sábado, 14 de dezembro de 2019

Joker

Porraaaaaaa!!!!!

É só o que me apetece dizer depois que saí do cinema. Já me tinham dito que o filme era bom, mas ao associar o título ao personagem patético e meio estúpido do psicopata inimigo do Batman, não me puxava para uma ida ao cinema.
Após uma ou outra crítica rápida de amigos que viram o filme, lá me despertou o interesse e, fui.
Excedeu tudo o que imaginava. Excelente argumento, excelente interpretação e excelente final.
O filme retrata uma América dividida em duas sociedades completamente distanciadas entre si. Uma rica, opulenta e política, absolutamente alheada de uma outra de miséria moral pobre em todos os sentidos, mas sem ser totalmente miserabilista, que tenta sobreviver num mundo quase de caos, mas com vontade de sobressair através de acções, sejam elas, do mundo do espectáculo ou do crime.
Um homem solteiro, que vive com a mãe enferma a quem presta assistência, sofre de uma doença que lhe provoca risos descontrolados em situações nada condicentes com essa manifestação e, que se veste e caracteriza de palhaço (joker), de forma muito semelhante ao inimigo do Batman, tentando viver da arte de comediante, mas para a qual não tem ponta de talento. Frequenta um hospital, onde uma psiquiatra o vai tratando, mais através de medicação do que propriamente por psicanálise.
O seu riso descontrolado, provoca nos outros reacções de surpresa que muitas vezes acabam em gozação e violência, levando-o a ripostar assassinando os seus detractores.
Mas, o pior da questão, é que são os pobres e desalentados como ele, que lhe colocam na mão a arma com que o nosso Joker assassina os que o ridicularizam e até os (ricos) que ele julga serem os culpados da situação em que se encontra.
O mau SNS americano acaba por lhe retirar o apoio e nem os medicamentos consegue obter.
E assim, um homem que tenta fazer rir os outros e inserir-se dentro de uma normalidade de vida, acaba tornando-se um assassino.
Não vou aqui contar o filme. Vejam-no e apreciem-no e, só vos digo que o final é de… morte.
Uma interpretação excepcional do actor, até aqui desconhecido para mim, Joaquin Phoenix. Um pequeno papel de Robert de Niro, sempre igual a si próprio e um lote de excelentes actores secundários.
Um retrato de uma América triste, inculta e feia. Saí perturbado, amarfanhado, mas satisfeito e mais culto.

Vão ao cinema.






domingo, 1 de dezembro de 2019

Bolos na montra.



Hoje, à porta da pastelaria onde tomo o meu café matinal, reparei em dois miúdos, mal vestidos, cara suja, um pouco ranhosos, olhando com olhar embevecido, os bolos artísticos que estavam na montra. Sorriam face aos bonecos que os bolos figuravam, mas via-se que o que gostariam mesmo era dar umas boas mordidelas naquelas guloseimas que ali viam.
Olhei depois para o interior e acabei por fazer comparações com aquela gente que se acotovelava para comprarem os bolos rei e ao mesmo tempo tomarem o pequeno almoço. E o pior é que a maioria eram pessoas que já conheço dali, por lá tomarem o pequeno almoço diariamente. Acho que estes não são ricos, mas gastam todos os dias 6 ou mais euros num pequeno almoço que, tomado em casa ficaria por 2 ou menos. São estes os cidadãos que normalmente dizem mal dos nossos governantes apontando-lhes todos os defeitos e acusando-os todos os males que os afligem, apontando a desgraça em que está o nosso SNS, mas que nunca puseram o cu num hospital civil porque pagam um seguro de saúde e vão aos privados.
“Vejam lá que a minha vizinha debaixo, esta noite teve uma dor, uma tremenda cólica, foi ao hospital e esteve lá 8 horas e, ao fim, veio de lá apenas com uma receita. Chegou a casa com uma tremenda diarreia, não dormiu toda a noite e só de manhã é que lhe passou.”
Claro! Passou-lhe porque tomou o medicamento e só então se lembrou que tinha comido uns restos do frigorífico, que já lá tinha há uns dias, e que realmente não estavam com grande aspecto. Se tivesse ido ao Centro de Saúde ou tivesse ligado para o SOS 24, tinha resolvido o problema e não tinha ido atravancar as urgências hospitalares.
E com tudo isto começo a pensar que bom seria vivermos num país onde todos pudessem usufruir de um rendimento que os tirasse da pobreza e, ao mesmo tempo, ter um governo que não permitisse rendimentos acima de um máximo estabelecido.
Tu és é comunista, dizem os meus amigos que vivem com rendimentos acima da média. Eu pergunto-lhes: “Olhem lá, mas isto não é social democracia?”
Quero lá saber o que é. Só sei que a pobreza, está mais nos países do sul que do norte, nos dos cristãos católicos que dos outros e que, no fim, o que se verifica é uma grande diferença de educação e cultura.
E com tudo isto sinto-me impotente para mudar as coisas. Vou fazer como os outros. Vou culpar o governo. Eles é que são maus.
Acabei por sair dali e só depois, já em casa, é que me lembrei que devia ter comprado um bolo aos putos. Mas para quê? Talvez lhes fizesse pior. Ao menos assim não ficam com o sabor na boca e frustrados por não poderem comer um bolo todos os dias.
Mas estamos no Natal. Que bom!