Normalmente, depois de chegar da
natação, aproveito as minhas manhãs para vir até ao computador ver os mails, os
postes do Facebook e ler algumas noticias. Aproveito também para ligar ao canal
Mezzo e assim vou estando entretido com fundos musicais do meu agrado. Hoje, domingo,
ao ligar o Mezzo, deparei com o início da ópera “La Damnation de Fausto” de
Hector Berlioz. O surpreendente é que apresentava uma encenação totalmente
modernista, com projecções computorizadas e cenários envidraçados com armações
de latão, fazendo lembrar gaiolas por um lado livres, mas por outro
inacessíveis onde raparigas seminuas dançavam de forma erótica e os rapazes,
também em reduzidos trajes, tentavam aceder aos seus chamamentos, apenas
conseguindo tocar os vidros. Comecei por estranhar, mas aos poucos fui ficando
pregado à TV fascinado pelo que ia vendo. Entretanto, num enorme ecrã acima,
milhões de espermatozóides travavam a sua luta contra a distância a percorrer
na tentativa da criação de uma nova vida. Surrealista sem dúvida.
A história de Fausto tem vindo a
ser contada de variadíssimas formas, todas elas baseadas na vida do alemão Dr.
Johannes George Faust que foi, médico, alquimista, mago e cientista que viveu
entre 1480 e 1540. Dizia-se que punha a ciência e a alquimia à frente de todos
os desejos e a sua morte foi considerada como sobrenatural e diabólica. Ficou
célebre o poema trágico, em duas partes, de Johann Wolfgang von Goethe.
Baseadas neste poema foram
compostas duas excelentes obras musicais da autoria de Charles Gounod e Hector
Berlioz. Esta última, apresentada na sua verdadeira versão em 1849, uma ópera
também possível para “ballet”, tem tido várias encenações. A que vi no Mezzo,
encenada na ópera da Bastilha em Paris, é completamente apocalíptica. O
encenador Alvis Hermanis transformou Fausto em cientista deste século,
concretamente em Stephen Hawking.
O encenador concebeu a ideia de
levar Fausto para Marte, mas sem volta. Foi essa a sua condenação. Ao final da
história de Fausto, demasiado extravagante, foi-lhe dado completamente a volta,
e Fausto assim, já não desce aos infernos acompanhado de Mefistófeles com
melodias satânicas e cantos diabólicos.
Nesta versão vemos Jonas
Kaufmann, tenor alemão no papel de Fausto e Bryne Terfel, barítono galês, no
papel de Mefistófles. Não identifiquei a cantora que interpreta Margarida.
Kaufmann é um tenor de uma voz muito clara, um tenor spinto e Terfel um
baixo-barítono muito certo, com uma voz muito agradável e límpida.
Relembro que Fausto, coloca o
conhecimento acima de todas as coisas a ponto de entregar a alma ao Diabo em
benefício do saber total. Mas o amor a tudo dá a volta e apaixonado por
Margarida, tenta convencer Mefistófeles a devolver-lhe a alma. O Ser diabólico
não lhe concede o desejo e Fausto acaba por descer aos infernos redimindo a
alma de Margarida que alcança o reino dos céus.
Na encenação que agora vi, Fausto
é enviado para Marte de onde não regressará. Será, talvez, o reinício da vida,
mas noutro planeta. Interessante. A música, além de uma arte sublime, é ao
mesmo tempo intemporal e, sobre qualquer delas, seja de que época for,
conseguem-se contar as mesmas histórias de forma variada não fugindo à sua
essência. Um bom espectáculo que merecia ser visto numa boa sala. Limitei-me à
minha sala de estar e já foi muito bom. Para ficarem com um “cheirinho” desta
excelente ópera aqui vos deixo um link da marcha Húngara com a orquestra
dirigida pelo grande maestro indiano Zubin Mehta:
https://www.youtube.com/watch?v=qhQZn2MWhR8
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