domingo, 10 de novembro de 2019

Parasitas




Se me tivessem convidado para ir ver um filme coreano, certamente diria que não, mas as linhas tortas aparecem, não direitas, como Deus escreve, mas apenas por coincidências que nos parecem estranhas, que não passam realmente de acasos. Era para vermos o filme do Woody Allen e estava esgotado. A rapariga da bilheteira convenceu a minha mulher a comprar bilhetes para o tal filme, que era muito bom, que seria considerado o melhor filme do ano, muito premiado, etc., etc. E lá acabei sentado à espera de uma grande seca. O filme é estranho, mas acaba por mostrar algo que é comum em todos os países do mundo. Pobres a quererem ser ricos e ricos a viverem vidas fúteis. Com esta dicotomia, o realizador constrói situações que alternam entre comédia, drama e tragédia.
Uma família pobre, vivendo numa casa miserável dum bairro paupérrimo tipo degradado, cheio de bicharada que a edilidade tenta destruir com pulverizações que quase matam os habitantes e deixam tudo na mesma. Esta família, para que o produto entre na habitação, deixa propositadamente uma janela aberta. Entretanto, o filho do casal consegue por intermédio de um amigo, dar explicações de inglês à filha de um casal muito rico que vive num bairro chiquérrimo numa casa estupidamente moderna, onde tudo tem linhas rectas, vidros enormes, móveis claros e aparelhos moderníssimos. O rapaz, uma vez que a irmã e os pais estavam desempregados, consegue que a irmã vá ensinar e tratar psicologicamente o filho mais novo dos ricos, um miúdo híper activo que tenta viver como os índios americanos e atira setas para todos os lados. A irmã, por sua vez, consegue que despeçam o motorista e acaba por empregar o pai. Tramam também a governanta que também é despedida e assim arranjam emprego para a mãe. Claro que fingem não se conhecer, mas dizendo que as referências vêm através de amigos e são as melhores possíveis. Para complicar as coisas a rapariga rica apaixona-se pelo seu explicador. A família vai acampar três dias com o miúdo e os pobres aproveitam e fazem um festim enorme comendo e bebendo do bom e do melhor em grande regabofe. Batem à porta e aparece a antiga governanta que, a propósito de que deixou algo na cave, entra e vai à dita, tipo bunker, que foi construído para se defenderem dos mísseis da Coreia do Norte, e que está permanente fechada porque o rapazito tinha visto um fantasma que, dizia, vivia lá em baixo. O fantasma não é mais que o marido da antiga governanta que há quatro anos lá vive a comer e a beber. As coisas complicam-se, os pobres descobrem, acabam todos à pancada, a antiga empregada cai pela escada abaixo ficando desmaiada e o marido acaba por morrer e é levado e enterrado num ermo.
Cai uma grande chuvada, uma tempestade valente, os ricos regressam e os pobres lá conseguem esconder e arrumar tudo de forma a que não dão por nada. Voltam á casa deles, mas a janela aberta provocara uma inundação e se pouco tinham nada ficou. Voltam aos seus empregos e, depois da tempestade vem a bonança. No jardim decorre uma festa de aniversário. De repente, vinda do interior da casa, irrompe a que se pensava morta, com um cutelo na mão e tudo aquilo acaba numa mortandade e um banho de sangue. O resto só indo ver o filme.
O realizador consegue realmente mostrar as diferenças entre ricos e pobres, em que os pobres até são mais cultos e instruídos e, os ricos se o são não o mostram dada a futilidade em que vivem. Não passa de uma trágico-comédia, que nos faz rir e ao mesmo tempo nos arrepia.
 Bem filmado, com bons movimentos de câmara, mas que nos deixa cabisbaixos e de boca amarga.
Enfim, suporta-se, mas penso que não será aquele êxito que preconizam.