sexta-feira, 13 de junho de 2014

Como se faz um santo?


Santo António de Lisboa (ou Pádua?)

António, de nascimento Fernando, não se lhe conheceram pais, mas mais tarde foram-lhe atribuídos como sendo Martins ou Bulhões (Martinho de Bulhões e Maria Teresa Taveiro). Foi um frade, o que faz supor um nascimento pobre, pois eram estes os educados nos conventos. Mas, dada a nobreza dos seus supostos pais, foi-lhe conferida uma suposição de pessoa bem nascida. Muito cedo os seus educadores se aperceberam da extraordinária apetência que o noviço tinha pelo estudo e da grande capacidade de aprendizagem que revelava. Foi primeiro frade Agostinho, mas mais tarde, em Assis, sob a égide de São Francisco, mudou para Franciscano. Devido à sua grande cultura e excelente exegeta, proferiu excelentes sermões ainda hoje tidos como dos melhores e mais profícuos, tendo sido espalhados por vários países, pois parece que o piedoso taumaturgo viajou imenso nos apenas perto de 40 anos que viveu.
A sua grande fama de taumaturgo vem das inúmeras “lendas” passadas de boca em boca dos seus bastantes milagres. Acho que refez um pé amputado a uma rapariga, fez uma mula ajoelhar perante a hóstia sagrada e até lhe apareceu o Menino Jesus quando orava numa Igreja. Ficou como santo padroeiro dos amputados, dos animais, das grávidas, dos idosos e dos fracos e oprimidos e é normalmente invocado pelas moças solteiras para arranjar casamento e para encontrar objectos perdidos. A sua iconografia, é geralmente apresentada com o menino ao colo devido à tal aparição. Só não sei porque numa das mãos uma vez lhe colocam a cruz outras vezes um ramo de açucenas. Dada tanta profusão de milagres foi canonizado pelo Papa Gregório IX, em 1232, ano seguinte ao da sua morte a 13 de Junho.
Este grande mestre do saber da Igreja, ainda teve tempo para converter hereges Cátaros ou Albigenses e tendo assentado praça como soldado chegou a Coronel do Exército.
Todo este arrazoado, vem a propósito do dia de hoje, 13 de Junho, e das festas de Lisboa, na véspera, em honra deste Santo Homem. E aí eu pergunto: Como se faz um santo?
Homens bons, cultos, solidários, dedicados à humanidade, sempre houve, mas daí a serem considerados santos… bem, parece que têm que ter outros predicados. Mas será que os santos os tinham? Era necessário ser casto, coisa muito difícil, pois a tentação da carne é grande e moças atiradiças nunca faltaram, então o frade Fernando que até pregava partidas às raparigas. Parece que, tal como o João, também partia as bilhas nas fontes e as recompunha perante a consternação das moças que lhe agradeciam encarecidamente, depois arranjava-lhes casamentos. Tinham também de realizar milagres, o que era difícil e muito pouco natural. Não acredito em pés restaurados depois de uma amputação, já fazer ajoelhar uma mula é fácil, nos circos até os elefantes andam de bicicleta. Parece também que o santo gostava de comer e beber e devia gostar imenso de sardinha assada e vinho tinto. Só que morreu cedo e ainda por cima com hidropisia, uma doença de excesso de água no corpo. Devia ter abusado mais do vinho.
Claro que, na idade média, época em que viveu, o povo era ignorante e supersticioso em demasia, ainda hoje é, e a igreja encarregava-se de empolar situações que ajudassem a criar santidades. Criaram tantos que penso haver um santo diferente para cada dia do calendário.
Não sou crente e obviamente também não acredito em santos, mas admiro este homem por aquilo que foi e aquilo que fez numa época obscurantista, em que a igreja guardava para si e para os seus apaniguados, toda a forma de saber e ciência. Este teve a coragem de tentar ensinar aos outros tudo aquilo que aprendeu. Terá sido exactamente assim? Não se sabe, mas pelo que se disse e escreveu até parece. Teve pelo menos o grande mérito de deixar em Lisboa a boa tradição folclórica das festas bem comidas e regadas.

Por aquilo que foi deixo aqui a minha homenagem a Fernando de Bulhões.

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