Este mundo está a deixar-me
triste e zangado. A fúria exacerbadamente capitalista centrada na exploração, a
todo o custo, do petróleo, “construiu” a chamada “primavera árabe” para afastar
do poder os ditadores, que mantendo governos laicos, conseguiam conduzir os
seus países na senda do progresso e estabilidade. Onde havia paz hoje há guerra
e destruição. Cidades consideradas património mundial, como Alepo por exemplo,
aparecem-nos nas imagens como montes de ruínas sem qualquer consideração pela
cultura que desde há séculos nos maravilhavam com testemunhos de civilizações
passadas. Milhares de pessoas, despojadas de bens e habitação, tornam-se
refugiados, fugindo atravessando fronteiras, em busca de local onde possam
sobreviver, deixando para trás as suas terras, as suas tradições e os seus
mortos. O meu país está a morrer também a uma velocidade assombrosa. Governados
por liberais encapuçados de social-democratas, vamos cada vez mais enfeudando-nos
a uma Europa, mal construída, que trata mal os que pouco têm em detrimento dos
abastados. O desemprego é tremendo, a fuga de capitais e inteligência é
constante. Vemos os pobres ladrões serem condenados por pequenos crimes que,
muitas vezes, cometem para poderem sustentar as famílias, quando o grande
capital se consegue livrar da justiça por enormes crimes económicos cometidos
apenas pela ganância do lucro desmedido ou para aumentarem o seu poder que
esmaga e oprime os que pouco têm. A classe média vai-se extinguindo sugada
pelos governantes que poupando o grande capital que os sustenta a vai
tornando cada vez mais pobre com o excesso de impostos e de cortes nos
rendimentos. O crime aumenta. As notícias mostram-nos horrores. Pais metem
filhos em água a ferver, matando-os
ou violando-os. Cônjuges matam-se uns aos outros por interesses materiais ou
por ciúmes exacerbados. Os jovens, abandonando a escola, formam gangues que,
desprovidos de escrúpulos, roubam, saqueiam, violam, atacam, sem qualquer medo
de uma justiça, que baseada nos direitos do cidadão, os protege e liberta sem
os recuperar. As autoridades, cada vez mais desprovidas de força, acabam por se
tornarem demasiado complacentes com medo da tal justiça benévola demais com os
criminosos, mas demasiado severa para com os que, tentando cumprir o seu dever,
se vêm forçados a tomar atitudes às vezes mais duras e tomadas no fervor de
lutas. Os governantes maltratam os professores e educadores sendo demasiado
complacentes para com os alunos, normalmente maus alunos e indisciplinados.
Pois é, não vejo soluções para este país enquanto nos governarmos com esta
“democracia”. Enquanto não formos capazes de mudar este regime e construir outro
baseado na seriedade, competência e vontade de fazer progredir este país, sem
que os governantes só pensem no poder partidário e no seu próprio
enriquecimento a todo o custo, não poderemos crescer como povo voltado para
valores da cultura e nobreza de sentimentos, para construirmos uma sociedade
justa, solidária e virada para o progresso sem veleidades de obtenção de lucros
fáceis. Viver com dignidade, justiça, protecção social, estudo, cultura e
trabalho seria o desejável. Todos vamos ter o mesmo fim, ninguém é eterno e se
houver trabalho, protecção social, justiça e ensino capaz, não será necessária
a preocupação de amealhar para deixarmos a quem nos sobrevive. Quem fica
continuará a vida como nós a vivemos. Para ajudar a esta triste “festa”, o
clima maltratado pelos humanos, manifesta-se provocando cada vez mais
cataclismos. Furacões devastam regiões. Chuvas torrenciais destroem culturas,
infraestruturas e matam. Tsunamis arrasam, destroem e ceifam vidas. Enfim, tudo
isto me deixa triste mas não acabado.
Com tudo isto, apesar de os
tolerar e aceitar, cada vez compreendo menos os crentes. Como acreditar na
existência de um deus omnipotente, omnisciente, omnipresente e bom? Como
acreditar num deus protector de cada um de nós mas que permite tudo isto? Um deus
a quem se pedem favores para nós e os nossos mas a quem nada pedimos para os
outros? Enfim, medos da humanidade que sempre atemorizou os homens com o “mistério”
da morte e a tentativa de perpetuação para além dela.
Como a idade já não me permite,
nem a democracia deixa, meter-me em políticas que levem à criação do tal estado
no qual gostaria de viver, volto-me para mim próprio continuando a fazer
aquilo de que gosto. Com a informática vou tendo oportunidade de criar e
melhorar sistemas que implementei. Melhoro, troco, estudo e construo. O
computador serve-me também como meio complementar de comunicação entre mim, os
meus amigos e familiares. A leitura continua a ser o meu descanso de alma (que
é coisa que não existe mas é um lugar-comum) e aprendizagem da vida. Leio tudo
o que me parece bom e que me possa aumentar o conhecimento. Um amigo
emprestou-me um bom livro que “devorei” em poucos dias “A Verdadeira História
da Terra” de Chistopher Lloyd, um relato histórico-científico desde o “Big Bang”
até aos nossos dias. Um manancial de cultura e conhecimento. Descobri na minha
estante, entre os livros herdados de um tio da minha mulher, um livro que me
passou despercebido e que estava entre os não ainda lidos; “Deuses, Túmulos e
Sábios” o romance da arqueologia, escrito em 1959 por um alemão, C. W. Ceram.
Outro receptáculo de história e conhecimento de como o homem, através das
descobertas arqueológicas, foi entendendo e conhecendo o mundo em que vive.
Termino este meu escrito ainda
triste pelo mundo que me rodeia, mas acompanhado por aquilo que me aumenta o
conhecimento através do que vou lendo, por aquilo que ainda vou construindo,
trabalhando e pela companhia e contacto com os meus amigos e família. Conversar
e discutir, no bom sentido, ainda é um grande prazer.
Vamos vivendo…
Amigo
ResponderEliminarQuanto à primeira parte, abstraindo dum ou outro pormenor, não poderia estar mais de acordo. No que respeita à segunda, sabes por demais a minha posição - assim como eu sei a tua - para que valha a pena argumentar sobre o assunto.
Baseaste o teu escrito na tristeza que de ti se apoderou. Eu já nem isso tenho. Com o andar do tempo, a esperança morreu e, agora, meditando no curto tempo que me resta, dou por mim a pensar no que o futuro tem reservado para os meus netos. Resta-me a poesia que, por vezes, quer acender a tal luzinha, mas passado esse momento de euforia, regressa a opacidade duma vida que, já sem objectivos definidos, vai escurecendo cada vez mais
Abraço
Tiago.
Como habitualmente um bom comentário. Acho que tens de encontrar mais objectivos, mas a tua poesia é uma boa terapia. Faz "bricolage" e constrói um blog para poderes meter prosa e poesia. Escrever é um bom exorcismo. Não há fantasma que resista. Um grande abraço e obrigado.
ResponderEliminarQue bela peça de escorreita e sábia escrita! Meu amigo, não fossem as amarguras, dores e tristezas que, neste momento, me corroem a alma e o corpo, eu faria, certamente, uma dissertação mais apropriada e de acordo com o que merece! Fica para a próxima, mas aqui vai um grande abraço de amizade e parabéns. Jaime Moura
ResponderEliminarMeu Amigo, o meu obrigado pelo amável comentário. Faço votos para que esse estado de espírito e essas dores sejam passageiras. Grande abraço.
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