Pois é, mais uma vez fui ao
cinema e a escolha recaiu num filme francês sobre o autor de Cyrano de
Bergerac. Desde muito cedo tomei conhecimento com a história através de um
filme de 1950, “made in USA”, (estava no Pilão e já me considerava um cinéfilo)
com o actor Jose Ferrer célebre pelo seu papel no filme Moulin Rouge, e realizado
por Michael Gordon. Gostei da história, mas só muito mais tarde me apercebi que
o autor, Edmond Rostand, tinha feito a peça totalmente em verso. Revi esse
filme nas Caldas da Rainha em 1958. Muito depois, voltei a ver o narigudo Cyrano
de Bergerac desta vez estrelado pelo excelente actor francês Gerard Depardieu e
realizado por Jean-Paul Rapeneaud e foi neste filme que me apercebi que as
falas do mesmo são o poema completo de Rostand.
Por tudo isto resolvi-me a ver Rostand
e não dei o tempo como perdido. Realizado por Alexis
Michalik, a película é-nos apresentada como comédia ligeira, mas colocada de
forma bastante séria.
Edmond
Rostant (Thomas Solivérès) era um
dramaturgo que só sabia escrever em verso e já tinha tido alguns sucessos, mas
que se encontrava numa fase sem talento e já há dois anos que nada escrevia.
Resolve então oferecer-se ao actor, muito conceituado, Benoît-Constant Coquelin
(Olivier Gourmet) para uma nova peça, uma comédia heróica a ser entregue na
época das festas. Só que tem um problema, é que ainda não a tinha escrito. Esta
peça viria a ser o clássico Cyrano de Bergerac.
Assistimos
então a uma autêntica maratona de ensaios de cenas sem que o próprio autor
ainda não saiba como as vai continuar. Ao mesmo tempo que vai conhecendo os
actores vai imaginando as cenas das personagens que interpretarão, e colocando
as suas falas em verso.
Solicita que
um seu amigo, actor com créditos em papéis de galã, interprete o papel de
apaixonado pela personagem feminina, Roxane, de rara beleza, por quem Cyrano,
seu primo, está completamente apaixonado, mas incapaz de se declarar devido à
sua fealdade por ter um descomunal nariz.
Na vida real
esse seu amigo está apaixonado pela actriz que interpreta o papel de Roxane,
mas, tal como o personagem da peça, é totalmente incapaz de falar ou escrever
algo de jeito à sua amada que aprecia as boas prosas. O nosso autor acaba por
ajudar o amigo e ser ele a escrever as belas cartas que a actriz recebe
pensando serem do seu amado. E assim, apoiado nas suas próprias palavras, se
vai construindo, nessa mistura da realidade e ficção, a excelente peça
dramática que apenas tem pouco menos de um mês para ser levada à cena. Edmond é
casado e ama a sua mulher, mas a actriz, que mais tarde se apercebe ser ele o
autor das cartas, acaba enamorada e indecisa.
A peça é um
êxito contra todas as opiniões antes formuladas e a cena final de Cyrano de
Bergerac é de um dramatismo total que deixa os espectadores em lágrimas.
Nas legendas
finais são referidas as muitas vezes que a peça foi levada à cena em inúmeros
palcos de todo o mundo, assim como todos os filmes realizados sobre o mesmo
tema.
Valeu a pena.