quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Crítica à Conferência proferida pelo Doutor Valentino Viegas na Casa de Goa em Lisboa


A Minha Crítica à Conferência proferida pelo Doutor Valentino Viegas na Casa de Goa em Lisboa.

Conferência subordinada ao tema:

 GOA – Salazar versus Marquês de Pombal

Quem, como eu, aprendeu história no tempo do “botas”,  teve que apanhar com aqueles livros do situacionista António G. Matoso, cuja historiografia era quase como uma ode a Camões na sua obra Os Lusíadas, acaba por exultar com a forma como Valentino Viegas vê e compreende a historia. Com o Matoso tudo era cor de rosa e os feitos dos portugueses eram cantados como se de um louvor permanente se tratasse. Salazar adoptou-o como historiador oficial do ensino e ai de quem estudasse por outras fontes.
Valentino Viegas, na sua alocação, faz uma comparação de como os povos das nossas possessões eram tratados e considerados pela legislação régia do tempo do Marquês de Pombal e como esses mesmos povos passaram a ser tratados e considerados após o acto colonial de António de Oliveira Salazar.
Valentino começa por referir que até o nosso 1º rei após conquistar Lisboa (1147), para impedir o despovoamento e necessitando de fixar mão de obra, comércio e até pela necessidade da cobrança de impostos, concede foral aos mouros por uma carta de segurança:

 garantindo-lhes a liberdade religiosa e conservação de propriedade mediante o pagamento de impostos e cumprimento de obrigações. Protegidos pelo rei, foi-lhes assegurado que nenhum cristão ou judeu os poderia lesar e que seriam julgados pelo alcaide eleito por eles próprios”.

É seguidamente apontada por Valentino a forma como O Marquês de Pombal, após livrar-se dos seus opositores, Távoras e Jesuítas, decide, em nome do rei, tornar os cidadãos originais de Goa, absolutamente iguais em direitos e deveres aos cidadãos provenientes de Portugal.
Muito mais tarde, Oliveira Salazar, através do seu acto colonial, vira tudo do avesso e trata esses mesmos cidadãos como indivíduos de segunda preterindo-os em relação aos oriundos do Continente.
Nesta pequena crítica, não me cabe transcrever o que, Valentino trata tão pormenorizadamente. Apenas me interessa focar a forma como antes éramos informados dos factos da nossa história. Ficámos sempre com uma ideia cor de rosa de que Portugal era igual e uno do Minho a Timor, mas muito mal informados estávamos das condições a que os povos das nossas colónias, mais tarde promovidas a Províncias Ultramarinas, eram tão ignobilmente tratados.
A conferência de Valentino Viegas encheu a casa de Goa, certamente uma consequência do interesse que o tema despertou. Após os aplausos merecidos, seguiu-se o debate, em que muitos enalteceram a forma como o tema foi exposto, mas houve também alguns discordantes que, certamente palas suas convicções religiosas e pela quase veneração que nutriam por Salazar, referiram que não foi bem assim, que o acto colonial tinha sido geral para todas as províncias, que em algumas os povos ainda estariam num atraso cultural muito diferente do que sucedia em Goa e que não seria normal tratar uns de forma diferente dos outros.
Passei por inúmeras PU, inclusive Goa, e vi bem qual o “estatuto” a que os naturais estavam sujeitos.

Ao professor Doutor Valentino Viegas, agradeço a excelente lição de algo que, pela forma tendenciosa como a história nos era ensinada, nunca viríamos a saber.

Bem hajas Valentino. É excelente ser teu Amigo.