terça-feira, 18 de junho de 2019

Edmond


  

Pois é, mais uma vez fui ao cinema e a escolha recaiu num filme francês sobre o autor de Cyrano de Bergerac. Desde muito cedo tomei conhecimento com a história através de um filme de 1950, “made in USA”, (estava no Pilão e já me considerava um cinéfilo) com o actor Jose Ferrer célebre pelo seu papel no filme Moulin Rouge, e realizado por Michael Gordon. Gostei da história, mas só muito mais tarde me apercebi que o autor, Edmond Rostand, tinha feito a peça totalmente em verso. Revi esse filme nas Caldas da Rainha em 1958. Muito depois, voltei a ver o narigudo Cyrano de Bergerac desta vez estrelado pelo excelente actor francês Gerard Depardieu e realizado por Jean-Paul Rapeneaud e foi neste filme que me apercebi que as falas do mesmo são o poema completo de Rostand.
Por tudo isto resolvi-me a ver Rostand e não dei o tempo como perdido. Realizado por Alexis Michalik, a película é-nos apresentada como comédia ligeira, mas colocada de forma bastante séria.
Edmond Rostant (Thomas Solivérès) era um dramaturgo que só sabia escrever em verso e já tinha tido alguns sucessos, mas que se encontrava numa fase sem talento e já há dois anos que nada escrevia. Resolve então oferecer-se ao actor, muito conceituado, Benoît-Constant Coquelin (Olivier Gourmet) para uma nova peça, uma comédia heróica a ser entregue na época das festas. Só que tem um problema, é que ainda não a tinha escrito. Esta peça viria a ser o clássico Cyrano de Bergerac.
Assistimos então a uma autêntica maratona de ensaios de cenas sem que o próprio autor ainda não saiba como as vai continuar. Ao mesmo tempo que vai conhecendo os actores vai imaginando as cenas das personagens que interpretarão, e colocando as suas falas em verso.
Solicita que um seu amigo, actor com créditos em papéis de galã, interprete o papel de apaixonado pela personagem feminina, Roxane, de rara beleza, por quem Cyrano, seu primo, está completamente apaixonado, mas incapaz de se declarar devido à sua fealdade por ter um descomunal nariz.
Na vida real esse seu amigo está apaixonado pela actriz que interpreta o papel de Roxane, mas, tal como o personagem da peça, é totalmente incapaz de falar ou escrever algo de jeito à sua amada que aprecia as boas prosas. O nosso autor acaba por ajudar o amigo e ser ele a escrever as belas cartas que a actriz recebe pensando serem do seu amado. E assim, apoiado nas suas próprias palavras, se vai construindo, nessa mistura da realidade e ficção, a excelente peça dramática que apenas tem pouco menos de um mês para ser levada à cena. Edmond é casado e ama a sua mulher, mas a actriz, que mais tarde se apercebe ser ele o autor das cartas, acaba enamorada e indecisa.
A peça é um êxito contra todas as opiniões antes formuladas e a cena final de Cyrano de Bergerac é de um dramatismo total que deixa os espectadores em lágrimas.
Nas legendas finais são referidas as muitas vezes que a peça foi levada à cena em inúmeros palcos de todo o mundo, assim como todos os filmes realizados sobre o mesmo tema.
Valeu a pena.