sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

TRAGÉDIA NO MECO


Ainda ninguém sabe o que se passou. Não há, por enquanto, testemunhas alheias à tragédia. A única testemunha fez parte dela e salvou-se com ajuda de pessoal dos bombeiros e polícia marítima. A judiciária tem o processo em investigação e segredo de justiça, mas o povo português já sabe tudo. Foi a praxe académica e aquele Dux é um assassino. Até pode ser que seja tudo assim ou pior ainda, mas também pode ser que não seja. Mas os portugueses já fizeram o julgamento. Foi o Dux e a culpada de tudo é a praxe académica. Como é que isto é possível?
Os nossos Media já sabem tudo e têm tudo visto e previsto. A campanha foi feita e estudada  para vender papel e tempo de antena. O governo aproveitou, pois assim o povo esquece-se das coisas realmente más que por aí andam e, às quais quanto mais fugir e não responder melhor.
 A TVI chegou ao ponto de fazer uma reconstituição de uma praxe baseada num escrito de Fernando Pessoa, de um ritual demoníaco, aproveitada para praxar caloiros. Só que colocou o caso de tal modo que, quem viu sem pensar, pode ter tomado aquilo como realidade do que se passou. E se repararem, foi feito com esse intuito. A histeria sobre o caso leva ministros a reunirem-se com direcções de universidades e associações académicas. E depois de tudo isto eu pergunto: que se passou realmente? Ninguém sabe.
As famílias querem responsáveis, o governo anda a aproveitar-se, os media vendem papel e tempo de antena e os portugueses histericamente alarmados, já fizeram o julgamento.
Responsabilizar a universidade? Como, se as praxes, conselhos de praxe e quaisquer outras organizações de praxe e seus membros, são completamente independentes da organização universidade? Como, se até aqui havia e continuam a haver códigos de silêncio sobre o assunto? Como se pode querer que reitores, directores, conselhos e outros órgãos, saibam o que se passa fora, ou mesmo dentro, das universidades, se os assuntos nem lhes chegam? Só se houver vigilantes, tipo agente secreto, que “bufem” para as direcções. E mesmo que “bufem”, quem vai acusar quem? Proibir as praxes? Nem pensem. Nada se resolve pura e simplesmente com proibições. Se assim fosse não havia drogados. Veja-se o código da estrada, montes de proibições e todos os dias há mortes por desrespeito às regras. Há praxes estúpidas e perigosas? Claro que há. E há, porque infelizmente há também muita gente estúpida e prepotente no meio académico. Mas se as praxes ultrapassarem aquilo que se considere (no meio) aceitável, e entrar no campo do perigoso e do crime, há leis no país para julgar e punir esses actos se tiverem coragem de os denunciar.
As vítimas da tragédia eram todas adultas, nenhum era caloiro e todos, segundo consta, eram membros de conselhos de praxe já com títulos atribuídos. Se estavam em algum ritual, só o sobrevivente poderá esclarecer. Se era um ritual obrigatório e os colocou em perigo, sabiam a que estavam sujeitos e eram voluntários. Correu mal? Correu e muito. Foi propositado para lhes incutir sentimento de obediência? Talvez. Mas continuavam a submeter-se voluntariamente e sabiam para o que iam. Pena foi não terem respeitado o mar. Esse não perdoa e, mesmo sem rituais satânicos, leva muita gente para a morte. Se houver crime, que seja julgado e punido. Não arranjem é bodes expiatórios.


2 comentários:

  1. Concordo inteiramente com todo o seu desenvolvimento analítico, caro Rui. Todas estas coisas vão ocorrendo de per si, com as respectivas sequelas e, como é óbvio, alguém se vai aproveitando de toda esta poeira para que CERTAS COISAS não sejam destacadas na vida colectiva. Enfim, isto tudo já se tornou uma farsa... e caminha, quem sabe para uma autêntica "comédia vicentina"... Abraço do poetAmigo Frassino Machado

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