(Rui à beira-mar)
Poderia começar este post com o
título acima entre parênteses dado que nestas férias, em cadeirinha à beira dos
mares do sul, li nada mais, nada menos do que três livros de Haruki Murakami e
assim, parafraseando o título do livro dele de que mais gostei, vou tentar
falar-vos um pouco de cada um:
Em Busca do Carneiro Selvagem
A Sul da Fronteira a Oeste do Sol
“After Dark” Os Passageiros da Noite
Com os excelentes “Kafka à
Beira-mar” e “O Impiedoso Mundo das Maravilhas e O Fim do Mundo”, que li
primeiro e sobre os quais já aqui falei, Haruki Murakami, já se me tinha
exposto como um escritor fascinante. Os seus romances, sempre passados no
Japão, poderiam ter sido escritos em Nova York ou qualquer outra cidade americana.
As suas personagens movimentam-se num Japão moderno, ao som de “blues” ou
música clássica, em ambientes de cafetarias ou clubes nocturnos com um estilo
de vida completamente americanizado. Mas o fascinante de Murakami é que
consegue criar no leitor um interesse crescente pelas histórias, nas quais alia
a realidade com o fantástico colocando nas mesmas, ao mesmo tempo, um certo
fascínio oriental.
Assim, vai crescendo no leitor o
interesse pelo fim da história, como se de um policial se tratasse, e chega ao
fim completamente encantado com o irreal da narrativa, com o seu quê de
sobrenatural aceitável.
No primeiro livro que refiro, a
personagem principal, um publicitário que usa uma fotografia com uma imagem
rural de um rebanho onde sobressai um carneiro diferente dos restantes, vê-se
impelido, praticamente obrigado por uma poderosa personagem, a encontrar esse
animal. Durante essa procura apaixona-se por uma rapariga de orelhas
fascinantes, que o ajuda. Só que o animal procurado não é real mas sim com
poderes sobrenaturais. Inverosímil? Não. Absolutamente fascinante.
O segundo livro é praticamente
uma história de amor. O narrador Hajime, de seu nome, na adolescência conhece
uma rapariga, Shimamoto, com a qual faz amizade estudando juntos e ouvindo
músicas, especialmente um original de Nat King Cole “South of
the Border, West of the Sun”.
Aqui, meto a minha
colherada, como elemento já velhote, dado que esta canção com o título “South
of the Border, Down Mexico Way” é um original de um filme do célebre cowboy
“Hopalong Cassidy” muito em voga nos anos 30/40.
Por circunstâncias
diversas Shimamoto desaparece da vida de Hajime, vindo mais tarde a
encontrar-se recordando esta canção no bar que entretanto Hajime explorava. Há
aqui uma enorme relação com o célebre Casablanca e o seu “As Time Goes Bye”.
Sendo um romance menos misterioso que os anteriores, não deixa de ser uma
excelente história de encontros e desencontros e pleno de sensualidade.
Ao começar a ler
“After Dark”, veio-me logo à ideia o filme “Nova York Fora de Horas”. Nota-se
aqui o interesse do autor pela história que Scorcese tão bem colocou em cinema.
O livro foca a noite de Tóquio com os seus mistérios, sonhos, violência, etc.
Uma prostituta chinesa brutalmente agredida, a gerente de um hotel do amor, um
técnico informático, uma empregada de limpeza em fuga, um músico tocador de
saxofone, etc. Todas estas personagens se movimentam numa noite de Tóquio como
num sonho cujas imagens se vão repetindo sempre com o seu quê de fantástico mas
ao mesmo tempo reais.
Murakami é um
escritor que nos subjuga pelos seus temas nebulosos e oníricos mas ao mesmo
tempo tão reais. Valeram a pena os tempos que passei, tal como Kafka, à
beira-mar.
Meu caro amigo, deixe-me dizer-lhe, baixinho,que, ao lê-lo,me fui considerando um verdadeiro ignorante! Nunca tinha ouvido falar em tal escritor! Afinal, mesmo que a vida seja longa, acabamos por deixar para trás belezas que nunca conhecemos! Férias bem preenchidas e preciosas informações para os amantes da boa leitura; Bem haja, um grande abraço do Jaime Moura.
ResponderEliminarÉs um devorador de livros... melhor seria dizer, de literatura... Mas não só os devoras, como os digeres e consegues deles retirar, não só aquilo que o autor neles plantou, como também aquilo que tu interpretas nas linhas e entre linhas, cumprindo também assim um dos intentos do autor, levar o leitor a fazer a sua própria história da história que ele criou...
ResponderEliminarGabo-te e invejo essa tua capacidade de apego à leitura, que eu, muito embora sinta dela necessidade, não consigo aplicar e levar a bom porto, tal a dispersão por interesses vários a que sou sensível. Mas também contigo partilho o interesse pelo cinema, que considero uma forma muito poderosa de nos transmitir histórias e ideias, talvez num registo mais imediatista, mas não menos belo e eficaz...
A arte, a cultura e o conhecimento, e a capacidade de com tudo isto podermos raciocinar e tirar ensinamentos para a vida, são na realidade aquilo que nos distingue das outras espécies animais e nos coloca no topo da cadeia dos seres vivos, sendo que a natureza no seu todo será o climax de todo o mistério da vida.
Mas que me causas um desconforto recriminatório em mim mesmo por não ter a tua capacidade de leitura, lá isso é verdade. E por isso te elogio!... Saber o que lês e ler estas tua impressões pelas tuas leituras, já é uma pequena compensação... Obrigado...
Meus Caros Amigos. O meu obrigado pelos vossos comentários. Pergunto muitas vezes a mim próprio porque escrevo. Não sou escritor, faço umas coisitas em ficção mas demasiado simples e sem interesse literário. Enfim, sou mais escrevinhador que outra coisa, mas acabo por responder a mim mesmo: "Porque gosto e me dá gozo". É isso, mas todos gostam de serem lidos e eu sou um sortudo pois tenho amigos que me lêem. Agradeço ao Amigo Jaime Moura, que tão bem escreve prosa poética bonita e bem difícil, ao meu Amigo Barradas Barroso (Tiago) que com a sua sensibilidade poética comenta sempre em excelentes sonetos, ao meu Amigo Nelson que também escreve e ao Meu Amigo Ernani Balsa cujos comentários são de uma excelência tal que até, ao lê-los, me sinto culpado de escrever tão mal. Mas vou continuar e espero sempre os vossos excelentes comentários. Bem hajam.
ResponderEliminarA leitura
ResponderEliminarDescreves tantos livros, com rigor,
Que sinto o desconforto da ignorância,
Já li muito também, na minha infância,
De aventuras, alguns, outros, de amor.
Depois subi de escala, de valor,
Tentei ler os autores com importância,
Dediquei-me aos clássicos, com ânsia,
Mas a vida apagou-me esse fervor.
Agora, só me prendem filhos, netos,
Mas a par dos meus versos predilectos
Que venceram, comigo, muita agrura.
Meus olhos, tão cansados, não respondem
E, assim, envergonhados, já se escondem,
Culpados p’lo abandono da leitura.
O que é que eu disse acima? Vêem como é bom receber comentários destes. Um grande abração para ti Tiago e o meu obrigado por esse belo soneto.
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