Nomadland (Sobreviver na América)
Depois de tanto recolhimento
obrigatório, lá consegui ir ao cinema.
O filme é realizado por uma
chinesa de 39 anos, já com algumas realizações na América, baseado num livro de
várias estórias de Jessica Bruder, mas esta imaginada e trabalhada pela própria
realizadora e produzida por ela e pela actriz principal Frances MacDormand, que
já nos tinha dado magníficas interpretações como no excelente filme 3 Cartazes
à Beira da Estrada.
Numa cidade do Nevada
completamente baseada numa importante empresa, que se desmorona e cessa a
actividade, uma trabalhadora Fern (Frances MacDormand) apanhada de surpresa como tantas outras, fica
desempregada e opta pela reforma antecipada. Depois da morte, por cancro, do
seu companheiro, não conseguindo continuar a viver ali, deixa a sua casa
desfazendo-se de quase todos os seus haveres e, ficando apenas com uma velha
carrinha que transforma numa pequena autocaravana, deita-se à estrada e passa
viver como nómada parando nos diversos parques de caravanas, onde outros
nómadas como ela, vivem em pequenas comunidades com os seus líderes, uns de carácter
religioso, outros mais filosóficos como condutores de gente sem rumo. Nos
entrementes vai empregando-se na gigante Amazon de comércio electrónico.
Quem for à espera de um filme altamente dramático com grandes
e histriónicas cenas, sai de lá altamente frustrado pois, apesar de um drama,
tudo se passa num ambiente sereno e calmo em que a arte dramática da actriz se
revela nas suas expressões faciais.
O filme retracta uma América triste, centrada nas suas
grandes empresas empregadoras de milhares de americanos, mas que os descartam
assim que as coisas descambam. Vêem-se, pois, estes empregados a braços com o
desemprego e com as pequenas reformas que mal lhes dão para viver.
Uma excelente fotografia, uma realização serena e calma, uma
excepcional actriz, numas paisagens frias e inóspitas dos grandes desertos
americanos, em que a linha das estradas é o único sinal de civilização. Fern, a
nossa personagem, é bem acolhida por todos. Inclusive, passa por casa da sua
irmã, uma burguesa abastada e bem casada, que a convida a viver com eles dado
que tem uma bela casa. Fern permanece uns dias, mas não consegue. Uma noite
regressa á sua carrinha e volta á estrada. Fern não se considera uma sem
abrigo, apenas uma sem casa.
Um filme que vale a pena, mas em que tantos óscares me
parecem um pouco descabidos.