sexta-feira, 27 de março de 2015

Computadores, deuses e aviões


Gaita p’ra isto! Faço um código para que, com um simples clique consiga modificar 3 campos e só dois alteram. Depois fecho o formulário e volto a abrir e o terceiro campo alterou. Porque não alterou logo? Se os três campos estão configurados do mesmo modo e o código é feito para todos de igual forma, não percebo como isto acontece. Já dei dez voltas ao programa e não descubro nada. Começo a pensar que os computadores nos estão a dar a volta. Estão a ter mais poder que os deuses…
….
-- Querido. Foi tão bom que Deus nos tivesse dado esta oportunidade. Com o que ganhaste fizemos a viagem que sempre desejámos. Barcelona é uma cidade linda. Pena foi que tivéssemos de trazer o bebé. Repara como dorme e nem se incomoda com o ruído do avião. Daqui a poucas horas estamos em casa e ele nem deu por nada.
-- Professor. Ainda bem que a escola nos deu esta oportunidade de termos ido a Barcelona. Dou graças a Deus por este passeio junto com os meus amigos e professores. Para o ano, se Deus quiser, havemos de fazer outra viagem…
Mas deus não estava lá. Certamente o avião estava cheio e não comportava mais ninguém, mesmo divino. Nas suas conjecturas e pensamentos os passageiros não repararam que a aeronave perdia altitude. Um ou outro mais atento pensou que iriam aterrar. Já? Terá perguntado um ou outro…
Um ruído esquisito e um abanão preocupou alguns mas apenas durante poucos segundos. Depois, escuridão total…
Que se passará na cabeça de um tipo para atirar para a morte 149 pessoas? Se não estava bem psiquicamente, o departamento médico da companhia deveria ter detectado esses indícios, não? Se a electrónica está tão avançada, porque é que um plano de voo pode ser alterado por uma única pessoa?
Volto aos computadores. Terá sido o computador de bordo que se chateou? No filme de Kubrick foi.
Não tenho respostas, mas continuo na minha. Não há deuses que nos valham…


quinta-feira, 5 de março de 2015

A Consulta



Garrafa de água na mão ia beberricando e dando umas voltas no átrio do hospital junto à porta da fluxometria, raios partam isto, às vezes ando para aí aflito, agora que já bebi um litro de água não me apetece despejar. Olho à minha volta, vejo velhos, naturalmente serão mais novos, parecem-me mais velhos, fazem um “trottoir”, uns de garrafa outros de coca-cola, todos esperando pela vontade, estou mesmo a ver que a vontade virá para todos ao mesmo tempo, dou mais uns golos, parece que agora já estará na altura. Bato à porta já a fazer um perfeito “piaffe” qual um cavalo de alta escola, aparece um tipo dizendo agora não pode ser, desinfectámos o aparelho e temos de esperar um quarto de hora. Bolas para tudo isto, agora vou ter de ir à casa de banho, vou ter de começar tudo de novo. Alivio, ai que bom, mas agora como faço, o médico já me chamou e não quero perder a consulta. Raio de coisa, isto da próstata foi um erro divino, quem se lembraria de colocar uma coisa que cresce e enrija à volta da uretra, bolas para a anatomia. Bem, tenho 15 minutos, a funcionária, já conhecida de sessões anteriores, diz-me Sr. Coronel basta beber mais meio litro de água e esperar mais um pouco. Há entretanto outro que me diz para ir beber uma coca que o efeito é mais rápido. Coca-cola? Não gosto dessa porcaria, sabe a goma-arábica, é como lamber um selo. Lá terá de ser, vou até ao bar e peço uma coisa dessas e lá venho chupando aquilo pela palhinha. Não sei se foi da cola se da sugestão, o certo é que deu resultado, já estou outra vez aflito, chego e bato à porta, espere que está um a sair, lá vou outra vez entrar em “piaffe”, lá me aguentei, o tipo saiu, cheguei-me ao funil como se visse um “penico” dourado para meu alívio. Exame feito vou direito ao gabinete médico, olho, então que é isto? Onde se meteu ele? Parece que foi tomar café, coitado, também tem direito, está ali há horas a aturar velhos prostáticos, o certo é que o próprio lá chegará e será paciente também e aí ele vai ver. Agora já dá para esperar, sento-me pego no livro que tinha levado para aproveitar o tempo, leio com um olho e atiro o outro para o corredor onde o médico terá de passar, tenho de o apanhar mesmo na passagem. Começo a ler, esqueci-me do outro olho, ganhei interesse na leitura, olho para a porta e já estava fechada. Gaita, deixei-o passar e já entrou outro. Lá terei de esperar mais. Aparece um voluntário, pergunta-me se quero café, leite ou bolachinhas. Digo-lhe, para mim um “gin” tónico. Vá lá que achou graça e riu-se. Volto a ironizar, não me diga que não tem! Voltou a rir e brincou comigo, acabámos na conversa. Tinha andado pela guerra como miliciano e estivemos nos mesmos lugares. Por fim chegou a minha vez. Exames vistos está tudo mais ou menos, mas há aqui um valor que aumentou, não muito mas temos que ver, vai fazer uma eco transrectal e volta dentro de três meses. Pelo menos já fiquei mais satisfeito pois não vai ser necessária outra uro-fluxometria. Pelo menos desta já me livrei. Veremos o que se seguirá. A velhice é uma chatice. Para a próxima, em vez da garrafa de água, levo-a cheia de urina e despejo-a no funil. O médico até vai ficar espantado com a minha “performance”. Podem crer!