sábado, 15 de fevereiro de 2020

O Farol



(The Lighthouse)

Como quase que habitualmente, ontem 6ª feira, procurei um filme para ver. Nos meus cinemas habituais não encontrei nada que me agradasse dado que os bons já estavam todos vistos e os restantes não me pareceram nada de especial. Estava quase a desistir quando dei com uma estreia, no Espaço Nimas. O Farol pareceu-me um filme dentro de uma cinematografia que aprecio. Não conhecia o realizador, Robert Eggers e fui ler algo sobre o mesmo. William Dafoe e Robert Pattinson são actores já de mim conhecidos. E lá fui.
Digo-vos que aquilo é de sair de lá completamente com os neurónios em franja. Comecei por ter de chegar cedo para garantir bilhetes e deixar o carro no parque do Arco do Cego e ter de ir a pé até ao cinema onde já tinha deixado a minha mulher. Já estava meio furibundo quando me sentei.
O começo do filme deixou-me ainda mais radioso, como diria o Compadre Alentejano. A preto e branco, numa tela quadrada tipo Tv do início do século passado e com as legendas em baixo num rectângulo à parte da cena, com letras pequenas, fazendo lembrar a filmografia do russo Eisenstein.
O filme é duro, cruel até, onde dois homens sós vivem em isolamento total numa ilha inóspita, em instalações degradadas, totalmente imundas. O enquadramento é o mar com a sua beleza agreste e violenta e os animais, gaivotas, com um importante papel na história.
No início a vida é quase silenciosa com apenas monossílabos trocados entre eles. À medida que o filme vai adiantando, os diálogos tornam-se violentos e maliciosos e entre os homens vai-se criando um ambiente de violência, mas ao mesmo tempo de algum sentido erótico, nunca se sabendo se vão acabar por se matar um ao outro ou a fazerem sexo entre eles. O álcool é o único refúgio e os diálogos vão-se exacerbando atingindo rapidamente pontos de loucura. As tempestades são assustadoras e as situações, já de si degradantes ainda se tornam tão duras que, as condições inaceitáveis se apresentam totalmente péssimas. No seguimento do filme há cenas tais, que se mistura a realidade com a alucinação e o ambiente alterna entre o real e o imaginário chegando a incluir uma cena de sexo com uma sereia. O espectador está sempre à espera de um final terrível e ele acaba por acontecer e é magistral. A minha mulher disse-me ao ouvido: “quando sair daqui quero ir ver a Cinderela”.
Já no bar, a jantar tardiamente, a conversa sobre o que acabáramos de ver deu pano para mangas.
Achei algum exagero a cultura literária e o conteúdo dos diálogos demasiado eruditos para homens com aquela profissão, mas …
A banda sonora, com os sons dissonantes do engenho e o ronco da sirene do farol, torna ainda mais pesado e tétrico todo o ambiente.
Amachucante. Um filme terrível.