quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Langão II




O Langão regressou de mais uma das suas digressões nocturnas. Veio curvadito, cabeça baixa mas com ar satisfeito abanando o rabo. Uma das cadelas das redondezas deve ter tido uma noite basto erótica. O Langão não deixa os seus créditos por patas alheias. Tem um nariz maravilhoso. Cheira uma namorada disponível a quilómetros de distância. Nem come como deve. Volta à sua zona de vez em quando para meter algo no bucho e lá vai ele de novo. Antes de sair ainda tem tempo para “cumprimentar” os amigos humanos que aqui o receberam como hóspede permanente. Um dos habitantes dá-lhe de comer. Onde comem quatro também comem cinco. Dorme na garagem onde faz companhia a uma cadelita já residente antiga. Brinca com os canitos do seu anfitrião e sai comigo a dar umas passeatas juntamente com a sua companheira de hospedaria. Todas as manhãs vem bater-me ao portão para me chamar. Já há dois dias que não o fazia. Sabendo das suas digressões amorosas não me preocupei muito. O dono adoptivo avisou-me que já não dormia em “casa” há duas noites seguidas. Grande Langão, isso é que se chama um cão das arábias. Já andava mais gordito e direito e agora regressou bastante mais magro e curvilíneo. Grandes noitadas deve ter tido. Aqui pela terra começam a aparecer uns cachorros muito parecidos com ele. As pessoas, donas das bichitas, já dizem: “ Esse “seu” cão cobriu-me a cadela e tenho ali uns filhotes bem parecidos com ele”. Faço-lhes ver que o cão não é meu, que é só um amigo que gosta de mim e me segue para todo o lado, mas qual quê. Anda comigo, tem de ser meu. E lá me vejo qual “pai” acusado de ter um filho abusador das “donzelas” canídeas cá do burgo. Um tipo até queria que eu levasse o filhote comigo. O bicho era giríssimo e tal e qual a “cara” do pai. Tivesse eu local para o ter e até nem me importaria. Andar cá e lá de cachorro atrás e ter de viver com ele num andar em Lisboa, já não é para a minha idade. Assim quase que me vejo a desculpar-me das escapadelas amorosas do Langão, como se tivesse alguma coisa com isso. Passo a vida a “falar” com ele em conversas tipo: “ Grande malandro! Vê lá se começas a refrear esses teus instintos de conquistador, porque eu é que oiço os donos recalcitrantes. Tem mas é juízo pois já não és criança nenhuma e estava na altura de seres mais comedido. Olha que ainda não há viagra para cães e isso qualquer dia acaba-se”.
Pois sim! O amigo Langas, eufemismo que uso como forma carinhosa de o tratar, está-se nas tintas e continua com os seus amorosos devaneios. É um autêntico Casanova canino. Estou convencido que, se vivesse em Veneza, nem os canais seriam entraves às suas divagações. Acabo por ter muito orgulho neste meu amigo.

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