(The Lighthouse)
Como quase que habitualmente,
ontem 6ª feira, procurei um filme para ver. Nos meus cinemas habituais não
encontrei nada que me agradasse dado que os bons já estavam todos vistos e os
restantes não me pareceram nada de especial. Estava quase a desistir quando dei
com uma estreia, no Espaço Nimas. O Farol pareceu-me um filme dentro de uma
cinematografia que aprecio. Não conhecia o realizador, Robert
Eggers e fui ler algo sobre o mesmo. William Dafoe e Robert Pattinson são
actores já de mim conhecidos. E lá fui.
Digo-vos que aquilo é de sair de
lá completamente com os neurónios em franja. Comecei por ter de chegar cedo
para garantir bilhetes e deixar o carro no parque do Arco do Cego e ter de ir a
pé até ao cinema onde já tinha deixado a minha mulher. Já estava meio furibundo
quando me sentei.
O começo do filme deixou-me ainda
mais radioso, como diria o Compadre Alentejano. A preto e branco, numa tela
quadrada tipo Tv do início do século passado e com as legendas em baixo num
rectângulo à parte da cena, com letras pequenas, fazendo lembrar a filmografia
do russo Eisenstein.
O filme é duro, cruel até, onde
dois homens sós vivem em isolamento total numa ilha inóspita, em instalações
degradadas, totalmente imundas. O enquadramento é o mar com a sua beleza
agreste e violenta e os animais, gaivotas, com um importante papel na história.
No início a vida é quase
silenciosa com apenas monossílabos trocados entre eles. À medida que o filme
vai adiantando, os diálogos tornam-se violentos e maliciosos e entre os homens
vai-se criando um ambiente de violência, mas ao mesmo tempo de algum sentido
erótico, nunca se sabendo se vão acabar por se matar um ao outro ou a fazerem
sexo entre eles. O álcool é o único refúgio e os diálogos vão-se exacerbando
atingindo rapidamente pontos de loucura. As tempestades são assustadoras e as
situações, já de si degradantes ainda se tornam tão duras que, as condições
inaceitáveis se apresentam totalmente péssimas. No seguimento do filme há cenas
tais, que se mistura a realidade com a alucinação e o ambiente alterna entre o
real e o imaginário chegando a incluir uma cena de sexo com uma sereia. O
espectador está sempre à espera de um final terrível e ele acaba por acontecer
e é magistral. A minha mulher disse-me ao ouvido: “quando sair daqui quero ir
ver a Cinderela”.
Já no bar, a jantar tardiamente,
a conversa sobre o que acabáramos de ver deu pano para mangas.
Achei algum exagero a cultura
literária e o conteúdo dos diálogos demasiado eruditos para homens com aquela
profissão, mas …
A banda sonora, com os sons
dissonantes do engenho e o ronco da sirene do farol, torna ainda mais pesado e
tétrico todo o ambiente.
Amachucante. Um filme terrível.
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