O Langão regressou de mais uma das suas digressões nocturnas. Veio
curvadito, cabeça baixa mas com ar satisfeito abanando o rabo. Uma das cadelas
das redondezas deve ter tido uma noite basto erótica. O Langão não deixa os
seus créditos por patas alheias. Tem um nariz maravilhoso. Cheira uma namorada
disponível a quilómetros de distância. Nem come como deve. Volta à sua zona de
vez em quando para meter algo no bucho e lá vai ele de novo. Antes de sair
ainda tem tempo para “cumprimentar” os amigos humanos que aqui o receberam como
hóspede permanente. Um dos habitantes dá-lhe de comer. Onde comem quatro também
comem cinco. Dorme na garagem onde faz companhia a uma cadelita já residente
antiga. Brinca com os canitos do seu anfitrião e sai comigo a dar umas
passeatas juntamente com a sua companheira de hospedaria. Todas as manhãs vem
bater-me ao portão para me chamar. Já há dois dias que não o fazia. Sabendo das
suas digressões amorosas não me preocupei muito. O dono adoptivo avisou-me que
já não dormia em “casa” há duas noites seguidas. Grande Langão, isso é que se
chama um cão das arábias. Já andava mais gordito e direito e agora regressou
bastante mais magro e curvilíneo. Grandes noitadas deve ter tido. Aqui pela
terra começam a aparecer uns cachorros muito parecidos com ele. As pessoas,
donas das bichitas, já dizem: “ Esse “seu” cão cobriu-me a cadela e tenho ali
uns filhotes bem parecidos com ele”. Faço-lhes ver que o cão não é meu, que é
só um amigo que gosta de mim e me segue para todo o lado, mas qual quê. Anda
comigo, tem de ser meu. E lá me vejo qual “pai” acusado de ter um filho
abusador das “donzelas” canídeas cá do burgo. Um tipo até queria que eu levasse
o filhote comigo. O bicho era giríssimo e tal e qual a “cara” do pai. Tivesse
eu local para o ter e até nem me importaria. Andar cá e lá de cachorro atrás e
ter de viver com ele num andar em Lisboa, já não é para a minha idade. Assim
quase que me vejo a desculpar-me das escapadelas amorosas do Langão, como se
tivesse alguma coisa com isso. Passo a vida a “falar” com ele em conversas
tipo: “ Grande malandro! Vê lá se começas a refrear esses teus instintos de
conquistador, porque eu é que oiço os donos recalcitrantes. Tem mas é juízo
pois já não és criança nenhuma e estava na altura de seres mais comedido. Olha
que ainda não há viagra para cães e isso qualquer dia acaba-se”.
Pois sim! O amigo Langas,
eufemismo que uso como forma carinhosa de o tratar, está-se nas tintas e
continua com os seus amorosos devaneios. É um autêntico Casanova canino. Estou
convencido que, se vivesse em Veneza, nem os canais seriam entraves às suas
divagações. Acabo por ter muito orgulho neste meu amigo.
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