terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Os Filhos da Sombra

(Livro de Valentino Viegas)

Sem “saber ler nem escrever”, como sói dizer-se, sou “atirado” para o papel de crítico literário, não reconhecendo em mim capacidade para tal. Conheci Valentino Viegas por frequentarmos a mesma piscina, onde praticamos natação livre para tentarmos manter o “físico”.  Começámos a nossa relação de amizade, por ter eu passado sete dias no antigo Estado Português da Índia, em Goa, sua terra natal, aquando da minha viagem para Timor em comissão militar, assim como por termos conhecido a guerra, eu em Nambuangongo e ele na Fazenda Liberato, em Angola e também pela sua estadia em Moçambique, que ambos conhecemos. Essa amizade tem sido consolidada através de gostos idênticos pela leitura e escrita. Claro que em termos de escrita eu sou um amador que limita a sua actividade a um blog e umas tentativas pseudo-literárias de uns escritos policiais por o talento não dar para mais. Ao ler o livro do meu amigo Valentino, A Morte de O Herói Português, resolvi escrever, sobre o mesmo, aquilo que me tinha parecido ser o essencial do tema. O meu amigo gostou e até me pediu autorização para publicar o “escrito” no Boletim da Casa de Goa. Agora, que acabei de ler o seu livro Os Filhos da Sombra, fui de novo solicitado a escrever algo sobre o mesmo e, com alguma falta de talento, aqui estou a não virar a cara a tão difícil tarefa.
Valentino Viegas, nesta sua publicação romanceada, mas que se nos afigura autobiográfica logo de início, escreve sobre um goês que se vê na necessidade de abandonar a sua terra natal devido à invasão e anexação de Goa pelas tropas da União Indiana. A forma usada pelo autor é uma técnica de “flashbacks” sucessivos, tornando muito interessantes as alterações de narrativa, à medida que o seu “Daniel” vai mudando de território e de cenário. Muito atento a tudo que o rodeia, Valentino tem sempre em mente as personagens de vidas mais desfavorecidas. Quem frequenta assiduamente o metropolitano de Lisboa, certamente reconhecerá o invisual que arrastando os pés pede esmola com um pote metálico ao pescoço, sacudindo-o e fazendo tilintar as poucas moedas que os mais condoídos lá vão metendo. Também de certeza reconhecerão o homem dos assobios que recolhe o que pode dos caixotes do lixo ali da região de Benfica. Valentino refere também os seus amigos goeses, uns que ficaram, outros que como ele tomaram o mesmo ou outros rumos, mas que também sofreram com a perda de valores por abandono forçado do local das suas raízes. O descobrir de outros locais e povos durante a sua viagem para Portugal é muito bem descrito neste seu romance autobiográfico. Dou particular destaque à sua participação na guerra de África, por ter sido incorporado após a sua chegada, uma vez que, como português, e estando em idade militar, não fugiu às suas obrigações.
Por todas as situações por que passou deu sempre mostras do seu gosto pela História e pelo ensino, procurando fazer chegar aos seus amigos e camaradas, a verdade histórica de factos atribuídos aos portugueses. Sabemos que Valentino, depois de tanta demanda, se licenciou e doutorou em História. Neste seu livro descreve muito bem, os sentimentos dos homens, que tendo sido obrigados a participar numa guerra distante e em territórios que nada lhes diziam e que não sentiam como sua, mas que quando em luta não viraram a cara e nela se embrenharam porque lhes tinham incutido na ideia lutarem pela Pátria.
Muito bem escrito, em linguagem correcta e compreensível, é um livro que todos os portugueses deviam conhecer para ficarem cientes do que a manutenção demasiado prolongada de um Império, mantido contra-natura, provocou em povos obrigados a desenraizarem-se.

Uma obra que vale a pena.

domingo, 21 de janeiro de 2018

A historicidade de Jesus


Ao longo dos tempos, a Igreja, dita católica apostólica romana, tem feito esforços para tentar meter Jesus, o Cristo, na História e, para isso, tem cometido as maiores patifarias. E digo patifarias porque o são mesmo. Temos os montes de “relíquias” do santo lenho e, são tantas, que se juntassem todas, teríamos pelo menos uma pequena floresta desbastada para as produzir. Aparece depois o sudário de Turim, que ainda lá está e continua a ser venerado mesmo depois de já ter sido mais que publicado o desmentido da sua veracidade, pois submetido ao teste do Carbono 14, se provou ter sido “construído” por volta de 1530. Há também miríades de bocados da túnica, que já davam para fazer uma camisaria. Temos depois aquilo que os cristãos consideram a maior prova histórica de Jesus, Flávio Josefo. Este historiador judeu, nasceu à volta de 5 anos após a morte de Cristo. Um amigo teve a amabilidade de me enviar um pdf com a história judaica de Flávio Josefo. Comecei a ler cheio de coragem, mas rapidamente comecei a ler “atravessado” pois que no início, Josefo se limita praticamente a transcrever a bíblia dos vários livros do Pentateuco, o que para mim foi uma má surpresa. Pensava Josefo um historiador autêntico e não um copista de textos “sagrados”, mas… enfim.
Levei um tempão até chegar a Herodes. A partir daqui comecei a ler totalmente, pois queria chegar rapidamente ao seu filho Herodes Antipas, que não foi rei, mas apenas tetrarca. Fala-se na sua mulher Herodíade viúva de seu irmão, mas nem uma linha sobre Salomé e a decapitação de João Baptista, ou então eu estou zarolho de todo. Também não fala na “morte dos inocentes” ordenada ainda por Herodes O Grande. Mas, eureka! Aparece isto:
“772. Nesse mesmo tempo, apareceu JESUS, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muito judeus, mas também por muitos gentios. Ele era o CRISTO. Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas haviam predito, dizendo também que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.”
Continuei a ler e, para meu espanto, mais nada aparece. E agora eu pergunto: Só isto? Não mereceu mais?
Entretanto fiz umas pesquisas no Google e encontrei isto:

Cristo nasceu entre os anos 7 e 4 a.C., mas muitos negam a sua existência histórica, até porque Flávio Josefo, o único historiador antigo que teria se referido a ele, nasceu aproximadamente 5 anos após a sua morte e os escritos do Novo Testamento, na maioria, não decorrem de discípulos, mas de apóstolos. Ademais, as poucas linhas do livro de Flávio Josefo (Guerras Judaicas) que se referem a Cristo foram, comprovadamente, alteradas/enxertadas por líderes religiosos da Idade Média.[2]
Pois, comprovadamente.  O texto foi submetido a testes científicos e foi mesmo comprovado. Mais uma aldrabice da ICAR.

Agora, meus amigos, podem dizer: “Deixem pra lá. Fala um ateu”. Só que este ateu procura verdades. Neste caso não as encontro. Paciência.