Garrafa de água na mão ia
beberricando e dando umas voltas no átrio do hospital junto à porta da
fluxometria, raios partam isto, às vezes ando para aí aflito, agora que já bebi
um litro de água não me apetece despejar. Olho à minha volta, vejo velhos,
naturalmente serão mais novos, parecem-me mais velhos, fazem um “trottoir”, uns
de garrafa outros de coca-cola, todos esperando pela vontade, estou mesmo a ver
que a vontade virá para todos ao mesmo tempo, dou mais uns golos, parece que
agora já estará na altura. Bato à porta já a fazer um perfeito “piaffe” qual um
cavalo de alta escola, aparece um tipo dizendo agora não pode ser,
desinfectámos o aparelho e temos de esperar um quarto de hora. Bolas para tudo
isto, agora vou ter de ir à casa de banho, vou ter de começar tudo de novo.
Alivio, ai que bom, mas agora como faço, o médico já me chamou e não quero
perder a consulta. Raio de coisa, isto da próstata foi um erro divino, quem se
lembraria de colocar uma coisa que cresce e enrija à volta da uretra, bolas
para a anatomia. Bem, tenho 15 minutos, a funcionária, já conhecida de sessões
anteriores, diz-me Sr. Coronel basta beber mais meio litro de água e esperar
mais um pouco. Há entretanto outro que me diz para ir beber uma coca que o
efeito é mais rápido. Coca-cola? Não gosto dessa porcaria, sabe a goma-arábica,
é como lamber um selo. Lá terá de ser, vou até ao bar e peço uma coisa dessas e
lá venho chupando aquilo pela palhinha. Não sei se foi da cola se da sugestão,
o certo é que deu resultado, já estou outra vez aflito, chego e bato à porta,
espere que está um a sair, lá vou outra vez entrar em “piaffe”, lá me aguentei,
o tipo saiu, cheguei-me ao funil como se visse um “penico” dourado para meu alívio.
Exame feito vou direito ao gabinete médico, olho, então que é isto? Onde se
meteu ele? Parece que foi tomar café, coitado, também tem direito, está ali há
horas a aturar velhos prostáticos, o certo é que o próprio lá chegará e será
paciente também e aí ele vai ver. Agora já dá para esperar, sento-me pego no
livro que tinha levado para aproveitar o tempo, leio com um olho e atiro o
outro para o corredor onde o médico terá de passar, tenho de o apanhar mesmo na
passagem. Começo a ler, esqueci-me do outro olho, ganhei interesse na leitura,
olho para a porta e já estava fechada. Gaita, deixei-o passar e já entrou
outro. Lá terei de esperar mais. Aparece um voluntário, pergunta-me se quero
café, leite ou bolachinhas. Digo-lhe, para mim um “gin” tónico. Vá lá que achou
graça e riu-se. Volto a ironizar, não me diga que não tem! Voltou a rir e
brincou comigo, acabámos na conversa. Tinha andado pela guerra como miliciano e
estivemos nos mesmos lugares. Por fim chegou a minha vez. Exames vistos está
tudo mais ou menos, mas há aqui um valor que aumentou, não muito mas temos que
ver, vai fazer uma eco transrectal e volta dentro de três meses. Pelo menos já
fiquei mais satisfeito pois não vai ser necessária outra uro-fluxometria. Pelo
menos desta já me livrei. Veremos o que se seguirá. A velhice é uma chatice.
Para a próxima, em vez da garrafa de água, levo-a cheia de urina e despejo-a no
funil. O médico até vai ficar espantado com a minha “performance”. Podem crer!
A próstata
ResponderEliminarNão sei se era da próstata ou da idade,
Mas dedo era coisa que ele queria,
Porque todo o seu estado lhe media
E o toque era prazer, amenidade.
Um mês ou dois passado, e uma saudade
Se fazia sentir, em qualquer dia
E, então, p’ra novo exame, ele corria
Com toda a pressa e com celeridade.
Com água ou coca cola, ia esperar
O tempo necessário p’ra mijar,
Porque uma bexiga incha e não resiste.
Era um prazer supremo, cheio de amor,
A espera, impaciente, do doutor
Para uma apalpação de dedo em riste.
Eu meço o PSA
ResponderEliminarVejo o valor que dá
Resultado mais certeiro
Meter dedo no cagueiro?
Se calhar terá de ser
Mas tenho hemorroidal
De pensar fico a tremer
Vou sangrar e fico mal
Entrego-me à previdência
Qualquer dia vou de urgência
Só para ter comentários destes vale a pena escrevinhar umas coisas.
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