sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O Langão (III)




O meu amigo Langão não vai mais conquistar as cadelitas aqui da aldeia. Um terrível vírus (seria?) paralisou-o quase totalmente. A médica veterinária, depois de vários exames, não lhe encontrou salvação. Durante dois dias, o vizinho que cuidava dele, a mulher e a filha, tudo tentaram. Foi impossível. Não havia salvação e foi abatido. Custou muito. Todos sofreram. Felizmente, quando morreu, já eu estava em Lisboa, mas o desgosto apanhou-me lá. Agora, já por aqui, olho para o recinto onde os seus companheiros por cá andam e parece-me que ainda o vejo sempre brincalhão e prazenteiro, desengonçado na sua magreza, mas alegre e satisfeito por ter encontrado tantos amigos que lhe proporcionaram estabilidade e modo de sobrevivência, sem ter que assaltar capoeiras para matar a fome. Mas o Langão já cá não está. Amanhã já não estará ao meu portão, como sempre fazia, latindo de satisfação quando saía de casa para o nosso passeio matinal. Vou sentir-lhe a falta. Irei com a Nina, a cadelinha sua companheira de “quarto” e, juntos, lembraremos o nosso Langão que tanta companhia nos fez. Era só um animal, mas deu-me a sua amizade sem nada pedir em troca, apenas querendo festas e passeatas. Durante uns tempos, os meus passeios vão ser mais tristes mas terei a Nina como companheira. Parece-me que também ela está triste. A saudade também será canina. É em alturas, como esta, que relembro o meu Setter Irlandês que me morreu nos braços, levado por uma terrível cirrose. Na época, não tive a coragem para o mandar abater, sempre convencido que seria capaz de o recuperar. Não fui e o meu amigo morreu com demasiado sofrimento. Tantos anos passados e ainda o recordo. Muitos anos passarão e o Langão continuará ser recordado. Adeus Langão, o teu céu será o meu pensamento.

1 comentário:

  1. O meu Amigo e ex-condiscípulo Barradas Barroso (Tiago), fez a este meu "post", o seguinte comentário:
    O Langão

    António Barroso (Tiago)

    Não,
    não era apenas um cão
    vadio, pária, abandonado
    - um sem abrigo –
    De seu nome Langão,
    tornou-se um bom amigo
    que seguia sempre a meu lado,
    com a alegria de quem se sente
    sempre acarinhado.
    De manhã, de cauda a abanar,
    como se fosse um sinal,
    lá estava ele, presente,
    sem pressa, a esperar
    o nosso passeio matinal.
    E corria, corria pelo campo fora,
    como se aquela hora,
    na companhia de quem o estimava,
    fosse uma graça dos deuses.
    Por vezes,
    desaparecia em corrida, de repente,
    mas logo regressava
    de cauda a abanar, língua pendente.
    Morreu o Langão.
    Dir-se-á que foi apenas um cão
    mas porque tamanha saudade
    me deixou?
    Agora, de manhã, ainda vou
    dar o meu passeio habitual,
    mas falta-me aquela amizade
    do Langão
    - um sem abrigo –
    Não,
    não era apenas um cão,
    era um amigo.

    Parede – Portugal (03/10/2013)

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