Fui até à Fundação Calouste
Gulbenkian para, no grande auditório, assistir à projecção em grande ecrã, das “Bodas
de Fígaro” do tão conhecido génio Wolfgang Amadeus Mozart. Estas transmissões,
que se realizam aos sábados umas vezes pelas 17H30 outras pelas 18 horas, são
uma excelente iniciativa da Fundação que mais tem contribuído para a divulgação
de eventos culturais no nosso país. Bilhetes relativamente baratos proporcionam
salas esgotadas com uma frequência de bons apreciadores. As transmissões são
feitas a partir do “The Metropolitan Opera” de Nova York, umas vezes em directo
outras em diferido. Claro que não é bem a mesma coisa do que ver ao vivo, mas
torna-se bastante aceitável e com o decorrer do espectáculo até nos esquecemos que
estamos a ver uma projecção que dura das 18H até às 21H45 com um intervalo de
mais ou menos meia hora.
Orquestra sob a direcção de “James
Levine”, um excelente baixo/barítono, “Ildar Abdrazakov”, no papel de Fígaro,
uma talentosa soprano/actriz, “Marlis Peterson” num papel muito vivo e bem interpretado
de Susana. A parte mais negativa foram as legendas em português do Brasil,
feitas muito em cima do joelho, trocando constantemente os géneros. No
intervalo excelentes entrevistas aos protagonistas, não legendadas, mas num inglês
perceptível que dá para apanhar duas no cravo contra uma na ferradura. A música
é excelente num libreto cómico, talvez um pouco banal, mas que faz sorrir. Não
nos podemos esquecer que, à época, a ópera era o teatro do povo.
Ao intervalo, ouviam-se comentários,
que aquela não era história do Barbeiro de Sevilha, que a de Rossini é que era,
etc. As pessoas muitas vezes desconhecem que, os libretos foram escritos por
pessoas diferentes com intervalos de 30 anos, ambos adaptações de duas peças de
Beaumarchais sob o mesmo tema. A primeira “O Barbeiro de Sevilha” e a segunda “As
Bodas de Fígaro”. Curiosamente Mozart compôs sob a segunda, em 1785/86, sob
libreto de Lorenzo da Ponte e, Rossini compõe sob a primeira em 1816, com
libreto de Cesare Sterbini. Temos assim duas óperas em que a primeira é sob uma
história continuação da outra que deu origem à segunda. Torna-se pois um pouco
confuso para quem já viu as duas e não sabe disto. Na ópera de Mozart o nosso
Fígaro já não é barbeiro, mas sim camareiro do Conde de Almaviva, já casado com
Rosina, a quem ajudou, ainda como barbeiro, na sua conquista. Curiosamente, o
Barbeiro de Sevilha será transmitido sábado 3 de Jan de 2015. Valeu pois a pena
ir até à Gulbenkian ouvir Mozart e ver teatro musicado e cantado, com uma boa
encenação já transportada para uma época mais moderna, o que se nota pelos
trajes. Vão à ópera.
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