quinta-feira, 2 de abril de 2015

As Páscoas


Como não crente, mas interessado em estudos histórico-religiosos, sempre me fez muita confusão esta história dos coelhinhos e ovos da Páscoa. Coelhos? Ovos? Porquê? Ainda bem que hoje temos a internet. Evitei uma serie de procuras em enciclopédias e outros calhamaços e aí vou eu à procura de analogias. Já há muito que me debruçara sobre as Páscoas judaica e cristã, e até já tinha procurado umas coisas sobre o assunto aquando de um texto que escrevi para ser lido numa escola secundária. A palavra páscoa deriva do hebraico “Pessach” (passagem), pois comemora a passagem do Mar Vermelho que Moisés “abriu” para a travessia do povo judeu na sua fuga do Egipto para a Terra Prometida. Deus, na sua infinita misericórdia racista, flagelou os egípcios com sete pragas para obrigar o faraó Ramsés II a deixar sair os judeus, o seu povo eleito. O último flagelo foi a morte de todos os primogénitos, coitado do povo que nada tinha a ver com isso. Essa “maldade” foi só aplicada aos egípcios pois Deus ordenou que todos os hebreus matassem um borrego e com o sangue do mesmo fizessem uma cruz na porta para que assim o vírus maléfico não entrasse. Claro que esta balela não entra na cabeça de ninguém e muito menos deveria entrar na cabeça dos crentes, pois estes “sabem” que Deus é omnisciente e, portanto, saberia muito bem onde deixar entrar o espírito maléfico da morte. Mas, tradições e mitos existem e é por isso que os judeus comemoram a páscoa com borrego no forno. Bem bom! Mas já me estava a esquecer dos coelhos.
Como sabem, os povos antigos tinham tradições muito ligadas à fertilidade e, a deusa Astarte, dos assírios, era “padroeira” da renovação e como tal foi alvo de grandes oferendas e festividades que aconteciam precisamente no início da primavera, época de todas as renovações. Daí derivou a palavra inglesa “Easter”. O imperador Constantino, que estabeleceu a religião cristã como a religião de Roma (ICAR), no concílio de Niceia determinou a data da Páscoa, tendo em vista tornar as festividades ainda pagãs, como festividades cristãs (o mesmo aconteceu com o Natal) e, pela primeira vez se estabeleceu a data da Páscoa, mas deu muito trabalho a fixar, dado que, por outro lado, também aproveitaram para que a mesma se aproximasse da data da “Pessach” judaica. Ficou então estabelecido que se comemorasse no 1º domingo depois da 1ª lua cheia do equinócio da primavera. Ora a lua não anda às ordens de Deus e, portanto, não aparece quando se quer e como tal a data não é fixa. Talvez por isso a ressurreição de Cristo ao terceiro dia, não o ter sido pois de 6ª a domingo não vão três dias. Voltemos a Astarte.
Os sumérios, primeiros povos a deixarem mensagens escritas, tinham por costume considerar os ovos como fonte de fertilidade e renovação, pois deles saíam todas as aves e não só. Então construíam ovos de barro pintado e enterravam-nos em tocas e vários locais para serem depois encontrados, o que dava lugar a grandes manifestações de alegria. Mas as aves não enterram os ovos e penso que é daí que vem a ideia dos coelhos, que já por si também eram conhecidos como símbolos de grande fertilidade. Julgo também haver uma tradição alemã que conta uma história de que, quando alguns miúdos estavam a receber ovos coloridos, um coelho passou em correria, ficando a tradição que teria sido este a transportar e deixar os ovos. Enfim, muitas lendas vão ficando e as tradições também. Vejam como um povo que viveu há milénios, deixa marcas tão profundas que ainda hoje se mantêm.
Parece pois que há várias Páscoas e que as religiões vão aproveitando tradições para tornarem suas as ideias que já eram de outros.

Felizmente hoje os ovos já não são de barro mas sim de bom chocolate. O borrego aqui foi substituído pelo cabrito e o coelho safou-se pois só aparecem em peluche ou chocolate como oferta pascal. Ah! Ainda faltam as amêndoas. Será por serem parecidas com os ovos? Com isto tudo já me estará a dar a fome. Vou ver o que é que tenho para o almoço.

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