Hoje, à porta da pastelaria onde
tomo o meu café matinal, reparei em dois miúdos, mal vestidos, cara suja, um
pouco ranhosos, olhando com olhar embevecido, os bolos artísticos que estavam
na montra. Sorriam face aos bonecos que os bolos figuravam, mas via-se que o
que gostariam mesmo era dar umas boas mordidelas naquelas guloseimas que ali
viam.
Olhei depois para o interior e
acabei por fazer comparações com aquela gente que se acotovelava para comprarem
os bolos rei e ao mesmo tempo tomarem o pequeno almoço. E o pior é que a
maioria eram pessoas que já conheço dali, por lá tomarem o pequeno almoço
diariamente. Acho que estes não são ricos, mas gastam todos os dias 6 ou mais
euros num pequeno almoço que, tomado em casa ficaria por 2 ou menos. São estes
os cidadãos que normalmente dizem mal dos nossos governantes apontando-lhes
todos os defeitos e acusando-os todos os males que os afligem, apontando a
desgraça em que está o nosso SNS, mas que nunca puseram o cu num hospital civil
porque pagam um seguro de saúde e vão aos privados.
“Vejam lá que a minha vizinha
debaixo, esta noite teve uma dor, uma tremenda cólica, foi ao hospital e esteve
lá 8 horas e, ao fim, veio de lá apenas com uma receita. Chegou a casa com uma
tremenda diarreia, não dormiu toda a noite e só de manhã é que lhe passou.”
Claro! Passou-lhe porque tomou o
medicamento e só então se lembrou que tinha comido uns restos do frigorífico,
que já lá tinha há uns dias, e que realmente não estavam com grande aspecto. Se
tivesse ido ao Centro de Saúde ou tivesse ligado para o SOS 24, tinha resolvido
o problema e não tinha ido atravancar as urgências hospitalares.
E com tudo isto começo a pensar
que bom seria vivermos num país onde todos pudessem usufruir de um rendimento
que os tirasse da pobreza e, ao mesmo tempo, ter um governo que não permitisse
rendimentos acima de um máximo estabelecido.
Tu és é comunista, dizem os meus
amigos que vivem com rendimentos acima da média. Eu pergunto-lhes: “Olhem lá,
mas isto não é social democracia?”
Quero lá saber o que é. Só sei
que a pobreza, está mais nos países do sul que do norte, nos dos cristãos
católicos que dos outros e que, no fim, o que se verifica é uma grande
diferença de educação e cultura.
E com tudo isto sinto-me
impotente para mudar as coisas. Vou fazer como os outros. Vou culpar o governo.
Eles é que são maus.
Acabei por sair dali e só depois,
já em casa, é que me lembrei que devia ter comprado um bolo aos putos. Mas para
quê? Talvez lhes fizesse pior. Ao menos assim não ficam com o sabor na boca e
frustrados por não poderem comer um bolo todos os dias.
Mas estamos no Natal. Que bom!
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