Percorro as ruas do meu bairro, mãos nos bolsos, pensamento
na porcaria da vida, tentando encontrar uma razão para a existência, não a
vejo, não a sinto, realizações já passaram, ficaram apenas algumas situações de
utilidade, de ajuda à família, aos amigos, vontade de fazer algo, transmitir
algo e não encontro o quê. As folhas mortas nos passeios levam-me a pensar em
pássaros depenados. Olho as árvores e vejo-as nuas, semi-despidas, sem
graça. É o inverno, é isso, hoje é o dia
21 de Dezembro. Lembro que a partir daqui o sol vai ganhar à noite e começar a
crescer em relação à escuridão. Os antigos festejavam este dia como o dia da
deusa da fertilidade. Era o solstício, mais tarde substituído pelo Natal para
mudar um costume pagão para outro cristão. Fertilidade… sinónimo de
crescimento, progresso, renovação, aquilo que não vejo para o meu país,
para a minha vida, para a do meu filho.
Pergunto-me o que terá este povo, que sendo, estoico, trabalhador e
aventureiro, nunca foi governado pelos seus iguais, mas sempre por aqueles que
se orientaram e se governaram a si próprios não garantindo aos seus pares
aquilo que obtiveram para si. Pergunto-me o porquê dos seres humanos desejarem
tanto a obtenção de bens materiais em excesso, quando era tão fácil viver com
pouco, bastando alimentação, saúde, habitação e educação. Com isso poderíamos
trabalhar e obter recursos para distribuir por todos. Claro que isto é utópico
pois quem recebe sem trabalhar depressa se habitua e nada fará para contribuir
para os outros. Mas os chineses dizem: “ se um homem tiver fome, não lhe dês um
peixe, ensina-o a pescar”. Podíamos pois dedicar os nossos esforços a ensinar
os outros a “pescar”. Quem não quisesse aprender teria de se sujeitar às
profissões mais difíceis e menos remuneradas. Construímos uma sociedade de
consumo, conseguimos bens que não nos faziam falta nenhuma, deitámos fora
objectos necessários e úteis, só para os trocarmos por outros mais modernos,
mais bonitos, com melhor “design”. Pois, mas duram menos do que os outros, já foram
concebidos com um prazo de duração mínimo para que se deitem fora e se comprem
novos,. porque o capitalismo criou o consumismo e assim é que tem de ser para
que as pessoas enriqueçam e possam depois comprar mais coisas de que não
necessitam, mas é bom viver bem, mostrar aos amigos a piscina, o “jacuzzi” o
BMW o Mercedes e desses bens falar nas festas e reuniões com aqueles que são
apenas aproveitadores daquilo que os outros têm e se encostam, fazendo-se
passar por aquilo que nunca conseguiram ser mas gostariam. Vão-se esgotando os
recursos do planeta, vão se criando pobres e miseráveis vivendo em regiões
inóspitas que os matam de fome, sede e doenças e nada fazemos para lhes mudar a
vida, antes pelo contrário, sugamos-lhe os recursos que eles não conseguem
explorar, não lhes pagando o suficiente para lhes mudar as vidas.
Páro, aproveitando para afagar um cachorro que pacientemente
espera o dono(a) à porta do supermercado e penso que bom seria sermos como os
outros animais, que não precisam de explorar os seus iguais, limitando-se a
seguir os ditames da natureza que sabe muito bem controlar o meio ambiente.
Vou para casa, o natal aproxima-se, temos de jantar com a
família e distribuir prendas aos putos que não lhes vão ligar, por calças e
camisolas não substituírem as consolas e “Ipod´s” que gostariam de ter para
também mostrarem na escola que são ricos, modernos e estúpidos.
Será que me vou aguentar? Vou tentar…