quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

E Os Deuses Nasceram

Escrevi este texto há bastante tempo. Como tinha umas frases com alguma ironia sobre sexo, resolvi não o colocar aqui. Agora que o reli, acabei por lhe dar uma volta tornando aquelas frases um pouco mais leves, mas mantendo o seu contexto. Asim, aqui fica a minha versão do nascimento dos deuses na mente dos homens.



O Homem avançava depressa atravessando barrancos e ribeiras. Os pés agarravam-se a pedras e paus, estavam um pouco doridos e até também um pouco feridos mas nada que não se aguentasse.
Segurava um pau com a mão fechada e quase não sentia o peso da pedra que, na ponta, estava atada com uma tripa de cabra. O bicho donde a tripa saíra já se acabara há muito e era preciso encontrar algo para dar de comer á mulher e à sua cria que na caverna aguardavam.
Ventos fortíssimos dificultavam-lhe a marcha e chuva grossa toldava-lhe a vista. Trovões e relâmpagos ouviam-se e viam-se em redor.
A árvore na sua frente rasgou-se em duas quando o raio a atingiu. Algo esquisito e tremulinante saía da árvore. Quando se aproximou, com a mão tentou agarrar o que dela se desprendia. Sentiu enorme dor retirando-a imediatamente verificando que a mão ficara com uma cor completamente anormal. Olhou para o lado e viu um grande lagarto com um aspecto também diferente do que até aqui lhe fora dado ver. Do bicho saía algo que se desfazia no ar. Um cheiro esquisito e não identificado emanava do réptil. Reparou então que estava esfomeado e já há muito não comia. Acercou-se do lagarto e começou a roer-lhe uma pata. Soube-lhe bem. Da árvore soltavam-se bocados quentes que também tentou agarrar. Mais uma vez sentiu dor. Pegou numa folha larga e com a moca empurrou uns bocados da árvore para dentro dela. Colocou o que sobrava do lagarto e rumou à caverna.
Pelo caminho ia pensando que os que deviam viver acima dele eram muito mais poderosos pois enviavam cá para baixo coisas que não conhecia nem entendia. Agora algo aparecia que lhe podia ser útil. Aquela coisa bruxuleante e esquisita caíra em cima do animal e, além de o matar dava-lhe um sabor bem diferente daquele que tinha quando comido logo que os agarrava.
Chegou à caverna ainda com o que levava na folha, brilhante e quente. Juntou-lhe mais uns paus e palhas e aquilo logo cresceu. A mulher tentou meter a mão mas ele afastou-a com enorme encontrão mostrando-lhe a sua própria com aquela cor estranha. Disse-lhe para afastar a cria e repartiu o lagarto com eles. A sensação de gosto agradável logo se lhes fez notar. Riram-se e comeram até só ficar a espinha do bicho. A cria adormeceu. O homem deitou-se ao lado da fêmea e começou a sentir aquela vontade que lhe dava enorme gozo quando usava a mulher. Ela também admitia aquela actividade com prazer e nunca se recusava a tal (ainda se desconheciam as dores de cabeça).
Quando acordaram, do bocado da árvore que tinha vindo na folha já nada existia. Apenas um pó seco lá restava. Onde se tinha metido aquilo?
Aí o homem começou a pensar que os que lhe tinham atirado com coisa tão esquisita eram realmente poderosos. Pensou que de nada serviria desobedecer-lhes e que tinha que lhes pedir para enviarem mais. Aquilo tirava o frio e dava melhor sabor à carne dos bichos.
Pediu, pediu, mas nada veio. Só na próxima tempestade mais árvores foram atingidas. Afinal os lá de cima nem sempre atendiam os seus pedidos. Eram mesmo poderosos. Só o faziam quando lhes apetecia.
Verificou que aquele fogo se mantinha quando lhe juntava mais bocados de árvore e quanto mais secos melhor. Nunca mais o deixou apagar e industriou mulher e criança para o manterem sempre activo.
Os da caverna ao lado vieram ver e também aprenderam. O homem mostrou-lhes donde aquilo viera e porquê. Todos ficaram gratos aos que lá em cima estavam e começaram também a respeitá-los embora nunca os tivessem visto.
Nessa noite dormiram todos na mesma caverna em volta do fogo e todos se serviram das fêmeas grunhindo elas e eles do prazer que a actividade lhes dava. Só o puto não teve direito à festa, nem tentou usar nenhuma das fêmeas. O grande chefe queria tudo para ele.
O puto um dia viu que os bodes selvagens faziam o mesmo com as cabras. Vai daí toca de o fazer com uma que era mais mansa e se deixou agarrar. Foi aí que viu como realmente era bom. Quando apanhou a primeira fêmea, da outra caverna que ainda não tinha macho, agarrou-a e lá a convenceu. Berrou que se fartou mas depois foi-se habituando e para o fim já se encaracolava toda. Ficou com ela e preparou-se para que não mais lha roubassem. A cabrinha foi esquecida e fugiu com um bode novo.
Os lá de cima continuavam com imensa actividade mas sem se mostrarem nunca. Os homens pensaram que aqueles não queriam misturas. Eram superiores.
Um dia, a montanha em frente, deu enorme berro, abriu a boca e vomitou terra quente com o mesmo fogo que vinha do céu. Afinal, lá em baixo também havia poderosos. Ficaram os homens convencidos que os de baixo ainda eram mais poderosos, pois quando zangados o chão tremia e abria-se engolindo homens e animais que não mais regressavam. Esse fogo também foi aproveitado e era tão bom quanto o outro. Os homens começaram a ficar entediados com a falta de respeito que os superiores mostravam para com eles. Porque não apareciam?
Deviam ser semelhantes. Teriam de certeza a mesma forma. Mas, como poderosos que eram, deveriam ser maiores. Então fizeram dois enormes homens de duas grandes pedras e a eles começaram a dirigir os pedidos de mais fogo, menos chuva e menos tempestades. Ao que representava os de baixo puseram-lhe uns cornos e um rabo como se de um animal selvagem se tratasse. Como os estragos vindos de cima eram menores dos que vinham de baixo, acharam que seria mais conveniente adorarem mais os de cima. Os de baixo eram mais maldosos.
Como nada se modificasse reconheceram que os poderosos estavam aborrecidos com eles e começaram a oferecer-lhes coisas para os consolarem.
Os presentes, como cabritos e comida diversa, eram colocados junto dos homens de pedra e o certo era que na manhã seguinte nada lá restava.
Ao grande homem de pedra lá de baixo chamaram-lhe Satan, Satanás, Fera, Grande besta e mais tarde Diabo. Ao de cima deram vários nomes; Entre eles: Mulloch, Mitra, Krishna, Belphegor, Osíris, Ísis, Hórus, Zeus, Jeovah, Júpiter, Apolo, Baco, e muitos, muitos outros… mais tarde chamaram-lhe também Jesus.