Santo António de Lisboa (ou Pádua?)
António, de nascimento Fernando, não se lhe conheceram pais,
mas mais tarde foram-lhe atribuídos como sendo Martins ou Bulhões (Martinho de
Bulhões e Maria Teresa Taveiro). Foi um frade, o que faz supor um nascimento
pobre, pois eram estes os educados nos conventos. Mas, dada a nobreza dos seus
supostos pais, foi-lhe conferida uma suposição de pessoa bem nascida. Muito
cedo os seus educadores se aperceberam da extraordinária apetência que o noviço
tinha pelo estudo e da grande capacidade de aprendizagem que revelava. Foi
primeiro frade Agostinho, mas mais tarde, em Assis, sob a égide de São
Francisco, mudou para Franciscano. Devido à sua grande cultura e excelente
exegeta, proferiu excelentes sermões ainda hoje tidos como dos melhores e mais
profícuos, tendo sido espalhados por vários países, pois parece que o piedoso
taumaturgo viajou imenso nos apenas perto de 40 anos que viveu.
A sua grande fama de taumaturgo vem das inúmeras “lendas”
passadas de boca em boca dos seus bastantes milagres. Acho que refez um pé
amputado a uma rapariga, fez uma mula ajoelhar perante a hóstia sagrada e até
lhe apareceu o Menino Jesus quando orava numa Igreja. Ficou como santo
padroeiro dos amputados, dos animais, das grávidas, dos idosos e dos fracos e
oprimidos e é normalmente invocado pelas moças solteiras para arranjar
casamento e para encontrar objectos perdidos. A sua iconografia, é geralmente
apresentada com o menino ao colo devido à tal aparição. Só não sei porque numa
das mãos uma vez lhe colocam a cruz outras vezes um ramo de açucenas. Dada
tanta profusão de milagres foi canonizado pelo Papa Gregório IX, em 1232, ano
seguinte ao da sua morte a 13 de Junho.
Este grande mestre do saber da Igreja, ainda teve tempo para
converter hereges Cátaros ou Albigenses e tendo assentado praça como soldado
chegou a Coronel do Exército.
Todo este arrazoado, vem a propósito do dia de hoje, 13 de
Junho, e das festas de Lisboa, na véspera, em honra deste Santo Homem. E aí eu
pergunto: Como se faz um santo?
Homens bons, cultos, solidários, dedicados à humanidade,
sempre houve, mas daí a serem considerados santos… bem, parece que têm que ter
outros predicados. Mas será que os santos os tinham? Era necessário ser casto,
coisa muito difícil, pois a tentação da carne é grande e moças atiradiças nunca
faltaram, então o frade Fernando que até pregava partidas às raparigas. Parece
que, tal como o João, também partia as bilhas nas fontes e as recompunha
perante a consternação das moças que lhe agradeciam encarecidamente, depois
arranjava-lhes casamentos. Tinham também de realizar milagres, o que era
difícil e muito pouco natural. Não acredito em pés restaurados depois de uma
amputação, já fazer ajoelhar uma mula é fácil, nos circos até os elefantes
andam de bicicleta. Parece também que o santo gostava de comer e beber e devia
gostar imenso de sardinha assada e vinho tinto. Só que morreu cedo e ainda por
cima com hidropisia, uma doença de excesso de água no corpo. Devia ter abusado
mais do vinho.
Claro que, na idade média, época em que viveu, o povo era
ignorante e supersticioso em demasia, ainda hoje é, e a igreja encarregava-se
de empolar situações que ajudassem a criar santidades. Criaram tantos que penso
haver um santo diferente para cada dia do calendário.
Não sou crente e obviamente também não acredito em santos,
mas admiro este homem por aquilo que foi e aquilo que fez numa época
obscurantista, em que a igreja guardava para si e para os seus apaniguados,
toda a forma de saber e ciência. Este teve a coragem de tentar ensinar aos
outros tudo aquilo que aprendeu. Terá sido exactamente assim? Não se sabe, mas
pelo que se disse e escreveu até parece. Teve pelo menos o grande mérito de
deixar em Lisboa a boa tradição folclórica das festas bem comidas e regadas.
Por aquilo que foi deixo aqui a minha homenagem a Fernando
de Bulhões.
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