sábado, 17 de fevereiro de 2018

A Forma da Água



Fui ver “A Forma da Água”, filme do mexicano Guillermo del Toro. Ia preparado para ver um filme tipo “O Monstro da Lagoa Azul” que nos anos 60 era uma boa pastelada, mas felizmente que me enganei. Del Toro mostra uma história fantástica do amor de uma rapariga muda por uma criatura de ficção, meio salamandra meio homem, que também se enamora dela. Realmente, isto visto assim, até daria para rir, mas o que nos é mostrado é uma América soturna, durante a guerra fria, preocupada com a espionagem soviética. Ao mesmo tempo o filme põe em evidência a solidão. Solidão de uma rapariga muda sem companheiro, que vive com um artista plástico bastante mais velho, também ele solitário, preocupado com a sua homossexualidade latente. Solidão de um animal estranho, retirado à força do seu habitat natural para poder ser aproveitado para fins científicos, principalmente bélicos. Solidão do chefe de segurança de toda a operação, um tipo mau e cruel, que tendo uma família normal com filhos e uma mulher linda, vive obcecado pela sua função a ponto de esquecer a família e optar por uma violência sem limites para atingir os seus fins. Solidão do cientista que estuda o animal, espião soviético infiltrado, mas que acaba por trair o seu país de origem pela vontade de continuar na América, país que não sendo o dele, lhe dá a possibilidade de continuar a aprender. Solidão dos espiões soviéticos, que não podendo utilizar o ser aquático em prol do seu país o querem destruir só para que os Americanos também fiquem privados da possibilidade de tirarem dali qualquer proveito. Del Toro cria propositadamente um ambiente feio e frio em todos os cenários, quer nos laboratórios secretos, quer nas residências dos intervenientes. Para contrastar aparece o amor e a imaginação da protagonista, acompanhada por uma música de fundo, quase toda ela de canções da época. Refiro particularmente uma das canções, “Babalu” interpretada por Caterina Valente e seu irmão Sílvio Francesco, que me fez regressar aos meus tempos de juventude quando apaixonado por Caterina, comprava todos os seus discos e, perguntei a mim mesmo se, no meio de todos os espectadores, e eram muitos por a sala estar cheia, quantos terão identificado aquelas vozes. O fim do filme, sendo fantástico, ameniza toda aquela solidão pela beleza de uma união etérea no meio aquático, se me é permitida a incongruência. Não sendo uma obra prima, é um bom filme que merece ser visto.

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