sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Gostava de ter conhecido o meu Avô

 



Este senhor, filho de um padre, nasceu em 1879 e faleceu em Luanda em 1923 ainda não tinha feito 45 anos, tinha o meu pai 14. Licenciado em farmácia pela escola de medicina de Lisboa, cedo se aventurou em terras africanas abrindo 3 farmácias Lisboa, Luanda e Benguela. Naquele tempo era uma aventura viajar entre Luanda e Benguela e ele fazia-o com alguma regularidade. Casou com a minha Avó em 1903 e ela acompanhou-o muito fazendo viagens de navio a vapor entre Portugal e Angola, o que era também uma verdadeira aventura. Eu, que conheci África, calculo as dificuldades de ser farmacêutico responsável por farmácias tão dispersas. Muitas vezes os filhos ficaram em Lisboa ao cuidado de uma tia-avó do lado materno. Muito mais tarde vim a conhecer muito bem Angola e, por aquilo que encontrei, vejo agora que o meu Avô foi um pioneiro. Mas este homem não foi só um trabalhador atirado para a frente, foi também um grande sedutor e muito malandreco, parece que não havia corista do Parque Mayer que não o conhecesse. O Cabralinho dos olhos ternos era como o apelidavam as garotas da época. Quando casou já levou uma filha com ele que a minha Avó caridosamente aceitou. Foi ela Maria Emília, homenagem à sua mãe minha bisavó e mulher do padre António Freire Cabral meu bisavô com quem viveu até morrer. Essa minha tia Maria Emília casou muito cedo em Benguela. O marido faleceu 17 dias depois do casamento. Casou depois com Carlos Henrique Malta Galvão curiosamente irmão de Henrique Galvão. Este meu avô, do qual só ouvi relatos de episódios da sua vida, faleceu de cancro e foi sepultado em Luanda. Triste fim para um aventureiro. Chamava-se Abel Cabral Tello.


domingo, 5 de fevereiro de 2023

Os Espíritos de Inisherin

 

Fui ontem ver o filme com o título acima. Filmado em vários locais das ilhas à volta da Irlanda, o realizador Martin McDonagh, dramaturgo que já nos tinha dado outras excelentes películas, tal como In Bruges, criou a ilha fictícia de Inisherin, de paisagem agreste, com os seus muros de pedra sobre pedra, poucas casas, com um só pub e uma igreja onde dois amigos interrompem a sua grande amizade devido a depressão de um deles que resolveu dedicar-se apenas à música e ao seu violino, compondo várias melodias que interpreta no pub em conjunto com outros moradores. Só que o que se vê afastado, Pádraic (Colin Farrel), não compreende a atitude do seu amigo Colm (Brendan Gleeson) e tenta por todos os meios fazer com que o amigo, agora desavindo, se volte a aproximar e a reatar a amizade anterior, mas não o conseguindo a ponto do, agora músico adepto das artes, o acusar de bronco e fazer uma promessa de cortar um dedo sempre que houver uma tentativa do outro para uma aproximação. Com Pádraic, e sua irmã Siobhán, uma amiga da leitura e ela sim uma jovem com conhecimentos que desperta a paixão de um quase adolescente problemático, Dominic, abusado pelo pai gordo e alcoólico, convivem vários animais; um cavalo de tracção que puxa a carroça, meio de transporte dos irmãos, uma ou duas vacas leiteiras que produzem o leite fonte de receita dos dois e uma mini burra, a Jenny, animal de estimação que com eles convive como se de um cão se tratasse. Pádraic insiste em saber a razão do corte de amizade e Colm corta mesmo os dedos. Na história entram também um padre que não absolve Colm, um polícia que agride Pádraíc e uma velha conhecida como vidente e preconiza duas mortes breves e o dono do Pub que tenta deitar água na fervura sobre aquele estúpido diferendo. Colm lança os seus dedos cortados à porta de Pádraic, a burra tenta comer os dedos e morre. Pádraic fora de si diz ao seu ex-amigo que vai pegar fogo à sua casa e espera que ele esteja lá dentro e deixe de fora a sua cadela. Entretanto a sua irmã não aguentando tanta luta por nada, deixa a ilha e vai viver para a ilha grande. Pádraic cumpre a sua promessa e lança fogo à casa de Colm, levando a cadela consigo. Mas Colm sai a tempo e na praia acaba por agradecer a Pádraic por ter tomado conta da sua cadela, mas que continue fora da vida dele. Dominic acaba com a vida afogando-se.


Enfim, um drama com alguns laivos de comédia, que nos mostra como a solidão e a depressão causa nos homens reacções estranhas a ponto de se tomarem as atitudes mais irreflectidas. Excelentes interpretações com 4 nomeações para os Óscares, paisagens bucólicas, mas lindas e bons planos de filmagem com excelente fotografia. As falas são num inglês incompreensível, talvez num dialecto irlandês que desconheço. B
om filme. Recomendo