segunda-feira, 3 de maio de 2021

 

Nomadland (Sobreviver na América)

Depois de tanto recolhimento obrigatório, lá consegui ir ao cinema.

O filme é realizado por uma chinesa de 39 anos, já com algumas realizações na América, baseado num livro de várias estórias de Jessica Bruder, mas esta imaginada e trabalhada pela própria realizadora e produzida por ela e pela actriz principal Frances MacDormand, que já nos tinha dado magníficas interpretações como no excelente filme 3 Cartazes à Beira da Estrada.

Numa cidade do Nevada completamente baseada numa importante empresa, que se desmorona e cessa a actividade, uma trabalhadora Fern (Frances MacDormand) apanhada de surpresa como tantas outras, fica desempregada e opta pela reforma antecipada. Depois da morte, por cancro, do seu companheiro, não conseguindo continuar a viver ali, deixa a sua casa desfazendo-se de quase todos os seus haveres e, ficando apenas com uma velha carrinha que transforma numa pequena autocaravana, deita-se à estrada e passa viver como nómada parando nos diversos parques de caravanas, onde outros nómadas como ela, vivem em pequenas comunidades com os seus líderes, uns de carácter religioso, outros mais filosóficos como condutores de gente sem rumo. Nos entrementes vai empregando-se na gigante Amazon de comércio electrónico.

Quem for à espera de um filme altamente dramático com grandes e histriónicas cenas, sai de lá altamente frustrado pois, apesar de um drama, tudo se passa num ambiente sereno e calmo em que a arte dramática da actriz se revela nas suas expressões faciais.

O filme retracta uma América triste, centrada nas suas grandes empresas empregadoras de milhares de americanos, mas que os descartam assim que as coisas descambam. Vêem-se, pois, estes empregados a braços com o desemprego e com as pequenas reformas que mal lhes dão para viver.

Uma excelente fotografia, uma realização serena e calma, uma excepcional actriz, numas paisagens frias e inóspitas dos grandes desertos americanos, em que a linha das estradas é o único sinal de civilização. Fern, a nossa personagem, é bem acolhida por todos. Inclusive, passa por casa da sua irmã, uma burguesa abastada e bem casada, que a convida a viver com eles dado que tem uma bela casa. Fern permanece uns dias, mas não consegue. Uma noite regressa á sua carrinha e volta á estrada. Fern não se considera uma sem abrigo, apenas uma sem casa.

Um filme que vale a pena, mas em que tantos óscares me parecem um pouco descabidos.