Raramente os filmes que tratam da
morte conseguem fugir aos estereótipos dramáticos e pesados. Almodóvar foge aos
seus temas favoritos que normalmente tratam de situações de homossexualidade e,
desta vez debruça-se sobre o tema da eutanásia. Consegue tratar de um assunto
demasiado sério, com uma leveza bela e até muitas vezes com humor subtil usando
a amizade de duas mulheres que se reencontram passados alguns anos de
afastamento. Serve-se de duas actrizes de mão cheia, Julianne Moore e Tilda
Swinton, que dão um “show” de bem representar.
Uma escritora de algum sucesso, Ingrid
(Juliane Moore), através de uma admiradora, acaba por saber que uma antiga
amiga, Martha (Tilda Swinton), uma jornalista de guerra, está no hospital com
um cancro terminal. Resolve visitá-la e é recebida com imensa alegria pela sua amiga
que, após contar o que foi a sua vida até ali, confessa-lhe que sabe que vai
morrer, mas que o quer fazer com dignidade e não se sujeitar a uma morte com
degradação total. No entanto, informa-a que não o quer fazer sozinha e precisa
de alguém que passe com ela os seus últimos dias e que ela saiba que estará no
“quarto ao lado”. Após alguns excelentes diálogos Ingrid aceita a terrível
incumbência de a acompanhar no seu desejo de morrer enquanto tem alguma
dignidade como ser vivo. Martha aluga uma vivenda nos arredores de NY, no
campo, e aí rodeadas dos cantos dos pássaros e de magnificas vistas, Martha diz
a Ingrid que conseguiu através da “dark internet” um comprimido de eutanásia e
quando ela vir a porta do seu quarto fechada será o sinal que o tomou e estará
morta.
Entretanto, um ex-namorado que
foi das duas, primeiro de Martha e depois de Ingrid, visita-a e sabendo do caso
pede-lhe que tome providências pois irá ser interrogada pela polícia assim que
esta souber do suicídio ali considerado crime e arranja-lhe uma advogada para a
defender caso seja acusada como cúmplice.
Um Dia Ingrid chega a casa e a
porta do quarto de Martha está fechada…
Aí vemos a diferença entre seres
livres e inteligentes e um polícia retrógrado, católico fervoroso completamente
“tapado” pelos seus conceitos religiosos.
E mais não conto. Vão ver o filme
que vale a pena pela forma interessante como Almodóvar coloca uma questão tão
controversa…
Um bonito filme muito bem
conseguido.