segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Deprimido/Depressivo


Hoje estou deprimido. Deprimido mas não depressivo. Depressão é doença. Deprimido é estado de espírito. Aliás, estado de espírito é lugar-comum. Não há estados de espírito. Não pode haver estados daquilo que não existe. Espírito e alma é linguagem poética ou religiosa. Há formas de como o nosso cérebro reage a factos externos ou internos. Fica-se deprimido quando nos morre alguém de quem gostamos, quando alguém nos magoa ou outros factos da vida nos agridem. O cérebro reage e altera-nos os sentimentos. As situações deprimentes passam com o tempo, com alteração da situação que lhe deu origem, com um pedido de desculpas. As situações de depressão têm de ser tratadas com medicamentos.
Claro que com um espírito forte (vontade) consegue-se sair duma situação de depressão sem medicamentos, mas normalmente necessita-se de ajuda. Para isso existem os psicólogos e psiquiatras. Os primeiros tratam sem medicação, pela palavra, pela ajuda psíquica. Os segundos usam os chamados coletes químicos que substituíram os antigos coletes-de-forças, ambos manietam os pacientes, os químicos menos violentamente.
Não preciso de coletes. O meu estado de deprimido vai passar. Passará com o tempo, com a força de vontade. Mas os estados deprimentes deixam marcas. Tornamo-nos mais duros, mais renitentes, mais calejados.
É no estado de deprimido que tenho mais vontade de deixar no papel as minhas ideias, isto é, “o meu estado de alma” leva-me a isso. O meu cérebro congemina formas de passar ao papel não só o que me atormenta, como contar histórias ou descrever situações vividas e marcantes. Outras vezes acontece-me não contar ou descrever nada mas pura e simplesmente escrever sobre o estado em que me encontro. As situações que vivemos no dia-a-dia muitas vezes agridem-nos de tal modo que nos torna deprimidos. Continuo a referir deprimidos e não depressivos. Muito haveria a dizer sobre isto mas infelizmente não sou um Saramago.
Poderá muitas vezes confundir-se a reacção a certos factos que deprimem, com as idiossincrasias de cada um, mas não é a mesma coisa. As idiossincrasias de um indivíduo ou de um colectivo (povo, estado, nação) são formas de reacção a factos exteriores. As idiossincrasias são normalmente constantes e permanentes ou pouco mudam e quando mudam levam tempo chegando a levar gerações. Os estados deprimentes podem mudar com facilidade. A nossa reacção a um facto, pode ter hoje uma forma, amanhã outra. A propósito, gosto da palavra idiossincrasia. Faz-me recordar um livro de que gostei sobremaneira. “O Que Diz Molero” do Diniz Machado. A personagem principal, “o rapaz”, como Diniz Machado lhe chamou, tinha especial atracção por essa palavra. Eu também. Acho-a excelente. A sua sonoridade transmite-me realmente aquilo que exprime.
Vou, portanto, “matar” o que me deprime e deixar que as minhas idiossincrasias voltem a tomar conta da situação.
Obrigado por terem chegado até aqui. Estou um “chato” do caraças…

2 comentários:

  1. IDIOSSINCRASIAS


    Li, atentamente, a sua bela prosa sobre o estado de “alma” em que se encontrava quando decidiu explaná-lo, em escorreita escrita, quiçá para esconjurar os espíritos que o apoquentavam! Face ao quadro da vida que, todos os dias, nos é oferecido, duvido, sinceramente, que o tenha conseguido! Não tenho palavras que o possam ajudar, tal é, no momento , a minha idiossincrasia!
    Ao longo dos tempos vão aparecendo vocábulos que, normalmente, não eram usados e este, tal como alguns advérbios de modo, tornou-se marca de políticos desejosos de bem impressionar! Eu creio ter bem entendido a simpatia que dedicou á palavra, todavia devo dizer-lhe que não é fácil descortinar “ la blague” tão bem aproveitada para traduzir um estado de “espírito” de ordem temperamental!
    Abandonando divagações devo confessar que a minha má disposição (revolta) aumenta a cada dia que passa e, assim sendo, para animá-lo, não estou vendo que seja um estado passageiro, por isso parece-me que o meu padecimento se encontra num grau de adiantamento bem superior ao seu! Ficou mais satisfeito?

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    1. Há aquele provérbio " com o mal dos outros posso eu bem". Não é o caso. O seu mal deve andar muito perto do meu, aliás de todos nós. Nunca pensei chegar a este ponto da minha vida, tão deprimido com tudo isto. Preocupo-me, não só comigo, que paessei "as passas do algarve" lá pelas outras bandas do mar, meti a cabeça no 25A para mudar "aquele estado de coisas" e agora encontramo-nos em pior estado. E porquê? Porque a classe política que tomou conta de tudo isto, não quer , ou não soube, ou não sabe, governar em favor dos portugueses, mas sim em favor dos financeiros capitalistas sem vergonha expoliadores dos seus próprios irmãos. Pode ser que tenhamos oportunidade de mudar e então...

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