários que os Templários não se reuniram nesse ano e nunca mais conseguiram encontrar-se. Os tipos tinham um plano para dominarem o mundo e na reunião seguinte combinavam a próxima assim como o local da mesma. Ora uma das reuniões calhava entre 4 e 15 de outubro e foi a confusão total. Nunca mais conseguiram combinar outra. Ainda bem, mas agora estando mais divididos em várias seitas, maçónicos, rosa cruzes, Opus Dei e quejandos, continuam a tomar conta disto tudo.
Vejam, portanto, o que os desgraçados dos informáticos têm que suar as estopinhas para arranjarem fórmulas que dêem exactamente a idade de cada um antes o dia do aniversário e depois do dito.
Façamos votos para que isto agora esteja bem calculado e não haja mais alterações ao calendário, não vá eu faltar a alguma almoçarada combinada com os amigos.
Hoje, último dia do ano deu-me para isto. E, no ano que entra amanhã, não combinem nada para 29 de Fevereiro, porque esse só vem em 2016.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Meus Amigos


Vou-me deixar de mensagens políticas ou que tenham algo a ver com política. Tive a minha quota-parte no 25 de Abril. Arrisquei a carreira e a liberdade em reuniões “conspiratórias” em Moçambique em Fev/Abr de 1974, junto com Gabriel Teixeira, Aniceto Afonso, Mário Tomé, só para citar os mais conhecidos. Depois do 16 de Março íamos perdendo a cabeça e isso só não aconteceu porque entretanto “sabíamos” que por cá os nossos camaradas estavam atentos. Esperámos e o 25 de Abril deu-se. Foi uma alegria imensa e rejubilei. O País ia mudar e os homens também. Esperei que se desse um salto enorme na qualidade da educação e nada se deu. Com a liberdade veio a ganância de quem nada tinha e tudo passou a querer. Vi como a partidarização das Forças Armadas dividiu os meus camaradas. Os militares em vez de um corpo único passaram a ser de esquerda e direita. Vi prisões e saneamentos em ambos os lados. Vi políticos a tudo fazerem para se assenhorearem do poder. Fiquei mais sossegado quando as coisas serenaram um pouco. Votei socialismo porque acreditei que era o sistema que se coadunava com a minha maneira de ser mas, cedo perdi as esperanças. Vi os partidos políticos a olharem apenas para o seu umbigo em detrimento dos interesses nacionais. Vi os políticos contra os que lhes deram a liberdade e os colocaram no poder. Todos os políticos se revelaram corruptos ou desonestos. Quando não corruptos foram desonestos, pois não tiveram coragem para colocarem o estado ao serviço dos portugueses antes se servindo do estado, engordando-o, para conseguirem as benesses para si e para os seus correlegionários. Os portugueses infelizmente vêem a política como o futebol. Os dos seus clubes nunca metem golos fora de jogo, nunca cometem penaltis e as faltas cometidas são festinhas comparadas com as dos adversários. Com o seu partido e com os políticos do mesmo, actuam da mesma forma. São óptimos, não corruptos e abnegados pelas causas nacionais. Os outros é que são os bandalhos.
Não me revejo neste regime e gostava de viver num que não tivesse partidos a governar. Gostaria de o regime fosse Presidencialista com governos tecnocráticos da sua responsabilidade e seria apenas o PR a responder perante os portugueses. Os partidos ficariam no parlamento a fazerem e votar leis que nascessem de baixo para cima e não elaboradas por gabinetes de advogados. Na constituição deveriam ser incluídos mecanismos para que o povo que elege possa também demitir caso o PR se afaste do programa eleitoral que apresentou aos portugueses. Não vejo aparecer nenhum movimento político que possa advogar esta alteração de regime e se algum dia isso acontecer já não estarei cá ou não terei forças para participar. Sou um pouco ingénuo na apreciação daquilo que se escreve e diz pois nunca vejo as más intenções subjacentes. Tenho amigos de várias tendências políticas e não me quero aborrecer com eles, portanto a política para mim acabou. Vou continuar a ler, escrever, contar anedotas, ir ao cinema, comer coisas boas e beber uns copos enquanto estes energúmenos me deixarem alguns tostões. Os meus AMIGOS que me desculpem se por acaso, na minha ingenuidade, alguma vez fui ao desencontro das suas convicções. Não foi com intenção, apenas retransmiti aquilo que por aqui aparece. Agora, nunca mais.


Abraços fraternos para todos.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O Meu Tio



O meu tio faleceu. Vai fazer-me falta. Mais novo onze anos que o meu pai e mais velho que eu apenas dezassete. Lembro-me dele desde sempre. Cursou a escola náutica e saiu radio-telegrafista da mercante. Recordo, eu muito pequeno, de o ver pela casa da minha avó, de telégrafo a pilhas na mão, infernizar-nos o juízo com os ti-ti-ti constantes dos pontos-traços que treinava constantemente. Especializou-se em radares e, mais tarde, ingressou nos quadros da SOPONATA chegando a 1º Telegrafista dos superpetroleiros que o levaram a todas as partes do mundo. Cedo começou a namorar uma rapariga linda e com ela casou. Era a minha tia mais bonita e muitas vezes a levei ao cinema fazendo um vistaço entre os meus amigos. Quando o meu tio andava no mar não tinha com quem sair e o sobrinho fazia-lhe companhia porque as filhas andavam a estudar. Nos meus tempos de Escola do Exército, hoje Academia Militar, andava sempre “liso” pois a mesada do pai era curta e acabava depressa. Lembro-me de alguns fins-de-semana, quando não ia a casa, não ter dinheiro para o almoço e telefonar à tia pendurando-me para o dito: “ Só se depois levares a tia à matiné” dizia ela. Claro que nem hesitava. Eram dois coelhos numa cajadada, almoço e cinema. Durante alguns anos não convivi com eles porque o meu tio aceitou um lugar em Santa Maria nos Açores. Depois a minha vida militar também me afastou mas, nos intervalos, nunca deixei de os visitar. Inclusivamente foi da casa deles que saí para o meu casamento, por ser em Lisboa e eu morar no Cacém.

Em julho passado o meu tio tinha feito noventa e cinco anos. Já andava com alguma dificuldade, mas mantinha uma lucidez invejável. O seu desgosto era já não ver o suficiente para continuar a mexer no computador. Digo mexer porque era o que fazia. Sabia tudo sobre sistemas operativos e tirava, punha, mudava, estragava, tornava a pôr, etc.. Enfim, baralhava e tornava a dar. O certo é que sabia muito e até me ensinou alguns pequenos truques. Mexeu naquilo até aí aos noventa e três e, como já esquecia muito, passávamos horas ao telefone para o fazer recordar das operações necessárias. Muitas vezes lá fui a casa, onde vivia com a segunda mulher pois divorciara-se da primeira que mais tarde faleceu, ajudá-lo a refazer sistemas operativos dos seus três computadores, que entretanto estragara por tanto meter e tirar. Neste último ano já vivia numa residencial de apoio. As minhas primas, excelentes filhas, davam-lhe toda a assistência, estando com ele todos os dias. Eu visitava-o também mas não com tanta frequência como gostaria. Estive lá poucos dias antes e ainda me esteve a demonstrar como operava a cadeira de rodas em que se deslocava para trajectos mais longos pelos corredores da instituição. Era o elemento mais antigo da família. Para mim era um segundo pai, ou irmão mais velho que não tive. A minha irmã, dezanove meses mais velha do que eu, está incapacitada e acamada. O decano da família faleceu e deixou-me a substituí-lo. Vamos ver se consigo seguir-lhe as pisadas. Os dois netos, grandes adeptos do “Surf”, vão espalhar as cinzas do avô pelo mar. É uma boa solução para um velho marinheiro. As ondas não o vão afastar da minha memória.