A Minha Crítica à Conferência
proferida pelo Doutor Valentino Viegas na Casa de Goa em Lisboa.
Conferência subordinada ao tema:
GOA – Salazar versus Marquês de Pombal
Quem, como eu, aprendeu história
no tempo do “botas”, teve que apanhar
com aqueles livros do situacionista António G. Matoso, cuja historiografia era
quase como uma ode a Camões na sua obra Os Lusíadas, acaba por exultar com a
forma como Valentino Viegas vê e compreende a historia. Com o Matoso tudo era
cor de rosa e os feitos dos portugueses eram cantados como se de um louvor
permanente se tratasse. Salazar adoptou-o como historiador oficial do ensino e
ai de quem estudasse por outras fontes.
Valentino Viegas, na sua alocação,
faz uma comparação de como os povos das nossas possessões eram tratados e
considerados pela legislação régia do tempo do Marquês de Pombal e como esses
mesmos povos passaram a ser tratados e considerados após o acto colonial de
António de Oliveira Salazar.
Valentino começa por referir que
até o nosso 1º rei após conquistar Lisboa (1147), para impedir o despovoamento
e necessitando de fixar mão de obra, comércio e até pela necessidade da
cobrança de impostos, concede foral aos mouros por uma carta de segurança:
“garantindo-lhes
a liberdade religiosa e conservação de propriedade mediante o pagamento de
impostos e cumprimento de obrigações. Protegidos pelo rei, foi-lhes assegurado
que nenhum cristão ou judeu os poderia lesar e que seriam julgados pelo alcaide
eleito por eles próprios”.
É seguidamente apontada por
Valentino a forma como O Marquês de Pombal, após livrar-se dos seus opositores,
Távoras e Jesuítas, decide, em nome do rei, tornar os cidadãos originais de
Goa, absolutamente iguais em direitos e deveres aos cidadãos provenientes de
Portugal.
Muito mais tarde, Oliveira
Salazar, através do seu acto colonial, vira tudo do avesso e trata esses mesmos
cidadãos como indivíduos de segunda preterindo-os em relação aos oriundos do
Continente.
Nesta pequena crítica, não me
cabe transcrever o que, Valentino trata tão pormenorizadamente. Apenas me
interessa focar a forma como antes éramos informados dos factos da nossa
história. Ficámos sempre com uma ideia cor de rosa de que Portugal era igual e
uno do Minho a Timor, mas muito mal informados estávamos das condições a que os
povos das nossas colónias, mais tarde promovidas a Províncias Ultramarinas, eram
tão ignobilmente tratados.
A conferência de Valentino Viegas
encheu a casa de Goa, certamente uma consequência do interesse que o tema
despertou. Após os aplausos merecidos, seguiu-se o debate, em que muitos
enalteceram a forma como o tema foi exposto, mas houve também alguns
discordantes que, certamente palas suas convicções religiosas e pela quase
veneração que nutriam por Salazar, referiram que não foi bem assim, que o acto
colonial tinha sido geral para todas as províncias, que em algumas os povos
ainda estariam num atraso cultural muito diferente do que sucedia em Goa e que
não seria normal tratar uns de forma diferente dos outros.
Passei por inúmeras PU, inclusive
Goa, e vi bem qual o “estatuto” a que os naturais estavam sujeitos.
Ao professor Doutor Valentino
Viegas, agradeço a excelente lição de algo que, pela forma tendenciosa como a
história nos era ensinada, nunca viríamos a saber.
Bem hajas Valentino. É excelente
ser teu Amigo.