Parece-me inconcebível como uma
estação de TV consegue produzir e transmitir durante meses um programa como a
casa dos segredos. Aquilo não é um programa de televisão, aquilo é um atentado
à paciência de qualquer pessoa com dois dedos de testa. Mas o certo é que tem
audiência e eu mato a cabeça a pensar que tipo de pessoas perde tempo a ver tal
coisa. Deve ser o espírito voyeurista do povão. Falo nisto porque no facebook,
o humorista Nilton resolveu colocar um vídeo sobre um teste cultural feito
nessa aberração de programa. Os concorrentes vão entrando um a um numa espécie
de cabine telefónica onde, uma voz “off” lhes coloca algumas perguntas. A uma
loira sofisticada com aspecto de “stripper” da dança do varão de um bar rasca,
a tal voz coloca-lhe a seguinte pergunta: “ Qual é a capital da Geórgia?” E,
vai daí, aquela cabecinha oca responde: “Hamburgo”. Caramba! Isto não se faz a
ninguém, perguntar uma coisa destas a um ser daqueles. Claro que a pequerrucha
deve pensar que em Hamburgo nasceram os hamburgers e que os ditos só podiam ser
originários da Geórgia. Realmente Tiblissi não é propriamente uma das cidades
mais conhecidas e haverá certamente muito erudito que talvez também não conseguisse
responder. Agora, Hamburgo?!?! A senhora Merkel que provavelmente passará algum
tempo do seu merecido descanso a ver o “excelente” programa da TVI, deve ter
dado um salto de corça, bem… talvez mais de fêmea do alce. Ainda se a pequena
tivesse visto o filme “E Tudo o Vento Levou” podia ter respondido Atlanta,
sempre fica na Geórgia, estado americano (USA) é certo, mas sempre tinha dito
qualquer coisa não muito cavalar. E daí talvez até nem fosse capaz de ligar
Atlanta ao filme, pois do mesmo só deve lembrar-se do Rhet Butler (Clarck
Gable) a levar a Scarlett O´Hara (Vivian Leigh) escadas acima, até ao quarto,
para lhe dar… para lhe dar… bem, não sei, deve ter-lhe dado alguma coisa boa
porque ela acorda feliz no dia seguinte. Essa cena ela devia ter fixado, agora
que a guerra civil andou lá por Atlanta, aí já não sei se aquela cabecita teria
fixado tal local.
Mas não ficou por aí, porque a
tal voz em “off” faz-lhe segunda pergunta: “Qual é o maior continente?” Aí
aquela linda boca bem pintada, abriu-se em enorme sorriso e responde sem hesitar:
“Os Açores!”. Não sei se pela resposta se pela cara aparvalhada do Nilton,
acabei rindo a bandeiras despregadas. E a voz pergunta: “Os Açores? Porquê?” E
a nossa bela concorrente, senhora do seu nariz e quase ofendida por colocarem
em dúvida os seus conhecimentos culturais, responde já em tom agastado: “Está-se
mesmo a ver. O Continente é só um e os Açores são sete”. Sete? Ainda se fossem
9, teria acertado no número de ilhas. A rapariga saberá o que é um continente? Qual
será o nível de instrução desta gente? Pobre país que tais filhos tem.
Por um lado, este bocadinho, até
me foi benéfico porque me deu para rir que nem um perdido, mas por outro fiquei
triste por tanta ignorância. Porque não respondem “não sei”? Ficava-lhes menos
mal e não se davam ao ridículo. Se os concorrentes fossem evoluídos a estação
não os seleccionaria. O que eles querem é mesmo incultura e javardice. Dá mais
audiências. O povo é que assim não aprende nada…
Esse programa tira-me do sério!... E não é por uma questão de preconceito... É por uma questão de respeito pela minha e a inteligência de muita gente... O que me choca não é eles andarem às cambalhotas debaixo dos edredons ou que façam alarde da sua ignorância congénita... O que me choca é que os mesmos responsáveis pela exibição destes programas, se assumam a outros níveis, defensores do espírito de família e outros valores "cristãos" que nos cercam, numa teia de interesses comerciais e outros e que têm muitas alíneas de excepção para desculpar a verdadeira pornografia encapotada por debaixo dos lençóis e a a elegia da ordinarice mais troglodita que se possa imaginar... Mas também a pornografia contagiante de uma total ausência do mínimos de cultura, o que atesta o grau cultural e cívico que os jovens recebem no nosso ensino... Se querem pornografia, então ponham-na a sério, com actores a isso dedicados, que sempre é uma indústria de conteúdos de entretenimento que dá de comer a alguma gente, mas servirem-se de mentecaptos que aceitam incorporar estes concursos na miragem de uns milhares de Euros e de um sucesso efémero e pernicioso, com o objectivo de virem a ser famosos, é um acto de de verdadeira escravatura intelectual... O mesmo que se servirem de pessoas deficientes mentais ou outros, para produzir um programa para gáudio de uma élite indigente e acrítica, mas principalmente para fazerem fortuna com uma publicidade voraz e insaciável de público...
ResponderEliminarCasa sem segredos
ResponderEliminarAmigo, tudo é certo e faz sentido
Com todas essas cenas, tão normais,
P´ra não esquecer tempos ancestrais,
Que o povo... já se encontra envelhecido.
Antigamente, tudo isso era escondido
Mas, com a breca... nos tempos actuais?...
-Também se faz de pé!... Que coisas tais...
Diz a velha, surpresa, p’ra o marido.
São aulas sexuais p’ra criancinhas.
Mostras de soutiens e de calcinhas,
Na cama, o formular de mil enredos.
Não sei porque tu pasmas, admirado,
Talvez não tenha um nome bem cuidado,
Mas vê que é tudo as claras, sem segredos.
Tiago
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ResponderEliminarOs meus comentadores habituais. Um com uma extraordinária prosa, como sempre, de excelente escritor. O outro, sempre poeta, com um um soneto cheio de humor e malícia. Obrigado amigos pela paciência que têm em ler este pobre escrevinhador.
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