domingo, 30 de dezembro de 2018

A Carteira




Tenho uma parca bem quentinha com um forro bem peludo. Forro esse que é amovível através de um fecho zip. Mas o raio da parca tem um defeito. Para meter a carteira no bolso interior, tenho de primeiramente de a meter através de uma abertura do forro e só depois no bolso. Acontece que já várias vezes a carteira me caiu no chão. Ontem, era quase meia noite, vou guardar a carteira como todas as noites o faço, na gaveta da minha secretária e, que é dela? Vou à parca e nada. Procurei pela casa toda e nada. Calcei sapatos, vesti a famigerada parca, fui ao carro e nada. Fazendo a revisão do processo cheguei à conclusão que, depois de chegar com a mulher do almoço que fizéramos fora, tornei a sair dando uma volta e fui à Evian do Uruguai. Não o país da América do Sul, mas aqui a da avenida, bem mais perto, onde tomei um café. Lembrei-me também que a mulher me tinha pedido que passasse no Pingo Doce e comprasse uma salada daquelas já preparadas e lavadas. Pronto! Só pode ter sido quando paguei e voltei a meter a carteira no bolso. Por acaso até dormi bem, mas antes de adormecer pensava a trabalheira que iria ter para substituir toda a miríade de cartões que tinha e me atafulhavam a carteira. Hoje de manhã liguei para uma amiga, que vive na Austrália, através do vídeo pelo Messenger. Quase chorava ao contar-lhe o sucedido. Diz ela: “Vou fazer uma reza a Santo António e vais ver que a carteira te aparece”. É sabido que sou ateu. Não acredito nem em deuses nem em santos e ao Fernando de Bulhões não lhe reconheço dotes de taumaturgo, mas tenho por ele algum apreço pelo homem de letras e ciências que foi e até como meu camarada, pois foi Coronel do Exército Português. Hoje nem fui à piscina como costumo mesmo aos domingos. Eram oito e meia e estava no Pingo Doce. Aleluia! E não é que a carteira estava lá com dinheiro e tudo? Fui tomar café e, apesar de não ser homem de superstições, fiz logo um euro milhões para a semana toda. Temos de aproveitar as marés de sorte. Liguei para a minha amiga e pedi-lhe que agradecesse por mim ao santinho dado que vozes de ateus e de burros, não chegam aos céus…