terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O Futebol


Deve haver poucos homens que não gostem de futebol. Muitas mulheres também gostam, mas em menor número. Um bom joguinho visto na TV, no remanso do sofá, com uma bebida ao lado, é descansativo. Então se o clube da nossa preferência jogar bem e ganhar, muito melhor. Disse jogar bem e ganhar pois são coisas diferentes. Às vezes joga-se mal e ganha-se outras joga-se bem e perde-se. São as contingências do jogo com os seus imponderáveis. Outras vezes o árbitro julga mal um lance e lá vai o resultado para o “bé-lé-léu”. O pior de tudo isto são depois os comentários e os julgamentos. Dirigentes perdem as estribeiras e dizem cobras e lagartos na TV. Adeptos, principalmente das malfadadas claques, levam para os recintos desportivos todas as tensões acumuladas durante a semana pelas contrariedades sofridas e extravasam, normalmente com agressividade, todo o seu amargo de boca pelas derrotas que não “engoliram” por o seu clube ser sempre o melhor e nunca merecer perder. Pior ainda são os dirigentes que depois atacam o clube contrário esquecendo-se das atrocidades dos do seu próprio. Mas muito pior do que tudo é ver amigos, com obrigação de discutirem com acerto as suas divergências, pela sua condição de homens com cultura acima da média, com profissões, actuais ou passadas, já evoluídas, discutirem de tal maneira acaloradamente defendendo os seus clubes contra tudo e contra todos, de forma tão efusiva, que roça as raias da violência. Vejo no facebook diálogos tão estupidamente idiotas, que me dá vontade, de pegar num látego e zurzi-los até ficarem com os “assentos” em brasa. Assim, mesmo que quisessem, já não poderiam sentar-se a ver a bola. Parece mesmo impossível, não há pachorra para tanta estupidez. Defendem mais os dirigentes dos seus clubes do que naturalmente defenderiam os seus parentes directos. Os árbitros são todos uns corruptos mas, só corrompidos pelos clubes dos outros. Os jogadores dos seus clubes são uns santos e os dos outros uns demónios à solta pelos estádios. Não há mesmo pachorra.
Já agora, também uma palavrinha para aquele triste espectáculo de ver jogadores ao entrarem no campo, benzerem-se ou erguerem as mãos para o céu a pedirem as bênçãos dos seus deuses, para que tudo lhes corra bem, para que ganhem, para que não se lesionem, etc., esquecendo-se que para eles ganharem os outros têm de perder e que os adversários também podem lesionar-se, mas aí já não faz mal, é menos um no próximo jogo, mas os deuses deles são os mesmos… Esquecem-se também, que os deuses não jogam futebol e se estão nas tintas.

Que tristeza. Ah! Já agora… VIVA O BENFICA. Eh! Eh! Eh!

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Casa dos Segredos


Parece-me inconcebível como uma estação de TV consegue produzir e transmitir durante meses um programa como a casa dos segredos. Aquilo não é um programa de televisão, aquilo é um atentado à paciência de qualquer pessoa com dois dedos de testa. Mas o certo é que tem audiência e eu mato a cabeça a pensar que tipo de pessoas perde tempo a ver tal coisa. Deve ser o espírito voyeurista do povão. Falo nisto porque no facebook, o humorista Nilton resolveu colocar um vídeo sobre um teste cultural feito nessa aberração de programa. Os concorrentes vão entrando um a um numa espécie de cabine telefónica onde, uma voz “off” lhes coloca algumas perguntas. A uma loira sofisticada com aspecto de “stripper” da dança do varão de um bar rasca, a tal voz coloca-lhe a seguinte pergunta: “ Qual é a capital da Geórgia?” E, vai daí, aquela cabecinha oca responde: “Hamburgo”. Caramba! Isto não se faz a ninguém, perguntar uma coisa destas a um ser daqueles. Claro que a pequerrucha deve pensar que em Hamburgo nasceram os hamburgers e que os ditos só podiam ser originários da Geórgia. Realmente Tiblissi não é propriamente uma das cidades mais conhecidas e haverá certamente muito erudito que talvez também não conseguisse responder. Agora, Hamburgo?!?! A senhora Merkel que provavelmente passará algum tempo do seu merecido descanso a ver o “excelente” programa da TVI, deve ter dado um salto de corça, bem… talvez mais de fêmea do alce. Ainda se a pequena tivesse visto o filme “E Tudo o Vento Levou” podia ter respondido Atlanta, sempre fica na Geórgia, estado americano (USA) é certo, mas sempre tinha dito qualquer coisa não muito cavalar. E daí talvez até nem fosse capaz de ligar Atlanta ao filme, pois do mesmo só deve lembrar-se do Rhet Butler (Clarck Gable) a levar a Scarlett O´Hara (Vivian Leigh) escadas acima, até ao quarto, para lhe dar… para lhe dar… bem, não sei, deve ter-lhe dado alguma coisa boa porque ela acorda feliz no dia seguinte. Essa cena ela devia ter fixado, agora que a guerra civil andou lá por Atlanta, aí já não sei se aquela cabecita teria fixado tal local.
Mas não ficou por aí, porque a tal voz em “off” faz-lhe segunda pergunta: “Qual é o maior continente?” Aí aquela linda boca bem pintada, abriu-se em enorme sorriso e responde sem hesitar: “Os Açores!”. Não sei se pela resposta se pela cara aparvalhada do Nilton, acabei rindo a bandeiras despregadas. E a voz pergunta: “Os Açores? Porquê?” E a nossa bela concorrente, senhora do seu nariz e quase ofendida por colocarem em dúvida os seus conhecimentos culturais, responde já em tom agastado: “Está-se mesmo a ver. O Continente é só um e os Açores são sete”. Sete? Ainda se fossem 9, teria acertado no número de ilhas. A rapariga saberá o que é um continente? Qual será o nível de instrução desta gente? Pobre país que tais filhos tem.

Por um lado, este bocadinho, até me foi benéfico porque me deu para rir que nem um perdido, mas por outro fiquei triste por tanta ignorância. Porque não respondem “não sei”? Ficava-lhes menos mal e não se davam ao ridículo. Se os concorrentes fossem evoluídos a estação não os seleccionaria. O que eles querem é mesmo incultura e javardice. Dá mais audiências. O povo é que assim não aprende nada…