Tenho uma parca bem quentinha com
um forro bem peludo. Forro esse que é amovível através de um fecho zip. Mas o
raio da parca tem um defeito. Para meter a carteira no bolso interior, tenho de
primeiramente de a meter através de uma abertura do forro e só depois no bolso.
Acontece que já várias vezes a carteira me caiu no chão. Ontem, era quase meia
noite, vou guardar a carteira como todas as noites o faço, na gaveta da minha
secretária e, que é dela? Vou à parca e nada. Procurei pela casa toda e nada.
Calcei sapatos, vesti a famigerada parca, fui ao carro e nada. Fazendo a
revisão do processo cheguei à conclusão que, depois de chegar com a mulher do
almoço que fizéramos fora, tornei a sair dando uma volta e fui à Evian do
Uruguai. Não o país da América do Sul, mas aqui a da avenida, bem mais perto,
onde tomei um café. Lembrei-me também que a mulher me tinha pedido que passasse
no Pingo Doce e comprasse uma salada daquelas já preparadas e lavadas. Pronto!
Só pode ter sido quando paguei e voltei a meter a carteira no bolso. Por acaso
até dormi bem, mas antes de adormecer pensava a trabalheira que iria ter para
substituir toda a miríade de cartões que tinha e me atafulhavam a carteira.
Hoje de manhã liguei para uma amiga, que vive na Austrália, através do vídeo
pelo Messenger. Quase chorava
ao contar-lhe o sucedido. Diz ela: “Vou fazer uma reza a Santo António e vais
ver que a carteira te aparece”. É sabido que sou ateu. Não acredito nem em deuses
nem em santos e ao Fernando de Bulhões não lhe reconheço dotes de taumaturgo,
mas tenho por ele algum apreço pelo homem de letras e ciências que foi e até
como meu camarada, pois foi Coronel do Exército Português. Hoje nem fui à
piscina como costumo mesmo aos domingos. Eram oito e meia e estava no Pingo
Doce. Aleluia! E não é que a carteira estava lá com dinheiro e tudo? Fui tomar
café e, apesar de não ser homem de superstições, fiz logo um euro milhões para
a semana toda. Temos de aproveitar as marés de sorte. Liguei para a minha amiga
e pedi-lhe que agradecesse por mim ao santinho dado que vozes de ateus e de
burros, não chegam aos céus…
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