Escrevi este texto há bastante tempo. Como tinha umas frases com alguma ironia sobre sexo, resolvi não o colocar aqui. Agora que o reli, acabei por lhe dar uma volta tornando aquelas frases um pouco mais leves, mas mantendo o seu contexto. Asim, aqui fica a minha versão do nascimento dos deuses na mente dos homens.
O
Homem avançava depressa atravessando barrancos e ribeiras. Os pés agarravam-se
a pedras e paus, estavam um pouco doridos e até também um pouco feridos mas
nada que não se aguentasse.
Segurava
um pau com a mão fechada e quase não sentia o peso da pedra que, na ponta,
estava atada com uma tripa de cabra. O bicho donde a tripa saíra já se acabara
há muito e era preciso encontrar algo para dar de comer á mulher e à sua cria
que na caverna aguardavam.
Ventos
fortíssimos dificultavam-lhe a marcha e chuva grossa toldava-lhe a vista.
Trovões e relâmpagos ouviam-se e viam-se em redor.
A
árvore na sua frente rasgou-se em duas quando o raio a atingiu. Algo esquisito
e tremulinante saía da árvore. Quando se aproximou, com a mão tentou agarrar o
que dela se desprendia. Sentiu enorme dor retirando-a imediatamente verificando
que a mão ficara com uma cor completamente anormal. Olhou para o lado e viu um
grande lagarto com um aspecto também diferente do que até aqui lhe fora dado
ver. Do bicho saía algo que se desfazia no ar. Um cheiro esquisito e não
identificado emanava do réptil. Reparou então que estava esfomeado e já há
muito não comia. Acercou-se do lagarto e começou a roer-lhe uma pata. Soube-lhe
bem. Da árvore soltavam-se bocados quentes que também tentou agarrar. Mais uma
vez sentiu dor. Pegou numa folha larga e com a moca empurrou uns bocados da
árvore para dentro dela. Colocou o que sobrava do lagarto e rumou à caverna.
Pelo
caminho ia pensando que os que deviam viver acima dele eram muito mais
poderosos pois enviavam cá para baixo coisas que não conhecia nem entendia.
Agora algo aparecia que lhe podia ser útil. Aquela coisa bruxuleante e
esquisita caíra em cima do animal e, além de o matar dava-lhe um sabor bem
diferente daquele que tinha quando comido logo que os agarrava.
Chegou
à caverna ainda com o que levava na folha, brilhante e quente. Juntou-lhe mais
uns paus e palhas e aquilo logo cresceu. A mulher tentou meter a mão mas ele
afastou-a com enorme encontrão mostrando-lhe a sua própria com aquela cor
estranha. Disse-lhe para afastar a cria e repartiu o lagarto com eles. A
sensação de gosto agradável logo se lhes fez notar. Riram-se e comeram até só
ficar a espinha do bicho. A cria adormeceu. O homem deitou-se ao lado da fêmea
e começou a sentir aquela vontade que lhe dava enorme gozo quando usava a
mulher. Ela também admitia aquela actividade com prazer e nunca se recusava a
tal (ainda se desconheciam as dores de cabeça).
Quando
acordaram, do bocado da árvore que tinha vindo na folha já nada existia. Apenas
um pó seco lá restava. Onde se tinha metido aquilo?
Aí
o homem começou a pensar que os que lhe tinham atirado com coisa tão esquisita
eram realmente poderosos. Pensou que de nada serviria desobedecer-lhes e que
tinha que lhes pedir para enviarem mais. Aquilo tirava o frio e dava melhor
sabor à carne dos bichos.
Pediu,
pediu, mas nada veio. Só na próxima tempestade mais árvores foram atingidas.
Afinal os lá de cima nem sempre atendiam os seus pedidos. Eram mesmo poderosos.
Só o faziam quando lhes apetecia.
Verificou
que aquele fogo se mantinha quando lhe juntava mais bocados de árvore e quanto
mais secos melhor. Nunca mais o deixou apagar e industriou mulher e criança
para o manterem sempre activo.
Os
da caverna ao lado vieram ver e também aprenderam. O homem mostrou-lhes donde
aquilo viera e porquê. Todos ficaram gratos aos que lá em cima estavam e
começaram também a respeitá-los embora nunca os tivessem visto.
Nessa
noite dormiram todos na mesma caverna em volta do fogo e todos se serviram das
fêmeas grunhindo elas e eles do prazer que a actividade lhes dava. Só o puto
não teve direito à festa, nem tentou usar nenhuma das fêmeas. O grande chefe
queria tudo para ele.
O
puto um dia viu que os bodes selvagens faziam o mesmo com as cabras. Vai daí
toca de o fazer com uma que era mais mansa e se deixou agarrar. Foi aí que viu
como realmente era bom. Quando apanhou a primeira fêmea, da outra caverna que
ainda não tinha macho, agarrou-a e lá a convenceu. Berrou que se fartou mas
depois foi-se habituando e para o fim já se encaracolava toda. Ficou com ela e
preparou-se para que não mais lha roubassem. A cabrinha foi esquecida e fugiu
com um bode novo.
Os
lá de cima continuavam com imensa actividade mas sem se mostrarem nunca. Os
homens pensaram que aqueles não queriam misturas. Eram superiores.
Um
dia, a montanha em frente, deu enorme berro, abriu a boca e vomitou terra
quente com o mesmo fogo que vinha do céu. Afinal, lá em baixo também havia
poderosos. Ficaram os homens convencidos que os de baixo ainda eram mais
poderosos, pois quando zangados o chão tremia e abria-se engolindo homens e
animais que não mais regressavam. Esse fogo também foi aproveitado e era tão
bom quanto o outro. Os homens começaram a ficar entediados com a falta de respeito
que os superiores mostravam para com eles. Porque não apareciam?
Deviam
ser semelhantes. Teriam de certeza a mesma forma. Mas, como poderosos que eram,
deveriam ser maiores. Então fizeram dois enormes homens de duas grandes pedras
e a eles começaram a dirigir os pedidos de mais fogo, menos chuva e menos
tempestades. Ao que representava os de baixo puseram-lhe uns cornos e um rabo
como se de um animal selvagem se tratasse. Como os estragos vindos de cima eram
menores dos que vinham de baixo, acharam que seria mais conveniente adorarem
mais os de cima. Os de baixo eram mais maldosos.
Como
nada se modificasse reconheceram que os poderosos estavam aborrecidos com eles
e começaram a oferecer-lhes coisas para os consolarem.
Os
presentes, como cabritos e comida diversa, eram colocados junto dos homens de
pedra e o certo era que na manhã seguinte nada lá restava.
Ao
grande homem de pedra lá de baixo chamaram-lhe Satan, Satanás, Fera, Grande
besta e mais tarde Diabo. Ao de cima deram vários nomes; Entre eles: Mulloch, Mitra,
Krishna, Belphegor, Osíris, Ísis, Hórus, Zeus, Jeovah, Júpiter, Apolo, Baco, e
muitos, muitos outros… mais tarde chamaram-lhe também Jesus.
Faltava-nos alguém superior para agradecermos termos nascido... como se nascer tivesse sido um desejo nosso!... Logo aí, começou toda a confusão... A instauração de um sentimento de culpa, ou pelo menos de gratidão, que depois tem de ser pago com sacrifícios e devoções... Ficou logo tudo inquinado!...
ResponderEliminarO teu comentário tem toda a razão de ser. Só que o homem esqueceu-se de perguntar às lagartixas se agradecem o seu nascimento. E acho, que também não estão nada preocupadas com o local para onde vão depois de mortas.
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