sábado, 31 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (VIII)

Conversa VIII


Tenho de falar com Jesus sobre democracia. É um tema que me traz preocupado. Esta democracia actual é cada vez menos democrática. Saberá ele algo sobre isto? Deve saber. Pelo menos até aqui tem demonstrado saber quase tudo. Aliás, sabe tanto que até a mim, um céptico, me começa a deixar montes de dúvidas. Jesus apareceu estava eu nestas conjecturas. Vinha a assobiar, mãos nos bolsos, olhando para o chão como quem vem a pensar e nada vê.
– Boa, Jesus, vejo que vem bem-disposto, mas pensando em algo intensamente. Que o preocupa?
– Olhe, meu bom Amigo, estou contente por um lado e preocupado por outro. Comecei a interessar um bom grupo de jovens pelas minhas palestras. Isso é um grande motivo de preocupação. Será que todos me vão aceitar? Será que muitos outros, que assistem de fora, aceitarão o interesse dos primeiros? Temo que se possa criar algum diferendo entre uns e outros. Isso seria a última coisa em que estaria interessado. Estou aqui para unir e não desunir.
– Tome cuidado, Jesus. Lembre-se do passado. A humanidade é perigosa. Quando não aceitam algo, podiam ao menos deixar os outros decidir por eles próprios, mas não, acabam por interferir e quase sempre negativamente com consequências funestas. Mas bem, vamos prosseguir as nossas conversas. Da sua vida terá que ser o meu bom amigo a cuidar.
Olhe, hoje vamos falar de política. Importa-se?
– Claro que não − disse ele. Falaremos do que quiser.
– Então vou prosseguir. Não concordo nada com o regime democrático em que vivemos. O partidarismo tem sido uma desgraça completa. Os políticos são em primeiro lugar partidários e não deixam espaço para a dedicação ao País e ao povo. Tenho um amigo, homem sóbrio, culto, inteligente e principalmente honesto, que advoga um regime com o qual concordo inteiramente. Diz ele que os partidos não podem governar. O Executivo tem de ser formado de modo completamente diferente. Eu também acho que a democracia tem de nascer debaixo para cima e não de cima para baixo. Os cidadãos têm de ter uma maior participação nas políticas, e isso só se pode fazer através das autarquias. As listas partidárias deveriam apresentar sempre representantes quer de bairros, quer de freguesias quer de concelhos, quer de distritos, cidadãos desses bairros e autarquias e, os mesmos deveriam fazer campanhas eleitorais nas suas bases. Esses representantes poderiam ir sempre subindo na cadeia hierárquica até chegarem à Assembleia da República representando e pugnando pelo seu círculo eleitoral. Diz esse meu amigo, e eu concordo, que a Assembleia da República só elaborará as leis e aprovará o Orçamento de Estado, o executivo nunca poderá ser partidário. Será o Presidente da República, através de um governo da sua escolha e responsabilidade, o executor do Orçamento que, para ser alterado, deverá tornar à Assembleia.
O grande representante do Povo será sempre o Presidente da República que nunca poderá ser partidário. Será eleito por sufrágio directo e universal ficando com a missão de chefiar o Executivo. O Presidente só terá de prestar provas perante o povo. Terão de existir normas legais para o povo poder propor mudança de Presidente com eleição de um novo, se o eleito não governar dentro do programa que apresentou. Se for chefiando a governação, dentro dos parâmetros previamente definidos e dentro dos condicionalismos que forem surgindo, mas aceites, o Presidente continuará a governar enquanto o povo achar que o faz bem feito. A Constituição terá de ser alterada para se criarem regras que evitem o aparecimento de ditadores. O governo será sempre da competência do Presidente e será sempre profissional, saindo do funcionalismo público. O funcionalismo público terá de ser modernizado e modificado devendo os funcionários serem escolhidos e promovidos, não só pela sua formação como também pela prestação contínua de provas. Deveriam ser criados organismos internos de auditoria permanente a pessoas e serviços. O Tribunal de Contas deveria ter serviços externos processadores de contas e essas deveriam ser de prestação mensal. As contas finais de gerência dos serviços e ministérios serão julgadas por esse Tribunal que deverá não só julgar mas também punir. A corrupção não poderá existir. Temos de acabar com isto de se nascer contínuo e acabar Director Geral só porque se não morreu. Penso que com este regime, acabarão as governações a belo prazer dos partidos que normalmente só tomam as medidas que consideram mais eleitoralistas e não aquelas que o povo necessita. Agora quero a sua opinião.
– Deus nunca necessitou de Democracia para levar o povo a fazer o que ele considera o melhor para todos, disse Jesus continuando de pernas estendidas, cruzadas e de mãos nos bolsos.
– Aí, meu bom Amigo, também concordo consigo, disse-lhe. Só que deus sempre foi um ditador. Pelo menos seguiu os métodos deles, exigindo obediência, temor, muita dedicação e sem fuga às suas leis. Se houver divergências e acções contrárias lá estará o castigo. Não me lembro de nas escrituras ter lido algo sobre processos democráticos.
Jesus riu e foi dizendo:
– Pois é, mas Deus é ser supremo e sabe sempre o que é melhor para os povos.
– Isso, meu amigo! Repliquei. Isso, se deus fosse realmente bom e justo, seria ouro sobre azul, mas infelizmente não tem sido assim. Todos os deuses, do que me foi dado conhecimento, foram déspotas e vingativos. Ditadores completos.
– Eu, não! Disse Jesus um pouco agastado. Eu sou a 2.ª pessoa duma trindade que foi melhorando ao longo dos tempos. No início, os homens eram tão duros que os Deuses também tinham de o ser.
– Então continuem, disse eu. Continuem porque se vamos a ver, nunca os homens foram tão duros como agora. Até amanhã e, pense no que lhe disse, veja se arranja uma forma de fazer com que a ideia do meu amigo possa ser executada.
– Nem pense, disse Jesus. Não me meto em política.

sexta-feira, 30 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (VII)

Conversa VII


Cheguei cedo no dia seguinte. Jesus estava sentado no mesmo banco e com melhor cara do que no dia anterior. Os seus olhos estavam mais vivos e o semblante mais aberto. Um pequeno sorriso nos lábios dava-lhe um ar jovial e prazenteiro.
– Bom dia. Vejo que isso vai um pouco melhor. O que o animou tanto?
– Olhe meu Caro Amigo. Disse ele. A noite é boa conselheira e eu não durmo. Penso de noite para executar de dia os meus pensamentos. Esta noite correu-me bem. Hoje vou tentar umas diligências. Pode ser que...
– Jesus, para tema da conversa de hoje trago um assunto que me preocupa. A nossa Juventude anda a ser dominada pelas drogas. Vou começar por lhe colocar o meu ponto de vista sobre o assunto e depois me dirá a sua opinião. Jesus acenou com a cabeça e preparou-se para me ouvir. Não o poupei.
– Actualmente gastam-se fortunas em programas para tentativas de cura de drogados. Criam-se organizações estatais e não estatais para tentativas de reconversão. Aumentam-se substancialmente os quadros policiais para fazer face ao tráfico cada vez mais eficiente e disseminado. A criminalidade ligada à droga cresce assustadoramente. A minha opinião é que se devia fazer à droga o que se fez com o álcool. Liberalizar o mais rapidamente possível. Como sabe, sempre houve drogados no mundo e através dos tempos. Os chineses fumam ópio há milhares de anos, os índios da América do sul sempre mastigaram folhas de coca até ao adormecimento dos corpos e das mentes. Quanto mais se proibir mais drogados teremos e, pior ainda, mais drogados consumindo cada vez mais caro. Cada vez será necessário mais dinheiro para sustentar o vício. Na América, a mentalidade tacanha das gentes suburbanas e mentoras das virtudes, acabou por pressionar os governantes à criação de uma lei proibindo o consumo de álcool. A famigerada lei seca. Não só não acabaram com o consumo como criaram muito mais bêbedos e, pior, criaram os traficantes que elevaram o crime às últimas consequências e não houve esforços policiais que lhe conseguisse pôr cobro. O álcool ficou tão caro que os ricos usaram clubes para o consumir em privado e os pobres dedicaram-se também ao crime para o poderem adquirir. Tiveram que abolir a lei. Os traficantes foram forçados a descobrir outros caminhos para a continuação das suas actividades. A guerra de gangs terminou. Continuaram os bêbedos mas o crime diminuiu e o sossego voltou. Com a droga teremos de fazer o mesmo. Nunca acabaremos com os drogados, mas se acabarmos com os traficantes, deixa de haver o aliciamento e os drogados diminuem. Além disso se um individuo se drogar com qualquer produto a um euro o quilo, não precisa de roubar para o adquirir. Poderá ser acompanhado pelo médico de família e de certeza adquirirá uma droga que não o mate, pelo menos a curto prazo. Os traficantes terão que se virar para outro produto, aquele vai deixar de lhes dar os milhões que agora ganham. Olhava de soslaio para o meu companheiro, mas o seu semblante não mostrava alterações. Ouvia-me atentamente e não me interrompia. Continuei; – Só que eu sei que isto será impossível no actual contexto das nações. Os milhões da droga movem montanhas. Países vivem da droga, bancos vivem da droga, a economia paralela da droga é usada para fazer crescer outras economias. Os Estados que mais dizem lutar contra a droga são os mais hipócritas. Os tubarões da droga estão em todo o lado, em todos os governos, em todas as polícias. Não conseguiremos acabar com isto. Qualquer governo que o queira fazer sozinho, caiem-lhe no País todos os drogados do Mundo. Os outros governos não vão deixar. Que me diz disto?
Jesus descruzou as pernas, suspirou baixinho, e disse: – Os caminhos de Deus poderão conseguir que a juventude se deixe disso, mas é muito difícil pois a grande maioria dos drogados está entre os crentes. Muitos deles até talvez chamem por Deus nas horas da ressaca. Penso que o meu amigo tem razão. Se conseguirmos acabar com os traficantes, e não será certamente pela repressão, não acabaremos com o consumo mas reduzi-lo-emos drasticamente. Se isso fosse possível, seria uma grande conquista. Estou consigo.
– Há coisas que nem os deuses conseguem, não é meu caro? Veja-se o terrorismo. Esse flagelo que é praticado em nome de deus. Como acabar com ele? Porque seu Pai não lhe dá resposta a isto? Eu sei! Na antiguidade ele também o praticou. Para que os Egípcios deixassem sair os Judeus da escravidão, Moisés, em nome de deus praticou montes de actos terroristas. Desde peste, gafanhotos, varas transformadas em serpentes até chegar ao ponto de assassinar todos os primogénitos, tudo foi feito. Isso não é terrorismo? Se a Bíblia assim o ensina, por que não praticá-lo agora? Que moralidade têm os Judeus para apelidar os Palestinianos de terroristas. E o Bush? Não é terrorista também? Os próprios Judeus exerceram terrorismo contra aos Ingleses antes da formação do Estado de Israel. O Sharon foi um deles. Olho por olho dente por dente? deuses... Bah!
Desculpe falar assim consigo, que se diz filho de deus. Eu, felizmente, não o vejo como isso. Ainda bem para mim. Estou à vontade.
Jesus, que até ali estava sorridente, foi ficando cada vez com ar mais carregado.
– Deus, muitas vezes, teve de escolher o caminho da violência para provar aos homens que essa mesma violência nada resolve e só deve ser utilizada em último caso.
– Essa é muito boa, retorqui. Você parece um general militarista a tentar convencer um chefe político a fazer a guerra. Só que violência puxa violência e no fim, não só nada se resolve como quase tudo fica pior e depois, para melhorar, gastam-se montes de recursos a reconstruir o que se arrasou. Meu caro, amanhã se ainda tiver paciência para me aturar, teremos de arranjar temas de conversa mais interessantes, os de hoje só nos deixaram constrangidos. Não temos solução para eles. Estou a ver que o seu Pai é que teve razão, só a destruição da humanidade poderá resolver os problemas. Mas desta não podem sobrar Noés. Até amanhã meu bom amigo. Aproveite a noite para redimir alguma alma tresmalhada. Vá aparecendo. Gosto de dialogar consigo.
Hoje Jesus pareceu-me menos senhor de si. Talvez menos endeusado e mais humano. Muito duvidoso...

quinta-feira, 29 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (VI)

Conversa VI


Comecei hoje a minha caminhada um pouco mais satisfeito. Encontrei pelo menos duas pessoas que conversavam rindo. Deviam contar anedotas. Só assim se pode compreender que riam. A vida está tão triste que realmente não têm de que rir. Dei a minha vista de olhos nas primeiras e últimas páginas dos jornais. Confirmei o que digo atrás. O País acabou de sair do Inferno. Nem mesmo Dante descreveu os horrores que se viveram em quase todo o território Nacional. Que se passará? Ainda me lembro, quando miúdo e no tempo dos comboios a carvão, numa aldeia bem perto de Lisboa, hoje cidade, (cidade...Quem diria!) depois de passar o comboio e nos dias muito quentes, os fogos apareciam. A “bomba”, assim chamávamos ao carro dos bombeiros, passava, ainda a sirene apitava ao chamamento dos ditos. Pelo caminho arrebanhava homens e miúdos que quisessem ajudar. Eu era sempre dos primeiros a correr para a estrada e a apanhar a boleia. Hora e meia depois o fogo estava apagado. As matas eram mais, os matos maiores, os meios muito menores e calor sempre houve. As lixeiras proliferavam, ninguém sabia o que era ecologia, tudo e todos se estavam nas tintas para o ambiente. Só que os fogos eram muito menos, menores e apagavam-se rápido. Lembro-me de algumas lambadas que levei por chegar a casa todo chamuscado. Que se passará? Tenho de perguntar a Jesus! Será Satanás a querer tornar o inferno exógeno? Aliás ainda não lhe falei desta sinistra personagem, satã.
Jesus apareceu tarde. Foi a primeira vez que o vi caminhando. Não tinha aquele ar aberto, prazenteiro e claro dos últimos dias.
Quando se sentou a meu lado inquiri:
– Então? Meu Caro? Vem um pouco acabrunhado. Algo está a correr mal?
– As coisas estão piores do que pensava. Estou a ter mais problemas do que tive lá na Palestina. Ninguém me liga e todos me escarnecem. Não consigo fazer passar a minha mensagem. Por que será que a humanidade só acredita que eu apareci naquela época e não admite que eu possa ter voltado? É estranho! Julgava que os cristãos ficariam contentes com o meu regresso, afinal enganei-me. Todos me repudiam como se eu fosse um perigoso psicopata. Eu só quero tornar a humanidade um pouco melhor, só quero o bem das pessoas...
– Meu Bom Amigo. Começo a ter pena de si. Sabe? As pessoas gostam de acreditar em lendas. Também gostam de acreditar naquilo que não vêem. O que é visível tem pouco de sobrenatural. Parece sempre vigarice. Eu próprio, que não acredito em sobrenaturalidades, também sou céptico àquilo que vejo quando o que vejo é contra ao que a minha inteligência costuma aceitar. Tenha calma, o Senhor é um ser bom. Vai ver que alguém vai acabar por o seguir. Mas desde já lhe digo que vai ser difícil. Veja o que lhe aconteceu lá na Palestina, poucos o seguiram e muitos o aviltaram.
Seria eu a dizer aquilo? Como pode? Aquele tipo estava a virar-me o miolo. Gostava francamente do homem. Naturalmente, se fosse crente, já o tinha mandado às couves. Mas o tipo era inteligente e sabia muito. Era também um bom psicólogo e um bom ouvinte. Valia a pena o colóquio.
– Olhe. Disse-lhe. Vamos acabar com tristezas e vamos conversar sobre aquilo de que gostamos. Diga-me. Quem era Satanás? Foi verdade que ele o tentou?
– Ah! Satã? Sabe o que quer dizer a palavra? Deriva do hebraico aschatân que quer dizer inimigo, adversário. Em todos os sistemas tem de existir oposição; acção/reacção; vapor/contra-vapor; bem/mal. É a teoria maniqueísta. Para haver bem tem de haver mal. Ninguém sabe o que é ter quando sempre teve, mas os que nunca tiveram apreciam e saboreiam quando passam a ter. Se só houvesse bem não havia nada, não se saberia que o bem existia.
– Realmente, Jesus, o Senhor surpreende-me cada vez mais. Rendo-me ao seu conhecimento e à sua lógica. Então quer dizer que o diabo nunca existiu? É mesmo invenção?
– Existe. O mal existe. Está em todos nós. O diabo como pessoa é que não. O Novo Testamento fala nele como um anjo tresmalhado, que o Senhor enviou para as profundezas da Terra, mas isso é mítico, como muita coisa que se escreveu.
– Então realmente essa de ele o ter tentado é mesmo pura invenção?
– Claro! Acha que um anjo, mesmo despromovido, seria tão estúpido que julgaria poder enganar um Deus omnipotente e omnisciente? Isso foi lá colocado por algum escriba menos esclarecido. Era melhor! Dizerem-me a mim para me deitar dali abaixo, sabendo de antemão que nada poderia sofrer se o tivesse feito. Mas cuidado, o mal anda por aí, precavenha-se, esteja atento às suas dúvidas, mantenha a sua consciência esclarecida e procure ser honesto consigo próprio. Oiça, julgue e esclareça. Procure a justiça e não tenha comiseração pelos corruptos e desonestos.
– Meu Caro. Gostava de conseguir isso tudo, mas sou um humano. De qualquer modo a sua explicação veio ao encontro do meu pensamento. Muito obrigado.
Calámo-nos, apertámos as mãos, como bons amigos de há muito. Levantei-me, fiz um aceno e voltei costas. Quando olhei, ele já não estava. Sabia que amanhã voltaria.

quarta-feira, 28 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (V)

 Conversa V

 

Mas afinal o tipo devia ter alguma ideia em mente. Tinha que lhe perguntar quais os projectos futuros. Acho que também o vou inquirir sobre a sua apreciação da actualidade. Já que se mostrava tão sabedor das coisas da antiguidade, sempre queria ver qual a forma como via os novos tempos.
Levantei-me de novo bem cedo. Com estas conversas tinha deixado de apreciar as pessoas. Assim dei um bom passeio pelo meu bairro. Como de costume fui dar uma vista de olhos à montra da Livraria. Fazia-o tantas vezes que a livreira já me conhece. Faz sempre uma cara de enjoo. Ver ali um tipo que vê os livros todos e não compra quase nada. E é verdade, normalmente leio os livros que o meu filho compra. Temos gostos parecidos e a ele sobra-lhe mais dinheiro. Tem menos despesas. Depois de me pôr em dia, continuei o meu passeio. As pessoas são diversas, mas as expressões bastante idênticas. Caras fechadas, com ritos de tristeza e preocupação. Quase não me lembro de cruzar com alguém que ria. Quando isso acontece são normalmente os muito jovens que ainda vivem sem preocupações de maior. Ainda bem. Vão ter muito tempo para carpir...
Olhei e lá estava ele... sorrindo, braços esticados sobre as costas do banco, pernas estendidas e cruzadas...alguém pensaria que aquele homem era um deus... mas que estou a pensar? Chiça!.. já não sei que diga...
– Jesus! Meu Caro! Bons olhos o vejam...por onde tem andado?
Como é que um tipo como eu chega um estado destes? Devo estar a emalucar! Eu? Um pragmático? Um céptico? A falar assim com um mortal que se diz deus?
A bonomia do olhar de Jesus acabou com as interrogações. A disponibilidade que demonstrou para me aturar deixou-me completamente rendido. Sentei-me a seu lado, estendi-me, cruzei as pernas...
– Meu Caro. Estou a ficar aquilo a que se chama um grande sorna. Só me apetece é cavaqueira. Ainda bem que está aqui para me ouvir.
– Ao longo dos tempos sempre estive disponível para ouvir fosse quem fosse. O necessário só, é que as pessoas se aproximem e me ponham os problemas. Se puder, logo encontrarei as soluções.
– Mas isso é o que qualquer psicólogo ou psiquiatra faz. Ouve as pessoas, deixa-as falar expondo os seus problemas e pouco fala. O meu Caro Jesus nem precisa de falar...
– É isso! Se pusermos as pessoas a deitar cá para fora aquilo que as preocupa, se o fel for saindo, se o substituirmos por um pouco de bom senso, se formos amaciando os corações, se formos esvaziando o amargo da mente...As soluções aparecem...nessa altura dei uma ajuda.
Comecei a ver a sua razão. Os homens sempre necessitaram de ajuda. Seja ela natural ou sobrenatural. Realmente somos os mais carentes de entre todos os animais...os outros não precisam disto.
– Pois! Pusemo-nos com estas filosofias e não cheguei a formular-lhe as perguntas que trazia engatilhadas. Está com disposição para me aturar?
– Amigo, aturo todos os mortais que por mim chamam há 2004 anos. Bem, mais coisa menos coisa, porque o Dionisius o “Exíguo”, como sabe, errou na determinação do ano do meu nascimento mas, isso não é importante.
– Também a culpa foi do Gregório. Disse eu. – Com aquela pressa de deixar o calendário da era de César... Foi a mania de tornar tudo divino. Porquê? Qual o mal da contagem dos anos ser a de César? Alguma havia de ser. Estávamos naquela por que não continuar? Achou bem a mudança?
– Estou-me nas tintas! Respondeu Jesus. Isso só aconteceu cerca de 1582 anos depois de me ter ido daqui.
– Boa! Gostei da resposta. Sabia que nada tinha tido a ver com isso. Agora estou totalmente convencido.
Jesus continuou a olhar-me com aquele olhar de quem tudo vê e tudo compreende. Ou melhor, de quem tudo aceita. Na maioria das vezes é melhor aceitarmos, compreender é mais complicado.
Fizemos uma pausa. Ambos aproveitámos para observar o povão anónimo que circulava.
A conversa é como as cerejas, a gente puxa e vêm mais sempre atrás, estávamos a falar há tanto tempo e eu ainda não tinha formulado uma única pergunta que trazia na mente. Interrompi a meditação e disparei:
– Meu amigo. Diga-me. Que pensa dos tempos de agora? Acha que estamos melhores? A dita civilização serviu para alguma coisa?
– Não estão melhores nem piores. Estão na mesma! Jesus ao dizer isto revelava alguma mágoa.
– Como assim? Evoluímos. Estudámos. Aprendemos. Cultivámo-nos. Isso é estar na mesma?
– Teria sido muito bom se o homem tivesse alterado a sua natureza. Alguns tentaram, mas em vão. A humanidade continua egoísta, perversa, déspota, prepotente, gananciosa. A inveja e o querer mais dominam as mentes de quase todos. E o pior é que quando não o conseguem por meios naturais, aplicam todos os outros. Roubam, violentam, guerreiam. Servem-se do que descobriram, mais para destruir do que para construir e se algo constroem é a pensar no lucro do que daí advirá. Ninguém dá nada a ninguém, os Estados não servem para socializar, mas sim para imperializar. O fim vai ser triste...
– O meu Caro Jesus tem uma solução?
– Tentei já uma vez, deu no que deu...estou a ganhar forças para tentar de novo. Agora, talvez, com novas filosofias...quem sabe...pode ser...
– Mas, Jesus? Acredita na mudança?
– Tenho alguma esperança. Disse ele. Mas pouca. Estou ainda a pensar na estratégia que vou usar para tentar mudar as mentalidades. Depois vou construir a ordem de operações táctica. Tenho de analisar os meios a usar e as pessoas a mobilizar, enfim, muito trabalho pela frente.
– Chi... Isso parece mesmo uma operação militar. Organização não vai faltar, resultados serão difíceis. E, olhe lá, não tem medo que o apelidem de comunista? Lembre-se que já alguns tentaram mudar a maneira de viver dos povos e não deu. As tentativas de socialização chocaram sempre com aquilo a muitos chamam de liberdade. Como se a iniciativa privada completamente liberalizada fosse melhor! Realmente, o contrário também não resultou. Os socialistas, no poleiro, não resistiram à tentação do quero posso e mando.
– Tem razão. Vai ser muito difícil. Mas vale a pena tentar. Temos de mudar as mentalidades. De contrário não auguro nada de bom para a criação divina.
– Olhe, Jesus, não me venha com essa que já não pega. Não acredito que esta humanidade seja criação divina, ou então, Vocês, os deuses, são muito maus obreiros. E com esta me vou que se está a fazer tarde e a família não tem culpa destas nossas lucubrações. Amanhã, se me quiser dar o gosto de aparecer, cá me encontrará. Passe bem...
Jesus acenou com a mão e abanou afirmativamente a cabeça. Ficou pensativo...

terça-feira, 27 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (IV)

Conversa IV


Gaita para isto. Levantei-me a pensar naquele desgraçado. Que lhe teria dado para se armar em redentor da humanidade? Seria porque, ao ler a Bíblia e o Novo Testamento, não ficou satisfeito com o rumo que as coisas tomaram? Ou terá achado que as patranhas eram demasiado toscas para levar indivíduos inteligentes a acreditar naquilo? Quem será o gajo? Inteligente e com alguma cultura, nota-se. Conhecedor das escrituras é ele. Por que me terá escolhido a mim? Será que já me terá ouvido em qualquer lado? É bem possível. Também parece que não sei falar de outra coisa. A fé dos homens é um assunto tão fascinante...
Tinha de continuar a ouvi-lo. Hei-de esclarecer as coisas. Nem eu vou mudar a minha opinião, nem ele, de certeza, irá mudar a sua condição divina, mas a conversa irá de certeza continuar interessante. Que tenho a perder? Nada! Os nossos espíritos, leia-se mentalidades, irão beneficiar com isso. Vou continuar. Se ele voltar a aparecer, claro.
E apareceu. Lá estava ele, no mesmo banco, com o mesmo aprumo, sorriso nos lábios, parecia contente ao observar os passantes. Pensaria talvez que aquelas pessoas ali não teriam os seus problemas e, naturalmente não tinham, viviam a vida apenas como ela é, uma sucessão de factos para os quais vamos tentando encontrar soluções e normalmente não são as melhores, quando temos problemas dizemos:
– Meu deus ajudai-me. Mais ou menos como quem diz – Porra! Se esta merda não se resolve estamos lixados.
A banalização das preces é corriqueira. Os pedidos de ajuda aos nossos deuses tornam-se lugares comuns. Ninguém pensa em deus quando diz:
– Meu deus! Minha querida! Que gorda que está! O que lhe aconteceu? A resposta será:
– Graças a deus agora estou melhor. Acertei com o médico. Este é uma jóia. Receitou-me tudo o que me faz bem, deus queira que continue assim... deus para aqui e para ali, completamente banalizado. Tenho de falar nisto a Jesus...
– Olá Jesus está bom? Gaita! Lá continuava a estupidez. Penso que não é assim que nos deveríamos dirigir a Jesus. Mas que hei-de fazer? Quem está na minha frente é um homem e eu não acredito em deuses.
– Olá amigo! Como vai?
Tenho a impressão que ele compreendeu a minha frustração.
– Vinha aqui a cogitar comigo mesmo e a pensar nas nossas conversas anteriores, perguntava-me quem seria realmente Você e o porquê de me ter aparecido assim. Por que não resolveu começar a fazer comícios? Podia subir para um caixote e começar a falar às multidões. Como começou lá na palestina? Também escolheu um descrente para o início?
– Lázaro era rico e descrente e eu ressuscitei-o!
– Essa a mim pareceu-me demasiadamente propagandista, foi um “show” para aliciar a canalha. De que lhe serviu o ressuscitanço? Acabou por morrer outra vez. Nunca cá ficou nenhum! Pareceu-me muito narcisismo da sua parte. E, olhe, já agora diga-me lá, Jesus, Você, ressuscitou mesmo?
– Se assim não tivesse sido ninguém iria acreditar na minha condição divina! Deuses mortos não servem para nada. Veja o que aconteceu aos Deuses romanos e aos Gregos. Foram morrendo, acabaram. Os ressuscitados voltam e ficaram na cabeça das pessoas. É preciso ressuscitar Deuses para levar os descrentes a acreditarem e os já crentes a continuarem. A não ser assim para que serviríamos?
Não fiquei lá muito satisfeito com a resposta. Aquilo já eu sabia, mas notei que ele não estava interessado na continuação do tema. Resolvi mudar. Voltei-me para algumas questões que sempre me incomodaram na leitura das escrituras. E aí perguntei:
– Diga-me! Que me diz do que está escrito no Antigo Testamento? Como é possível tanta patranha escrita, que agora, à luz da ciência, se chega à conclusão que está tudo errado? E porque deus, naquela altura, era tão implacável e mau para o próprio Povo que elegeu como seu? E já agora, porquê só aquele povo? Não haveria outros que tivessem merecido também a sua complacência e o seu apoio?
– Ena! Tanta pergunta ao mesmo tempo. Sabe, eu naquele tempo ainda não existia, Deus pensou que dava conta do recado sozinho. Só mais tarde é que viu que tudo aquilo que quis construir estava uma boa...como direi...bem não interessa, não estava bem. Mas, como 2.º elemento duma trindade, eu sou ele e ele sou eu. Percebe?
– Lá perceber não percebo. Aliás a maioria não percebe. Tenho até dúvidas que alguém perceba, mas habituámo-nos a ouvir e ler isso e não contestamos. Para quê? Não é demonstrável!
– Pois é! É difícil! Continuemos: Naquele tempo os homens tinham poucos conhecimentos científicos, não podíamos explicar as coisas como hoje. Toda a gente sabe que o Universo, essa imensidão, não foi criado em 7 dias. Também já ninguém acredita em Adão e Eva, como explicar as coisas naquela época?
– Então está a confirmar-me que o Génesis é uma fantasia, um misticismo?
– Claro que é! Era preciso! Deus tinha que se afirmar! O politicamente correcto é encontrar formas de acreditarem em nós. Foi o que fizemos.
– Mas agora? Com certeza não vão ter a veleidade de que mentes científicas, conscientes das realidades, continuem a acreditar nessas patranhas?
– Meu Caro! Ficaria espantado se lhe conseguisse meter numa enorme alcofa as mentes de miríades de indivíduos, que sendo cultos, conhecedores, cientistas, se recusam a deixar de acreditar nessas coisas. Lá no fundo algo lhes diz que não pode ser, mas a dúvida continua. E depois? Se não acredito e Deus se zanga? Aquilo no Inferno deve ser duro de roer. Não! Não vou contestar. Quero o descanso eterno. É assim, amigo, é assim que os dominamos.
– Ah! Então sempre é verdade. Vocês, deuses, querem é dominar.
– Meu Caro. Você é mesmo ingénuo, como quer que alguém se afirme se não conseguir dominar? Como fazem os políticos? Como fazem os médicos? Como fazem as autoridades? Claro que temos de dominar para nos afirmarmos.
Não contestei. O tipo estava cheio de razão. Felizmente que pertenço à classe dos não domináveis. Continuo a não acreditar.
– Bem, continue, a minha pergunta ainda não está esgotada. Porquê a ira de deus?
– Tem tudo a ver com o mesmo. Não há ninguém que sendo bom consiga dominar. Só se domina pelo medo que se consegue incutir. Deus para obter obediência tinha que castigar!
– Mas tanto? Acha que afogar a humanidade inteira não foi exagero? Será que nos que pereceram afogados, coitados, não haveria alguém que merecesse mais do que algum dos membros da família de Noé? E porquê destruir as cidades de Sodoma e Gomorra? Só porque havia lá uns quantos homossexuais? Hoje teria que destruir o Mundo inteiro. O que não falta para aí é disso. E por que castigar a simples curiosidade da mulher de Lot? Transformar a pobre coitada em estátua de sal só por que olhou para trás. Pobre senhora! E depois lá pôs as filhas a fazer sexo com o Pai porque não havia mulher. Não foi pior a emenda que o soneto? E aquela de obrigar o pobre do Abraão a imolar o filho a si próprio? Vá lá que nessa foi só o susto, depois emendou a mão e toca de dizer ao desgraçado que era só para testar a sua obediência. Porra para tais métodos...
– Tem alguma razão. Houve exageros divinos. Mas os Deuses sempre foram assim, irascíveis e déspotas. Eu, fui talvez o único, que tentei mudar isso, mesmo assim, passei-me dos carretos algumas vezes. Aquela dos vendilhões fazerem mercado nas portas do Templo fez-me pirar. Dei-lhes chicotada que ferveu.
– Está a ver, também foi mauzinho! Devia ter perdoado como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...onde é que eu já ouvi isto?
– Não seja jocoso! Não brinque com as minhas palavras. Tentei sempre aplicá-las da melhor forma e nos melhores contextos. Se não consegui... paciência. Já agora vou acabar de responder à sua pergunta e depois vou continuar o meu périplo por aqui e ali.
Os Judeus eram o povo que na época estava mais escravizado e oprimido. Tínhamos de arranjar um catalizador para nos darmos a conhecer aos homens. Servimo-nos deles.
– Essa não! Com tanta humanidade escravizada, com tanto povo aprisionado e torturado. Porquê só eles? Tenho a impressão que terá sido ao contrário, eles é que se aproveitaram de deus para se auto-promoverem como povo eleito. Na actualidade até lhes deu jeito. Encontraram uma Pátria por direito divino. Bem vá lá passear um pouco. Quando quiser encontra-me aqui.
– Adeus meu amigo. Não seja tão contestatário. Procure compreender.
– E bem preciso! Até amanhã.

segunda-feira, 26 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (III)

Conversa III


Cheguei mais cedo. Aquele tipo estava a começar a prender a minha atenção. Quem seria ele? Talvez algum padre renegado que tenha sido posto fora da congregação. O certo é que discutia estes assuntos com alguma coerência e não era estúpido nenhum. Eu até já conseguia falar com ele como se do verdadeiro Jesus se tratasse. Só que, quando parava, era assaltado pelas dúvidas.
Estava nestas deambulações cerebrais quando ao olhar para o banco, lá estava ele. Nunca o via chegar.
Desta vez aproximei-me eu.
– Bom dia Jesus. Como vai Você? O indivíduo olhou-me um pouco estranho, como se eu não soubesse que ele estaria sempre bem.
 − Faço-lhe esta pergunta porque parto do princípio que Você deve ter alguma missão específica aqui na Terra. Só depois de ter dito isto é que me senti completamente idiota. Eu? Eu a dizer aquilo? Devo estar a ficar choné.
– Claro! Disse ele. Claro que tenho. Mas ainda não a comecei. Quero primeiro trocar impressões com pessoas como Você. Só os não crentes podem ser críticos objectivos. Os outros são sectários. Crêem e pronto. Ninguém consegue pôr-lhes a mona a funcionar. Lá estou eu a falar como os putos que escuto por aí. Os crentes, dizia eu, aprendem a rezar desde pequenos. Depois são levados para as missas sem saberem o que vão fazer e ver e, lá lhes fica incutida no espírito a crença que nunca mais largam só por ser também a dos Pais e dos Avós. Nunca gostei disso. Ficaria muito mais satisfeito sabendo que a crença deles só lhes ficaria no interior depois de lerem, estudarem, meditarem, descrerem, voltarem a crer, estudarem as outras religiões comparando-as, etc...
– Mas isso é perigoso para as religiões. Disse eu um pouco a medo. Quanto mais se estuda e compara, mais se verifica que todas essas crenças são copiadas umas das outras, que os princípios são os mesmos, que os fins são, muitas das vezes, inconfessáveis, que os mentores, os sacerdotes, são apaniguados das seitas puxando todos para uma tomada de poder. Poder esse que as respectivas igrejas aproveitam para dominar os seguidores levando-os para situações de ignorância que lhes será sempre favorável. Não concorda comigo? Quando pensou em criar a sua Igreja e fez de Pedro a sua primeira pedra pensava em situações destas? De tomada de poder para dominar povos e consciências?
Jesus olhava para mim. Via-se que estava pensando na resposta a dar-me de modo que a dúvida não ficasse no meu espírito. Calmamente disse-me:
– Meu Pai enviou-me à Terra com uma missão de apaziguamento. Se as intenções eram outras eu não sei. Só sei que me tornei humano demais e comecei a gostar de o ser. Como divindade ficava demasiado afastado de tudo e todos. Ninguém era como eu. Todos casavam, todos tinham filhos, todos tinham amigos e inimigos, enfim todos viviam. Eu por ali andava a pregar doutrinas que ninguém seguia e cumpria. Resolvi humanizar-me. Quando conheci Madalena fiquei completamente siderado. Aquela beleza, lucidez, inteligência, forma de ser e estar fascinou-me. Fiquei completamente apaixonado. Decidi que queria compartilhar com ela venturas e desventuras. Passámos a viver juntos. Os meus seguidores ficaram enciumados. Temeram que me dedicasse demais à minha amada e descurasse aquilo que me tinha proposto realizar, mas não era assim, eles é que não sabiam da minha perseverança na missão que me fora confiada. O Pai também não gostou. Por isso castigou-me. Cedo soube que iria ser traído preso e crucificado. Não era preciso ser Deus para ver que os grandes da lá da terra andavam um pouco apavorados com o que lhes contavam sobre mim. Toda a gente com poder fica vacilante quando aparece alguém que se impõe pelas ideias e palavras. Meu Pai abandonou-me. Tentei que Madalena continuasse a minha obra. Não deixaram. Traíram-me completamente. Esconderam tudo da minha vivência. Os meus filhos passaram à clandestinidade para sobreviverem. Todos os escritos que não serviram aos intentos dos que ficaram foram destruídos ou escondidos. Outros foram fabricados à medida dos construtores de uma Igreja na qual não me revejo. Voltou tudo à mesma. Começou a matar-se em nome de uma cristianização que não advoguei, que não quis. Os povos tornaram-se cada vez mais mesquinhos e ciosos das suas crenças. Considerando que as suas é que eram as boas, trataram de aniquilar e torturar quem não as seguisse. Por isso voltei. Vejo que hoje as coisas não estão melhores. Continua a matar-se em nome de Deus. Na Irlanda católicos e protestantes digladiam-se. Árabes e Judeus destroem-se em nome de um Deus que no fim dizem ser o mesmo. Luta-se pelo poder. Luta-se por bens materiais. Os povos continuam ignorantes. Os ricos continuam a roubar e explorar os pobres. O racismo está mais aceso do que nunca. Até na Europa, dita civilizada, se mata por diferenças religiosas. Como pode acontecer isto? A minha palavra foi desvirtuada. Tive de voltar. Só que agora não sei o que fazer! Chiça para isto!
Começava a ter pena daquele desgraçado. As palavras saíam-lhe fluentes e sinceras. Tinha lágrimas ao canto dos olhos e parecia meio perdido no seu desgosto. Comecei a lembrar-me do livro que tinha lido. Afinal aquele tipo do Código DaVince tinha razão, a vida de Jesus ainda era uma grande incógnita. Eu estava, através dele a ser, talvez o primeiro a ouvir de viva voz algo que já se tinha falado e escrito mas muito incipientemente e quase sempre desmentido pelos “senhores” da Igreja. Já não entendia nada. Disse-lhe: – O meu Amigo está cansado. Vá-se deitar, amanhã falamos.
Acenou-me assentindo com a cabeça. As lágrimas continuavam a saltar-lhe dos olhos. Retirei-me sem olhar para trás.
Fui para casa meio estúpido e descorçoado. Como é que me tinha metido nisto? Agora estava totalmente fascinado por aquele tipo.

domingo, 25 de março de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (II)

Conversa II


No dia seguinte iniciei o meu passeio matinal um pouco mais cedo. Sem querer admitir, estava um pouco excitado pelo que iria encontrar. Por um lado estava convencido que, o maluco já não apareceria, mas por outro, algo me dizia que sim que iria estar lá e a conversa iria prosseguir.
Cheguei ao largo do costume mas não me sentei no mesmo banco. Optei por outro, ligeiramente de esguelha e mais escondido. O tipo realmente não estava e comecei a esmorecer talvez um pouco desiludido. Fechei os olhos por momentos, cogitando sobre tudo aquilo. Quando voltei a abri-los lá estava ele. Sentado no mesmo banco do dia anterior, vestido da mesma maneira, parecia que nem tinha saído dali. Olhava para mim com aqueles olhos prescutadores como se me lesse por dentro. Resolvi ficar quieto deixando que fosse ele a tomar a iniciativa de me chamar. Poderia até ser que a sua maluqueira lhe desse para não me reconhecer e até nem se lembrar do que se passara ontem. Mas estava enganado. O Homem levantou-se e com passo firme caminhou direito a mim dizendo:
– Meu Caro! Ainda bem que veio. Pelos vistos a nossa conversa despertou-lhe algum interesse.
– Olhe! É verdade. Não vou dizer que não. A sua conversa de ontem deixou-me deveras curioso. Sabe que sou conhecido, entre os meus amigos mais próximos, como o chato das religiões? Sendo um ateu convicto, adoro temas religiosos. Sempre me fascinou tentar compreender por que é que o homem, com a sua inteligência cada vez mais construída e consolidada pelo que vai descobrindo pelo raciocínio científico, pelas experiências que vai realizando e comprovando, cada vez mais se aproxima de uma realidade assente nas causas naturais, continua a necessitar do não natural, do fantasmagórico, do incompreensível, para se agarrar àquilo que ainda não entende, talvez esperando que causas sobrenaturais lhe resolvam o que não consegue resolver por si. É um tema absorvente. Mas, Jesus; nesta altura já o tratava pelo nome com que se intitulava. Diga-me! Por que será que sempre foi assim ao longo dos séculos?
– Meu Caro, o mal do homem foi ter desenvolvido demais a sua inteligência, os outros animais não precisaram, contentaram-se com a resolução dos problemas para a sua sobrevivência. O homem tornou-se ganancioso. Quis sempre ter mais, fazer mais, conhecer mais. Como não consegue saber tudo e ter tudo, veio pedir a nossa ajuda.
– A nossa? Interrogo eu algo curioso.
– Sim a nossa, a dos Deuses. Nós sabemos sempre o que fazer quando o homem tem dúvidas e deixa de acreditar nele próprio.
– Têm a certeza? Não pude deixar de perguntar. Nunca resolveram nada! Antes pelo contrário, só têm complicado as coisas promovendo a discórdia entre os vários vossos acreditadores.
– Pois é, disse-me ele. Realmente não resolvemos, mas conseguimos fazê-los acreditar que vamos ajudar a resolver e isso dá-lhes ânimo, começam a pedalar e, na maioria das vezes encontram as soluções e ainda nos agradecem.
– Chi...afinal os deuses são tão aproveitadores quanto nós. Olhe lá, posso perguntar algo sobre o seu Pai?
– Quem o José?
– Não bolas! Já não entendo nada. Quero falar do outro, aquele que determinou a sua vinda à Terra!
– Ah! Deus?
– Isso, Jeovah!
– Pergunte!
– Afinal, sendo ele deus dos Judeus. Tendo ele escolhido aquele povo como povo eleito, por que é que eles, os seus seguidores, que sempre cumpriram as suas leis, sempre o idolatraram, sempre o temeram, nunca acreditaram em Você? Caramba! Custa a crer! Um povo que sempre cumpriu as suas regras, que sofreu os seus castigos, que teve as suas benesses! Bolas! Logo eles não acreditaram no filho? Antes que responda, vou tentar dar-lhe a minha ideia dos factos. Depois dê-me a sua.
Penso que, assim de repente aparecer um homem a intitular-se filho de deus, seria para eles um sacrilégio. Então deus, um ser omnipotente, omnipresente, omnisciente, completamente etéreo e fantasmagórico, que sempre se fez ouvir através de homens dignos, chefes pragmáticos e comandadores, faz-se representar por um Homem, Você, com aspecto de pedinte, pouco seguro de si, a pregar a paz, que o seu Pai nunca pregou, antes pelo contrário, a falar para os homens que devem dar a outra face em caso de ataque, eles que o que queriam eram formas de libertação do jugo Romano, eles que queriam ser independentes e dignos, aparece Você a dizer-lhes para serem bonzinhos e darem aos pobres, ah!ah!ah! Dizer isso a Judeus, que sempre amealharam e nunca gostaram de dar nada a ninguém? Ou eu estou enganado ou a política lá de cima, veio muito mal estudada. Será que se enganaram? Você devia era ter aparecido aqui, na Península Ibérica, com os seus ensinamentos escusávamos de ter andado permanentemente à porrada, não tínhamos expulsado os Árabes, que coitados, estavam cá há 1100 anos. Quem sabe não estaríamos mais instruídos, a gostar de matemática e de ciências em que eles eram pródigos. Continuávamos pobres, como agora, mas não estávamos tão preocupados. Teríamos garantido o reino dos Céus para descansar, que é o que nós gostamos mais!
O meu interlocutor ficou calado por um bocado, mas depressa se refez.
– Você, para ateu, até nem é estúpido de todo. Não deixa de haver uma certa razão no que diz. Realmente andei a pregar aos peixes e deitei pérolas a porcos. Aquelas bestas...
– Jesus! Não pude deixar de retorquir. Tenha lá cuidado com a língua. Não se chama isso àqueles desgraçados
– Tem razão, não devia empregar estas palavras, mas tenho andado por aí, visitei alguns locais frequentados pela juventude e olhe...estou a apanhar o jeito deles falarem. Mas, dizia eu, aqueles famigerados não mereceram o latim, digo o aramaico, já não sei, talvez o hebraico, que andei a gastar. Houve uns quantos que me escutaram e seguiram, outros acreditaram em mim pelo bem que lhes fiz, curei uns, fiz ver outros, pus outros a andar quando eram coxos... enfim, esforcei-me e veja-se a paga. A maioria assim que instada pela turba, bem me entregou aos romanos que me penduraram num instrumento de tortura que usavam para os bandidos e ladrões. Não tiveram coragem de me lapidarem, como faziam aos apóstatas na época. Felizmente, aqueles que me escutaram encarregaram-se depois de transmitir a minha palavra.
– Depois? Perguntei eu. Muito depois! A sua palavra levou tempo a chegar aos ouvidos da populaça. E continuou a não ser escutada pelos Judeus. Esses nunca acreditaram em si. Ainda hoje esperam o Messias! Só os romanos, muitos anos mais tarde foram levados pela palavra escrita dos ditos seus seguidores e, segundo parece, nem foi a palavra de todos. Diga-me cá, aquela coisa dos escritos apócrifos é verdadeira? Segundo parece, nem só Lucas, Mateus, Paulo e João escreveram sobre a sua vida, obra e morte? Outros o fizeram também e disseram coisas muito díspares do que é costume ouvirmos. Parece que esses escritos nunca o trataram como divindade, mas sim apenas como homem. Homem profeta de deus claro! Mas Humano como todos nós. Diga-me cá, aquilo de ter casado com a Madalena sempre foi verdade? Segundo se anda a contar por aí ela até era de sangue Real e uma grande dama. Porquê alguns dos seus seguidores a quererem vilipendiar ao ponto de a tratarem como prostituta? Isso não se faz!
Jesus ficou pensativo. Ia a responder, abriu a boca mas não proferiu palavra. Ficou calado durante um bom bocado. Já começava a desesperar por uma resposta quando ele diz:
– Meu amigo, julgo que já posso tratá-lo assim, apesar de você não ser um dos meus seguidores, vejo que não tem má índole e até conhece um pouco do que foi a minha vida. Hoje estou um pouco cansado. Se quiser aparecer amanhã eu dou-lhe uma explicação para o facto.
Despedi-me daquele homem. Já não sabia o que pensar. O tipo não era assim tão maluco. Poderia ser? Não! Não posso acreditar nisso! Será que estou a ficar maluco também? De qualquer modo amanhã cá estarei.

sábado, 24 de março de 2012

AS MINHAS CONVERSAS COM JESUS (I)

Nota: Espero que os meus leitores (parece que há alguns, o contador de lvisualizações conta 402) tenham a paciência de ler 12 conversas que tive com Jesus (2004). Vou publicar uma por dia.

Prólogo



Sou um ateu convicto. Tenho tanto direito de o ser como qualquer crente de ter fé. Educado e criado na religião católica comecei a afastar-me ao não encontrar respostas para as minhas dúvidas. A Igreja em vez de me esclarecer ainda mais contribuiu para as mesmas. Fui lendo e aprendendo. Fui meditando e conversando. A ideia de um deus criador, omnipotente, omnisciente, omnipresente e fantasmagórico foi morrendo e desvaneceu-se completamente. A ciência acabou por me esvaziar totalmente da ideia de deus.
Durante o meu curso secundário fui o melhor aluno a religião e moral. Sempre me deslumbrei com as escrituras, principalmente aquelas partes que se referiam a confrontos e lutas entre os bons e os maus. Hoje já não sei se os maus seriam assim tão maus. Pela vida fora tenho sido um leitor de temas religiosos. Fascina-me tentar compreender por que o homem sempre precisou de acreditar em algo de sobrenatural. Adorava ter conhecido um profeta. Falar com Maomé deveria ter sido fascinante. Com Jesus seria óptimo. E porque não? Tudo é possível...


Conversa I


Gosto de andar, quando não tenho que fazer, dou umas voltas a pé. É uma maneira de fazer exercício e manter as pernas em forma para, durante a época cinegética, não deixar fugir as perdizes. Saio de casa, vou tomar café ao sítio do costume, vou até ao quiosque onde o proprietário estende os jornais num cordel, leio as páginas da frente, dou a volta, leio as páginas traseiras e fico a saber tudo sobre o País. Uma destas manhãs sentei-me num dos bancos do largo, à sombra, e fiquei um bom bocado por ali a apreciar os passantes. É giríssimo ver os transeuntes. Uns apressados, outros que fazem o mesmo que eu e se limitam a estar e observar, outros que entram nos estabelecimentos e compram, outros que vêem montras e não compram nada, a vida está má e o dinheiro não sobra, outros que compram aos vendedores ambulantes que com um olho no cliente e outro na polícia, fazem estendal da mercadoria. Estava eu absorto nestas contemplações quando reparei num indivíduo que, bem vestido, fato e gravata, de bom corte, boa aparência, cabelo para o comprido, moreno, barbicha, se sentou ao meu lado olhando para mim com alguma insistência. Achei estranho. Normalmente não sou desconfiado mas, com o que vemos e lemos, anda por aí muito homossexual no engate. Não que tenha algo contra os homossexuais. Cada um é como é, mas tentarem engatar-me ali e aquela hora era para mim algo de novo e desconhecido. Já estava a embirrar com aquilo, quando o tipo me dirigiu a palavra.
– O meu caro senhor desculpe a minha insistência no olhar, mas escolhi-o para me dar a conhecer e gostava de ter consigo uma conversa...
Mau, mau, aquilo cada vez me parecia mais estranho e estava quase a levantar-me e mandar o tipo à fava, quando o tal me diz:
– Eu sou Jesus! Quero dialogar consigo sobre a minha missão na Terra.
Pensei para comigo que o tipo era maluco. Vinha agora um gajo daqueles, todo triques, com aspecto de executivo de multinacional, diz-me que é Jesus e qual é o meu papel? Fiquei com uma enormíssima vontade de rir mas felizmente não me desmanchei. Olhei o tipo de frente, disposto a não contrariar a maluqueira, como é norma. Nessa altura algo no seu olhar e maneira de estar, deixou-me confuso. O tipo tinha todo o ar de quem estava convencido daquilo que dizia. Resolvi dar conversa para ver até que ponto ele seria capaz de levar avante a sua ideia.
– Ah! Então o Senhor é Jesus? O Cristo?
– Sim, disse ele.
– Mas não parece, Jesus não vestia assim. Tinha uma túnica pobre, de fiapos.
– Então o meu amigo queria que eu aparecesse aqui, em pleno século XXI, de túnica como andei lá Palestina? Era a mesma coisa que ter aparecido lá, naquela época, com o fato que tenho agora!
Realmente, o gajo era coerente. Ninguém iria acreditar num tipo de túnica e descalço a pregar em pleno largo. Apareceria logo o carro hospitalar ou a Ramona para o levar ao Hospício ou à prisão. Como a conversa me começou a agradar, continuei:
– Então? Você é o filho do Carpinteiro, o José?
– Sim, disse. Ou melhor, filho dele eu não era, mas sabe, na época também havia a maledicência e era preciso preservar a honra da minha Mãe, muitas pessoas ainda não sabiam da minha divindade...
– Compreendo, disse eu. Teria feito o mesmo, mas seu Pai, ou melhor, seu Tutor não se sentia assim mal por ser casado com tão bela mulher e...ela ter um filho que não era seu? Devia ser difícil para ele essa de filho de deus... a dúvida devia rondar permanentemente a sua mente.
 – Talvez, mas a sua crença no seu Deus era enorme e a sua paixão por minha Mãe era grande, tinha aceitado a situação de abstinência. Mesmo que alguma dúvida o tenha atormentado, nunca o demonstrou.
– E então, o...o...o Caro Jesus voltou agora...2004 anos depois, porquê? A sua passagem pela Terra, apesar de naquela época ter sido pouco apreciada, teve, bastantes anos depois, uma repercussão enorme. Os seguidores hoje são milhões. Não lhe chegou? O que ficou mal?
– Sabe, a minha vinda à Terra foi um imperativo de meu Pai, o outro...sim Deus. Os crentes andavam descontentes, a humanidade estava uma porcaria, ninguém se entendia, os poderosos comandavam tudo, os escravos e os pobres nada tinham e eram completamente manipulados pelos donos. Já começava a haver muita descrença no Pai. Era necessário que aparecesse alguém, terreno, de carne e osso, que viesse convencer os humanos que a salvação estava no reino dos Céus junto do Pai.
Nessa altura retorqui:
– Bem, mas isso não iria mudar a vida dos desgraçados, apenas lhes iria dar uma esperança numa vida para além da terrena e, só iria fazer que aceitassem com resignação a vida desgraçada que levavam pois teriam o descanso eterno. Não acha isso muito injusto e, além disso, demasiado conveniente para os ricos e escravizadores? Parece ser, além de pouca, uma compensação algo controversa e não completamente convincente. E, já agora, por que voltou? A mensagem, na altura, não passou? Mas olhe, Jesus, tenho de ir embora pois a minha mulher já deve estar a estranhar a demora. Mas antes de acabarmos por hoje esta conversa gostava que me dissesse por que me escolheu a mim, um ateu, para conversar sobre isto?
– Meu Caro acha que se eu aparecesse a um crente ele me daria a atenção que me deu até aqui? Desataria aos gritos, chamava a Polícia e ainda me crucificavam de novo antes de poder deixar uma nova mensagem. Assim, consigo, uma pessoa interessada e ouvinte, poderei ter algum êxito na minha nova missão.
Nesta altura eu estava a ficar convencido do interesse da conversa, apesar da maluquice do indivíduo, ainda estar na minha mente, mas disse-lhe:
– Olhe, gostei de falar consigo, se quiser ter a amabilidade de voltar amanhã, poderemos continuar.
– OK. Disse ele. Até amanhã.
Achei piada à expressão. Este Jesus estava bem moderno. Amanhã cá estarei. Não vou perder isto nem por nada.



sexta-feira, 23 de março de 2012

As Páscoas

(Texto escrito para ser lido na escola, pela filha da minha empregada, por altutra da Páscoa. O mote era a Páscoa)



Um menino foi passear com a Mãe para um jardim muito bonito. A Mãe fez-lhe um lanche para ele levar e disse-lhe que se fosse sentar num banco enquanto comia. Entretanto um velhote sentou-se ao seu lado para descansar. O menino vendo que ele não trazia nada para comer perguntou-lhe educadamente se ele era servido do seu lanche. O velhinho agradeceu mas recusou. Disse que estava muito cheio pois tinha tido, de véspera o seu jantar de Páscoa com a família toda e que ainda estava enfartado pois tinha comido muito borrego assado. O menino perguntou: – Vocês comem borrego assado na Páscoa? – Sim. Respondeu. – Nós, os Judeus comemos sempre borrego na Páscoa. – Tu és Judeu? Perguntou o garoto. – O que é ser Judeu?
Então, o velhote, resolveu explicar ao menino, que há muitos e diferentes povos com costumes, tradições e religiões diversas mas que essas diferenças não devem afastar as pessoas, mas sim uni-las e até fazer com que aprendam o porquê das diferenças. E começou a contar:
– Há muitos anos o povo Judeu foi viver para um País chamado Egipto e por lá andou muitos anos. O meu Povo adorava um único Deus ao qual obedeciam segundo aquilo que se encontrava escrito num livro chamado Bíblia. Esse livro foi sendo escrito ao longo dos tempos por pessoas que se diziam enviadas por Deus e todos nós seguíamos os seus ensinamentos como se da palavra do próprio Deus se tratasse. Os Egípcios, por seu lado, adoravam vários deuses e ficavam muito zangados por os Judeus dizerem que o seu Deus é que era o verdadeiro. Então os Egípcios zangados prenderam todos os Judeus e fizeram deles seus escravos obrigando-os a trabalhar à força sem lhes pagarem e ainda por cima com muitos castigos. Um dia apareceu um homem chamado Moisés, que tendo sido criado pelos Egípcios, se veio a saber que era Judeu. Esse homem tornou-se o chefe dos Judeus e resolveu libertá-los do cativeiro (explicar o que quer dizer cativeiro) e levá-los para uma Terra que se dizia ser a Terra que Deus lhes prometera. Como os Egípcios não os queriam deixar ir, pois assim perderiam os seus escravos (explicar o que é escravidão), o Moisés pediu ajuda ao seu Deus e este enviou para a terra castigos contra os Egípcios. Para que os castigos só caíssem em cima destes e não dos Judeus, Deus disse que em todas as casa judias, os seus ocupantes, teriam de matar um borrego e com o sangue deste fazer uma cruz na porta pois assim os males enviados (castigos) saberiam que as casas eram de Judeus e não entravam. Os Egípcios, com medo dos castigos, acabaram por deixar sair os Judeus que foram com o Moisés para a tal terra prometida. Essa terra é a Palestina onde actualmente muitos Judeus vivem num País chamado Israel. Desde esse tempo os Judeus comemoram esta época como a sua Páscoa e por tradição matam um borrego e comem-no com toda a Família, estejam em que sítios estiverem. É pois esta, a Páscoa dos Judeus.
O menino ouviu esta história com muito interesse e disse: – Mas a nossa Páscoa não tem esse motivo! – Pois não. Disse o velho. – Vocês, aqueles que acreditam em Jesus, comemoram a Páscoa nesta época porque foi neste tempo que Jesus foi preso pelos Romanos e posto na cruz. Como Vocês acreditam que Jesus voltou a viver, ressuscitou, fazem deste tempo festa como nós fazemos por motivo diferente. Estas histórias são muito antigas e estão escritas em livros também muito antigos. As pessoas têm o direito de acreditar naquilo que pensam ser a verdade, mesmo que às vezes a verdade não seja essa. O facto das pessoas acreditarem em histórias diferentes, não as faz também diferentes. Devemos, portanto, aceitar que os outros pensem de forma diversa da nossa. Todas as pessoas são seres humanos e iguais, mesmo que a cor da pele e a forma de falarem e a sua religião seja diferente. Não devemos pois, pôr de parte as pessoas que não pensam da mesma forma que nós. Com eles só teremos a aprender, assim como eles aprenderão connosco. Não devemos nunca fazer o que os Egípcios fizeram escravizando e guerreando um povo inteiro só por terem outra religião.
O menino aprendeu a lição e ficou muito amigo do senhor mais velho que não tinha a mesma religião que ele, mas que era bom, sabedor e contava histórias muito interessantes.
Em casa o menino contou à Mãe a conversa que tinha tido com o velhinho e também que tinha ficado a saber que havia duas Páscoas diferentes mas que as duas tinham o mesmo valor para as famílias.
…. //….

Comentário do autor. (obviamente não lido às criancinhas)

Ao escrever isto estou a engolir sapos, porque os judeus em Israel fizeram aos palestinianos o que os egípcios fizeram aos seus ancestros. Correram com eles para fora das fronteiras duma terra que lhes pertencia e ainda lhes roubaram mais uns bocadinhos à volta “à cause des mouches”, e aos que ficaram, não lhes deram os mesmos direitos. Isto, por seu lado, fez com que os palestinianos ficassem bravos de todo e, como não têm o mesmo poder, diga-se estruturas e armamento, armaram uns homens-bomba que rebentam com os Israelitas. Por outro lado, os cristãos, que nunca perdoaram aos Judeus o terem pedido a crucificação de Cristo ao desgraçado do Pilatos, que nem queria meter-se no assunto e até lavou as mãos, de tão sujas que estavam de tanta crucificação, começaram a perseguir e queimar Judeus e, até houve um gajo, de bigode à Charlot, que pegou na ideia e churrascou uns milhões deles. Como Palestinianos são árabes e estes,  tendo o mesmo deus, dizem eles, mas não acreditam na divindade de Jesus, os Cristãos, bonzinhos, aproveitaram as divergências e toca de lhes mover caça grossa, correr com eles das suas terras e roubar também as deles através de uma guerra, chamada “santa” pois era em nome de deus. Tiveram os Cristãos tanto trabalho a promover o seu profeta divino, e bem promovido que quem não acreditava era queimado na fogueira. Queimaram, arrancaram as unhas, esmagaram os testículos e arrancaram os olhos a tantos durante 400 anos, que mais ninguém se atreveu a duvidar. Claro que chateados com tanta perseguição os gajos que acreditavam que tinha havido um deles a quem Allah ditou um livro apesar de ser analfabeto, chatearam-se e, apareceu até um, o Bin Laden, que se zangou. Conclusão: lá foram para o galheiro as torres gémeas orgulho dos Américas. Os Américas fanaticamente crentes e devotos a Cristo, mas que também gostam muito de petróleo, toca de perseguir os terroristas e pelo sim pelo não ficar também a administrar as terrinhas deles onde há uns buraquinhos que jorram aquele liquidozinho de que tanto gostam.
Tudo isto, resultado das diferenças entre tipos com pele diferente e diferente religião que no fim são todos criação da divindade que, segundo dizem, é amor e bondade. Porra! Se isto é bondade…???
O Zéquinha se estivesse nesta escola diria: – F***-se! Se isso é serem amigos e solidários, prefiro ter inimigos.
Eu cá por mim gostava era de ser cão!!!

Rui Cabral Telo


quarta-feira, 21 de março de 2012

A consubstanciação


Nota: Desculpem o vernáculo, mas sem ele não era a mesma coisa...

.....

A faixa, Por cima do portão lateral da Igreja, tinha escrito: “Deus é amor. Evangelizar é divulgar e consolidar o amor”.
Como se a divulgação de um mito seja propagação de amor. Tudo na vida, para ser considerado verdade tem de ser provado. Os mitos nunca foram provados. São apenas relatos fictícios de existências dúbias. Os evangelhos, as mitologias, grega e romana, todas as vidas dos variadíssimos deuses, são mitos mais ou menos bem construídos para levarem o povo a acreditar nas verdades que interessam aos seus inventores/seguidores/ sacerdotes, de modo a poderem controlar mentes/corpos/atitudes e com isso garantirem o poder. Todos os mitos religiosos têm vindo a ser construídos através dos tempos, sendo uns desacreditados ou esquecidos, mantendo-se outros pelo trabalho árduo de seitas organizadas com o fim de lavarem os cérebros dos pobres crentes que, levados pelas gerações anteriores ficam a acreditar piamente naquela cultura que lhes foi ensinada, desde sempre, como verdadeira e imutável. A construção de tais mitos até nem tem sido muito criativa pois que uns são cópias descaradas de outros com roupagens diferentes. Os cultos, Mariano, de Astarte ou Artemisa, têm imensas parecenças. Jesus o Cristo é uma cópia de Mitra e este de Dionisius, Krishna e de outros anteriores. Vários deuses foram nascidos de virgens e em Dezembro tendo ressuscitado três dias após a morte, subido aos céus, etc… etc… As trindades já vêm da antiguidade, Osíris, Isis,  Hórus, no Egipto, Visnu, Shiva, Brahma, na Índia, e outras mais, deram origem ao Pai, Filho e Espírito Santo dos Cristãos. As escrituras e evangelhos além de estarem repletos de imprecisões, mentiras e apelos à violência, são também relatos da crueldade dos homens. Mas vá lá um não crente tentar demonstrar isto aos créus. É visto como um ímpio e muita sorte terá se não for escorraçado e apedrejado. Nunca um ateu começou uma guerra por motivo da sua não crença, vejam-se, na história, as guerras iniciadas e mantidas ainda hoje por motivos e bases religiosas. Mas os crentes têm medo de pensar porque pensar pode criar dúvidas e duvidar é pecado. Foi pensando em tudo isto que assisti a uma cena que me levou a fantasiar…
A mulher, mulata de meia-idade, óculos na ponta do nariz, vestidinha assim-assim, sapatos pretos um pouco cambados mas limpinhos, no passeio do outro lado da rua, passou pelo pano branco estendido sem o ver, mas ao atravessar pela frente da porta da Igreja, fez o sinal da cruz terminando devotamente a olhar para baixo de olhos semicerrados. Com esta distracção deu uma tremenda topada num paralelepípedo que se encontrava um pouco levantado no passeio, soltando um audível “porra!!!”
Com o desequilíbrio teve de dar três passos à frente em velocidade não controlada, indo violentamente de encontro a um incauto cidadão que por ali se encontrava lendo pacatamente as primeiras páginas dos jornais estendidos com molas da roupa no painel do quiosque.
– Merda para este paspalhão que está aqui armado em espantalho e não deixa passar as pessoas!
O cidadão, passada a estupefacção do encontrão, reage desta forma completamente irado e de face alterada:
– Estúpida preta de merda, velha gagá! Não vê por onde anda, esbarra violentamente numa pessoa de bem e ainda vem para aqui invectivar um pacato cidadão.
E, completamente exaltado, dá um tremendo empurrão na mulher que se desequilibra e fica sentada no chão. Daí, soltando chispas do olhar, deita a mão à bolsa, tira de lá uma bruta navalha de ponta e mola e levantando-se com uma ligeireza, que o seu aspecto não deixava prever, atira-se contra o homem que recua, mais pelo insólito da reacção do que propriamente do medo, mas após recuperar o sangue-frio, vira-se à velha tentando agarrar-lhe o braço armado. A partir daí as coisas completamente descontroladas, descambam em arranhadelas, pontapés, palavrões tipo “puta da velha”, “cabrão de merda”, puta-que-a-pariu”, “não tens tomates para mim”, etc… As vestes rompem-se, o sangue jorra dos arranhões e dos golpes, felizmente superficiais, os cabelos desgrenham-se, sapatos saltam para as valetas, uma pacata cidadã desmaia, um velhote trôpego, de canadiana foge, tentando correr, pé aqui, muleta acolá, e praguejando foda-se… foda-se… (que me perdoe o Diniz Machado pelo plágio).
É aqui que se começa a dar o milagre. O Cristo no altar, bem ao fundo da Igreja, “vendo” que a aura de amor, que ficara na cabeça da senhora após o católico gesto do sinal da cruz, se tinha desvanecido completamente, resolveu materializar-se e, saindo do santo lenho, com os membros doridos por dois mil anos de inacção naquela incómoda posição, corre pela porta do templo e dirigindo-se aos contendores, mete-se pelo meio tentando afastá-los e dizendo:
– Não esqueçam o amor em Cristo, de Cristo e para Cristo. Peçam perdão das vossas ofensas e perdoem a quem os ofende.
E o milagre deu-se. A contenda parou. Parou mas foi entre os beligerantes. Após a estupefacção por aquela estranha aparição, voltam-se ambos contra o novo personagem. O homem vai direito ao divino ser e grita-lhe:
– Drogado de merda! Que queres tu daqui esquizofrénico de uma porra! Vens para aqui da tanga, cabeludo e barbudo? Quem és tu para julgares os outros? Vai mas é à merda e desaparece, esqueleto infecto!
E juntando o gesto às palavras dá-lhe uma tremenda bofetada esparramando a insólita personagem pela calçada. O pobre, dizendo mal da sua sorte, arrasta-se até ao passeio e senta-se agarrado à face dorida. A mulata, apanha do chão a canadiana do velho, que entretanto se estatelara ao olhar para a cena não tendo visto o término do passeio, e ferra na aureolada cabeça, valente cacetada que quase deixa o re-ressuscitado inconsciente.
Começam a ouvir-se as sirenes do carro da polícia que, entretanto, uma indignada senhora tinha chamado pelo telemóvel. Dois guardas, um masculino, outro feminino, saem do carro dirigindo-se aos contendores pronunciando alto e bom som o clássico:
 – “ O que se passa aqui?”
Nesta altura, terminadas as beligerâncias, toda a gente tenta justificar-se perante a autoridade, num sobrepor de vozes e tentativas de explicações. Perante tal confusão os polícias gritam: – Tudo para a esquadra! E vai daí agarram o homem e a mulher dirigindo-se para a viatura.
Foi então que a mulher-polícia, olhando para trás e vendo o homem seminu sentado no passeio, exclama: – Então e aquele?
O pobre coitado estava completamente descorçoado. Já não se pode pugnar pelo homem. A criação divina está acabada. Ou então nunca começou. E tinha ele deixado que o crucificassem para remissão dos pecados humanos. Grande treta! E os humanos? Ligaram alguma coisa a tal facto? Benzem-se, persignam-se, não sabem o que tudo isso quer dizer. E será que quer dizer alguma coisa? Enquanto a agente da autoridade se dirigia para ele, pensou tudo isto. Terá valido a pena? Tenho de ser preso? Outra vez? Passar tudo de novo? E se me voltam a crucificar? Bah! Que se lixe a Humanidade. O melhor mesmo é não existir. E esfumou-se perante os olhares atónitos de todos os presentes voltando para a cruz no cimo do altar. Os crentes, que rezavam na Igreja, nem deram por nada.
Como as coisas se passariam, se:

  1. A humanidade não fosse criação de deuses.
  2. Não se tivessem organizado seitas oportunistas exploradoras das superstições dos homens.
  3. As mentes não diferenciassem as cores de pele dos humanos.

A mulher seguia pelo passeio falando com os seus botões. A filha, coitada, tinha-lhe pedido para ir comprar uns ténis baratos para o neto, ela não podia faltar no emprego, as avós têm, nos tempos que correm, de substituir os pais nestes pequenos afazeres. De tão preocupada que ia não reparou no paralelepípedo levantado no passeio e deu enorme tropeço que a obrigou a correr em frente para recuperar o equilíbrio indo de encontro a um senhor que pacatamente lia os cabeçalhos dos jornais expostos no painel do quiosque.
– Ai desculpe mas foi sem querer, tropecei e perdi o equilíbrio.
– Não tem importância, minha senhora. Aleijou-se?
– Dei um pequeno torcegão ao pé, que me dói um pouco e julgo que parti um salto.
– Olhe. Deixe-se estar que eu ajudo-a. Tenho ali o carro e vamos a minha casa. A minha mulher tem mais ou menos a sua estatura e deve ter por lá um par de sapatos que lhe empreste.
A pobre senhora não queria incomodar, estava já sem tempo, tinha de voltar a casa, o neto estava só e ainda era preciso fazer o almoço para os três.
– Deixe estar obrigada, não se incomode pois estou sem tempo. E tentou andar o que não conseguiu devido à diferença de alturas nos sapatos.
– Eu não disse! Está a ver. Vamos num instante que isso já se resolve.
A mulher, um pouco timidamente, lá condescendeu. O senhor tinha cara de gente honesta e não havia motivo para o não ser. Já não era nova nem bonita, certamente não o moveria a volúpia, além disso disse-se logo casado. Também não seria para a roubar, via-se bem que ela não era pessoa de posses e nem jóias usava.
– Então está bem. Agradeço bastante a sua ajuda.
O homem ajudou-a até ao carro, um modesto calhambeque, comprado em segunda mão com muito esforço, e rumaram até ao bairro camarário onde vivia numa humilde casa conseguida através de um pedido que fizera à câmara, tendo-lhe calhado em sorte aquando da distribuição pelos muitos candidatos.
Ao chegarem, a sua mulher recebeu a senhora com todo o carinho, logo após que ouviu o relato dos factos.
– Não há problema nenhum vou já buscar uns sapatos meus, temos mais ou menos o mesmo tamanho de pé, vai ver que lhe vão assentar bem.
Voltou com uns sapatos, o frasco do álcool etílico e um maço de algodão. Depois de dar uma massagem no pé um pouco inchado, calçou-lhe os sapatos dizendo:
– Experimente andar um pouco.
Depois de uns pequenos passos, com o pé ainda um pouco dorido, lá se verificou que os sapatos pareciam ter sido feitos para ela. – Olhe que bom. Parecem meus. Amanhã já venho devolver-lhos.
– Não se preocupe, eu já nem os usava. São do meu tamanho mas o feitio de forma não se dá com o meu pé. Até estava para os dar a alguém que precisasse. Assim ficam já para si.
A pobre senhora, com as lágrimas nos olhos, cheia de gratidão, mas com alguma vergonha, desfez-se em agradecimentos enaltecendo a bondade dos dois e que tinha muita pena de ter que se ir já embora por causa da filha e do neto quando o que lhe apetecia era ficar ali no aconchego daquela casa conversando com o simpático casal.
– Deixe que o meu marido vai levá-la a casa e já agora vai levar uns pastelinhos de bacalhau que acabei de fazer e são demais para o nosso almoço. Assim só precisa de fazer um arrozinho e perde menos tempo.
Depois das despedidas e promessas de que se haviam de voltar a encontrar, em circunstâncias menos problemáticas, para se conhecerem melhor, lá se meteram no carro.
O homem deixou a senhora à porta de casa não sem antes lhe recomendar que deveria dar uns banhos de água salgada ao pé para mais rapidamente lhe passar a dor e o pequeno inchaço. Depois de muitos agradecimentos pelo simpático acolhimento e ajuda, a mulher subiu as escadas.
Quando o neto lhe abriu a porta, as lágrimas escorriam-lhe pela face.
– Estás a chorar Avó?
– De alegria meu filho! De alegria!
Deveria ter sido assim. Mas não foi. O John Lennon é que tinha razão…



Imagine

Imagine there's no heaven,
It's easy if you try,
No hell below us,
Above us only sky,
Imagine all the people
living for today...

Imagine there's no countries,
It isn't hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the people
living life in peace...

Imagine no possessions,
I wonder if you can,
No need for greed or hunger,
A brotherhood of men,
imagine all the people
Sharing all the world...

You may say I'm a dreamer,
but I’m not the only one,
I hope some day you'll join us,
And the world will live as one

Imagine

Imaginem que não há paraíso,
É fácil se tentarem.
Nenhum inferno abaixo de nós,
Sobre nós apenas o céu.
Imaginem todas as pessoas
Vivendo pelo hoje...

Imaginem que não existiam países,
Não é difícil de o fazer,
Nada porque matar ou morrer,
Nenhuma religião também.
Imaginem todas as pessoas
Vivendo a vida em paz...

Imaginem nenhuma propriedade,
Eu maravilho-me se conseguirem.
Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
Uma fraternidade de homens.
Imaginem todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo.

Podem dizer que sou sonhador,
Mas eu não sou o único.
Eu espero que algum dia se juntem a nós,
E o mundo viverá como um só.