terça-feira, 10 de maio de 2022

Fátima


Aproxima-se o 13 de Maio. Ainda não há tordos, mas em 1917, por cima das azinheiras, já saltitava a mãe de Jesus. Ali, na Cova de Iria, a progenitora do filho de deus, resolveu aparecer para falar aos portugueses. E quem escolheu ela? Três criancinhas, pastoras de cabras e ovelhas que por ali circulavam. Podia ter escolhido a faculdade de Coimbra, aí era muito mais compreendida, mas não, escolheu apenas três criancinhas, praticamente analfabetas cujos horizontes não eram maiores do que dois ou três quilómetros à volta da aldeia. Como interlocutora escolheu a Lúcia, talvez por ser a mais velha, tinha 13 anos e ainda andava na primeira classe por ser totalmente dislexia e ainda não saber ler nem escrever. Os pais lutavam contra a mitonímia da criança, as histórias que inventava e dizia serem verdadeiras deixavam todos com os cabelos em pé. Mas a santa mãe encheu-a de graça e contou-lhe coisas mirabolantes que ela mais tarde recordou “ipsis verbis”. A conversão da Rússia, o regresso dos soldados portugueses da guerra, o atentado a João Paulo II, etc…etc.. Os outros, Jacinta e Francisco, quietos e espantados devem ter ficado ao ver a amiga a falar sozinha para as árvores, mas como a dita tinha a mão leve e mandava, nem se atreveram a interferir. Coitados, morreram no convento apanhados pela pneumónica. Hoje são santinhos.

Não sei quem contou a história, mas o Bispo de Leiria e o Padre da Cova de Iria, aproveitaram a cena. Porque não? França já tinha a sua Lourdes, a República sonegava bens à igreja, os crentes andavam afastados, os sovietes mandavam na Rússia e atacavam a igreja, o comunismo expandia-se. Era só dourarem um bocado a pílula e o resto seria convencerem os crentes. Se melhor pensaram melhor fizeram, meteram os putos em clausura, separaram a mentirosa da Lúcia e catequizaram-na para continuar com as mentiras E até meteram uma cunha ao sol para dar umas cambalhotas. O povo, miserável, esfomeado, rezava para que os seus filhos voltassem da guerra, caíram que nem moscas naquele prato de mel. Correram em massa para o azinhal, olharam para o céu e os seus olhos, rasos de lágrimas, viram o sol às voltas. Os padres, que nunca mais deixaram a Lúcia à solta, disseram que a menina sabia que a santa mãe voltaria mais 3 vezes. Acho que voltou, mas ninguém a viu. Mas o negócio estava montado e florescente.

Os jornais pediram uma entrevista à mentirosa e perguntaram-lhe: “Quem viste tu?” Reposta. “Eu vi uma senhora, toda de branco, com um manto bordado e um rosário nas mãos postas (tal e qual a figura da santa da igreja local)”. Fizeram-lhe outra pergunta: “Perguntaste quem era?” Lúcia afirmou: “Sim, ela disse-me que era a Senhora do Rosário”

Ora, segundo as escrituras, a mãe de Jesus seria uma judia pobre vestida de tecidos velhos e grossos, esfiapados e o rosário ainda não teria sido inventado.

Mais tarde, a analfabeta da época, escreveu numa caligrafia excelente e num português impecável, todos os segredos que a senhora lhe revelou, mas nessa altura já ela escrevia que Salazar tinha sido enviado por deus para governar Portugal. Se compararem a cara da freira antiga e da mais moderna, verificarão que não é a mesma. Lúcia morreu no convento e foi substituída por uma muito mais evoluída e instruída para conversar com JP II. E nós? Seremos bobos?