segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Tomaz Alcaide

Hoje, ao ouvir Biemiamino Gigli, lembrei-me do nosso esquecido Tomaz Alcaide https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_Alcaide

Um dos melhores intérpretes das óperas, principalmente de Geatano Donizetti. Parece impossível, mas um cantor como ele, foi completamente esquecido pelo público português. Conta-se que Gigli em Milão, teve uma constipação e a ópera Elixir do Amor de Donizetti, teria de ser interrompida. Alguém lembrou que havia um cantor português que interpretava muito bem as óperas deste autor. Foi chamado à pressa e substituiu de tal maneira o Gigli que, quando este melhorou, o público já não permitiu a troca e Tomaz Alcaide continuou. Tomaz Alcaide foi considerado o cantor que melhor interpretava as árias "Spirto Gentile" da ópera Favorita e "Una furtiva lágrima" do Elixir do Amor, ambas de Donizetti. Curiosamente Alcaide foi aluno do Colégio Militar e cursou medicina, abandonando depois para seguir canto em Itália. Cantou e foi apreciado em quase todo o mundo. Em Portugal foi mais conhecido pelas canções que interpretou no Cinema e no Teatro, como podem ler na Wikipédia. Tratámos sempre muito mal os nossos bons artistas. https://www.youtube.com/watch?v=7av7jSARpw8
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domingo, 15 de novembro de 2020

A quinta do meu padrinho

 


Quando nascemos temos de ser registados. Nesse registo eram necessárias duas testemunhas. Não sei de onde veio o conhecimento, mas um dos meus padrinhos foi Joaquim Ribeiro de Carvalho https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Ribeiro_de_Carvalho. Na quinta da Bela Vista passei muitos dias de brincadeira e assisti à feitura de vinho, matança de porco, etc. Lembro-me que não gostei nada da primeira matança a que assisti. O pobre bicho fez tal berraria quem me impressionou imenso. O meu padrinho morreu em 1942. Eu tinha ido para o Cacém em 1941 com apenas 4 anos. Conheci-o, portanto apenas um ano, mas tenho na memória a sua figura. Era um homem imponente, alto, já um pouco gordo. Usava óculos e andava sempre pela quinta dando ordens e verificando os afazeres dos empregados. Usava botins de cano, de atanado, com solas cardadas. Gostava de o ver, mas infundia, na minha mentalidade de criança, um misto de respeito e receio. Um dia, o seu motorista, com um carro enorme, americano, tipo Dodge ou coisa parecida, fez um curto recuo para arrumar o carro, não reparando que o meu padrinho estava atrás e tocou-lhe nas pernas desequilibrando-o. Homem pesado como era, caiu desamparado e bateu com a cabeça na estrutura do carro, naquele tempo em chapa muito forte. Chamaram-se os bombeiros pois a ferida na cabeça era um pouco grande e sangrava imenso. Foi operado no Hospital de São José a um traumatismo craniano com fractura. Veio para casa em recobro.  Lembro-me de estar ao pé dele, sentado na varanda ao sol, onde passava os dias lendo. Passados uns tempos, sentindo-se mal, voltou ao hospital tendo sido operado de novo. Nessa operação extraíram-lhe uma lasca óssea que tinha passado despercebida na primeira intervenção. Já não regressou e morreu pouco tempo depois. No Cacém houve grande consternação pela sua morte.

Continuei a visitar a quinta mas, já não com assiduidade. A quinta era grande e havia zonas da mesma que nós, os rapazes da zona, frequentávamos saltando os muros e fazendo as nossas explorações. Foi num desses “assaltos” que descobri uma enorme gruta onde se encontrava uma cama já meio desfeita, uma mesa e alguns utensílios de cozinha. Viam-se também alguns livros meio desfeitos e manchados pela humidade. Mais tarde vim a saber que era um refúgio onde o meu padrinho se escondia da polícia política, a famigerada PIDE. Como podem ver no artigo da Wikipédia, Ribeiro de Carvalho foi um defensor da 1ª República e obviamente um elemento contra ao Estado Novo. O jornal República foi muitas vezes censurado e o meu padrinho procurado pela PIDE. Os seus companheiros de luta contra Salazar, Araújo e Sá e o Dr. Ramon de La Feria, passaram alguns anos na prisão, mas Ribeiro de Carvalho nunca era encontrado por se esconder na tal gruta que não era fácil de descobrir. Nunca soube se o meu Pai foi ou não incomodado por essa amizade. No Cacém, a quinta da Bela Vista, foi sempre apelidada por Quinta Ribeiro De Carvalho e a minha rua também tinha o seu nome. O seu filho, Rui Ribeiro de Carvalho, não residindo lá, manteve a quinta durante muitos anos. Foi nessa quinta que comecei a treinar os meus tiros às rolas, pois ali era um ponto de passagem. O filho mais velho do motorista, cuja família continuou a morar numa das residências, era um grande caçador e deu-me algumas lições de como atirar. Dei cabo de muitos cartuchos ao meu Pai. Desde que a minha mãe e irmã morreram, que deixei de ir ao Cacém, mas quando por lá passava, junto aos muros de bonitos azulejos portugueses, lembrava sempre a figura de Ribeiro de Carvalho, na sua imponência, com as calças metidas para dentro dos botins, a comandar as operações. Os seus amigos diziam que o homem tinha sido assassinado por propositadamente lhe terem lá deixado a esquírola óssea. Claro que não acredito que médicos tivessem entrado nessa. Ribeiro de Carvalho foi uma figura que me marcou, mais pelo que vim a saber do que pelo pouco que conheci dado a idade que tinha. Hoje, ao fazer umas pesquisas na NET reencontrei-o.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

O COVID

 


Pois. Esse bicho ranhoso e peganhoso, com cara de extraterrestre com cornetas nos cornos, esse miasma peçonhento que mata que se farta, principalmente velhos. E continuo a dizer, pois! Se me apanha lá vou para o bé-lé-léu, mais a mais com a pneumonia que tive vai para 13 anos. Estávamos em 2007, era o último dia de caça e tínhamos marcado a reunião de prestação de contas e eu era o tesoureiro. Estava constipado, a mulher idem e a sogra também. Claro que não deixei de ir mesmo com uma tosse de cão e a espirrar de 5 em 5 minutos. Esta mania do espírito de missão. Cacei a manhã toda, estava uma ventania do caraças. Após almoço fizemos a nossa reunião e eu apresentei contas. Tínhamos uma máquina de lançar pratos e alguém sugeriu que fizéssemos um torneio. Com tossidela daqui e espirro dali ainda ganhei o torneio a 15 pratos. Fui o único a partir 10. No fim do torneio a tosse era cavernosa. No dia seguinte tive de mandar a minha sogra para o hospital e eu fui à consulta urgente. Mandaram-me para casa com montes de comprimidos e xaropes. Entretanto a minha Sogra faleceu. No dia do velório uma médica amiga ao ver a minha tosse diz-me que me quer ver no dia seguinte no Pulido Valente onde prestava serviço. Já não saí de lá. Foram 10 dias para me restabelecer. Nem fui ao funeral. E agora? Se este Covid me pega…

Pois. Lá estou eu com o pois. Pois é. Houve uma suspeita de contágio e eu “corro” para o hospital. A mulher dá positivo e eu negativo. Grande caca. Divido a casa ao meio, vou dormir para o maple… pois sim, no dia seguinte começo com febre e no outro dia volto ao hospital. Ora toma; Positivo. E agora? Benuron, Brufene e nada mais. Digo-vos: Tive constipações mais chatas. Ao fim de 10 dias não tinha sintomas, ao fim de 14 estava com alta. Isto é que era o Covid? Afinal mata velhos, mas não todos. Estou convencido que só indivíduos diminuídos fisicamente ou com outras doenças, são apanhados pela foice covídica.

Ouvindo as notícias parece que 96% dos “agarrados” são tratados em casa apenas pelo tempo. Dos outros 4% que são hospitalizados só 0,5% vai para os cuidados intensivos.

E pronto, lá mandámos o Covid ás couves e o gajo nem quis saber se eu já tinha sido ou não um pneumónico. A grande chatice é que isto é altamente contagiante e o pessoal tem que entrar em confinamento e não trabalha, o que pode fazer parar um país. Agora vou sossegadamente esperar por uma vacina e, se vier o tal remédio do Trampas, vamos todos tomá-lo que o rapaz precisa de reactivar a economia. Cuidem-se.