quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Reflexões diabólicas

Esta foi escrita para mim. Gosto de me divertir... dá-me muito gozo.

Que gaita! Todos me chateiam, todos me invectivam, passam a vida a clamar, quando algo corre mal, “ OH! Diabo!” “Diabo do homem!” “Diabo do cão!” “Diabos me levem!”, como se isso se fizesse a pedido, quem sabe quem levar sou eu, eu é que pondero a qualidade das vidas que cada um viveu e estabeleço quem vem para baixo. Deixem-me em paz! Com tanto chamamento ainda acabo por ir para o diabo. Lá estou eu, até já me influenciaram e invectivo-me a mim próprio, desculpem o pleonasmo. Além disso compararem-me com um homem ou um cão, isso não se faz, eu sou um ser, maléfico é certo, mas um ser em que muitos acreditam e de quem fogem como ó diabo. Bolas! Lá estou eu outra vez.
O Diabo, eu, existe. Sou o contrário do Bem, represento o mal, a vida é feita de dualidades; machos e fêmeas, Yin e Yang, céu e Inferno, bem e mal, já lá dizia o Maniqueu. Represento o contrário do bem, sou o inimigo, o adversário, “Ashatan”, por isso Satanás. Se não houvesse bem não se saberia o que é mal, mas o contrário também é verdadeiro, se só houvesse mal esse mal poderia ser o bem ou qualquer outra coisa. Se eu não existisse, as pobres “almas” pecadoras não teriam onde ficar, assim dou-lhes acolhimento e com isso acabo por praticar o bem, lagarto, lagarto, lagarto e eu até sou do Benfica, vejam-se os “Red Devils”. Mas hão-de concordar que o local onde eu domino, o inferno, até um sítio aprazível, quentinho, divertido, fazemos umas maldades às ”almas” pecadoras, em contraste com o local onde o meu opositor coloca as “almas” bem comportadas, que tristeza, tudo branco, que horror, com umas nuvens cheias de batas brancas, com liras nas mãos, sem tocarem nada de jeito, parece que “almas” de maestros não vão para lá, pois eles além de uns grandes chatos para os músicos, gostam de levar uma vidinha cheia de coisas boas e não promovem a caridade nem boas acções. As “almas” fêmeas também são feias como ó diabo. Gaita, não consigo livrar-me disto. Cruzes, canhoto. Ao menos aqui, estão cá todas as boazonas que levaram uma vida cheia do bom e do melhor e também do pior. Agora isto já está cheio demais, pois ao acabarem com o purgatório muitas “almas” ainda não estavam prontas para subirem e tiveram de vir até aqui e eu é que me lixo com uma sobrelotação dos demónios. Gaita! Tenho de ver se acabo com esta mania pois ainda me vulgarizo em demasia e perco o poder por as pessoas deixarem de ter medo e acabarem por rir da minha figura.
E já o Eco dizia naquele livro com nome de flor:

“O riso distrai, por alguns instantes, o aldeão do medo. Mas a lei é imposta pelo medo, cujo nome verdadeiro é temor a Deus [...] E o que seremos nós, criaturas pecadoras, sem o medo, talvez o mais benéfico e afectuoso dos dons divinos?”  O riso, nesse sentido, seria contra a Igreja e contra Deus. Logo, numa associação rápida, a favor do Diabo. A teologia cristã, que dividiu o mundo entre o Bem e o Mal, traduziu no pensamento sobre o riso essa oposição fundamental: diabólicas seriam todas as formas do riso desafiador ligadas ao mundo terreno. Riso imoderado, obsceno, festivo, jocoso, zombador, paródico e rebaixador.” 

Estão a ver, ainda acabo ridicularizado e perco o poder sobre as “almas” e depois ninguém quer vir e começam todos a portarem-se bem e perco clientela. Ficará este inferno uma tristeza e o mundo lá por cima ainda pior por demasiado bem que lá se praticará. Torna-se aquilo uma sensaboria sem umas traições, sem bebedeiras e estroinices, sem uma gajas malucas para se darem umas boas cambalhotas, sem políticos, esses fazedores de maldades que se constituem ladrões e vigaristas para conseguirem viver com os proventos que nos são roubados. Assim, ladrão por ladrão que o seja o cidadão vulgar e não os políticos que já não precisam por entretanto terem auferido do que comeram à mesa do orçamento.
Tenho pois que me deixar de sornices e recomeçar a trabalhar para que os humanos não se tornem bons e que continuem a codilharem-se uns aos outros, fazendo umas guerras para poderem sacar os recursos naturais que os outros têm e não aproveitam. Ao mesmo tempo fazer com que também continuem crentes nos seus vários deuses, e em quantos mais melhor, para conflituarem uns com os outros.
Quem acredita em deuses também acredita em fantasmas e em bruxedos, é supersticioso e acaba por atraiçoar o seu deus e vem cá parar direitinho.
Deixem-me viver descansado e não chamem tanto por mim, pois não posso acudir a tudo, isto por aqui já está inflacionado de “almas” penadas.
Estou um pouco cansado, e se me chateiam muito peço a reforma, mas a idade para tal vai aumentando e nunca mais me safo. Penso que o melhor é começar a fazer o bem e voltar a ser anjo não tresmalhado e até pode ser que o patrão me receba de novo e me tire aqui das profundezas. Gostava de voltar a ser anjinho e até podia ser um da guarda e tomar conta de alguém lá de cima, talvez até daquele que anda por lá a lixar os portugueses, para que nada de maléfico lhe aconteça, lagarto, lagarto , lagarto e eu que sou do BENFICA…

Inté (estes brasileirismos...) e vão pr'ó diabo que os carregue.

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