domingo, 17 de julho de 2022

ALCARRÀS

 

Ontem sábado fui ao cinema. Já um pouco farto de americanadas, procurei um filme diferente, Alcarràs filme catalão premiado com um urso de ouro do festival de Berlim dirigido pela catalã Carla Simón e passado numa herdade de vastos pomares produtora de pêssegos. Os actores não são profissionais e o elenco infantil é soberbo.

Um velho agricultor proprietário de terras desde o fim da guerra civil registou a casa da herdade, mas esqueceu-se de registar as terras. O verdadeiro proprietário dá-lhes o prazo até ao fim do Verão para abandonarem as mesmas pois pretende vender as terras e instalar painéis solares. O filme mostra a vida de toda a família com bastante incidência no filho, motor de toda a actividade na herdade, centrando-se na apanha da fruta, rega da mesma, transporte para a cooperativa e, em todas estas actividades a colaboração de todos os familiares. Mostra também as greves e protestos pelos preços pagos pelo quilo dos pêssegos, abaixo dos custos de produção. Mas, a cineasta, com toda a simplicidade, consegue revelar os sentimentos e as ânsias de todos os elementos adultos em contraste com a inocência das crianças, que alheias ao problema encontram brincadeiras com que se entretêm. É notório o semblante preocupado da filha adolescente que vê o pai, figura central do filme, mais entretido com a cunhada, mais nova e divertida que a mãe e esta de semblante triste. É, pois, uma película simples, corrente, sem grandes sobressaltos, mas que também mostra os problemas da juventude, como o filho mais velho do casal que no meio do milho alto cultiva uns pés de canábis e fuma uns charros. O pai vê-o de longe, nada diz, mas uma noite queima-lhe as plantas todas. Como vingança, o rapaz deixa as comportas da água abertas e no dia seguinte os pessegueiros estão metidos num lamaçal que torna difícil a colheita. O moço vai para a discoteca e apanha uma bebedeira chegando tarde para o trabalho, o pai acaba por nada lhe dizer mostrando apenas o seu desagrado. O fim mostra a família a ver uma máquina a arrasar as árvores para preparação do campo de painéis solares. Uma vida inteira destruída pelo inexorável desenvolvimento…

Uma película simples, mas linda. Mereceu o prémio.