terça-feira, 24 de abril de 2018

Quem é Jesus?


— Ó mãe, quem é Jesus?
— Jesus, meu filho, é o filho de Deus.
— Ó mãe, e quem era a mãe de Jesus?
— A mãe de Jesus era a Virgem Maria.
— Então essa Virgem Maria era a mulher de Deus.
— Não meu filho. Deus não tinha mulher. A virgem Maria era a Mulher de José que era carpinteiro.
— Ah! Era divorciada.
— Onde fostes buscar essa, claro que não era.
— Então teve um filho de Deus, era casada com José e não era divorciada? Coisa esquisita. Aqui a nossa vizinha também teve um filho que não era do marido e lixou-se. Levou uma carga de porrada e foi expulsa de casa.
— Ó filho, tu um dia vais compreender isso. Deus é todo poderoso. Tem o dom de poder fazer um filho na mulher que lhe apetecer.
— Ah! O Pai no outro dia também disse à vizinha que gostava de ser o pai do filho dela.
— O teu pai disse isso? Já vai ver com quantos paus se faz uma canoa.
— Para que precisa o pai de uma canoa? Ouvi dizer que os filhos se faziam na cama, não é verdade?
— Olha! Estas conversas não são para ti. Um dia vais compreender.
— Ó mãe, porque não compreender já? Ficavam as coisas já esclarecidas.
— Tens razão rapaz. Pergunta que a mãe explica.
— Bem! Já sei que Deus fez um filho á virgem Maria. Ó mãe o que é virgem?
— Olha lá! Lá na escola ainda não te ensinaram o que é uma floresta virgem?
— Já. É uma floresta onde o homem nunca entrou.
— Pois é. Bem explicado. Com as mulheres é a mesma coisa.
— Ah. Então foi por isso que a Marina aqui do lado levou uma carga de porrada do pai. Parece que era virgem e deixou de ser. E eu até sei quem foi que lá deve ter entrado. Foi aquele tipo que é mecânico na oficina aqui atrás.
— As coisas que tu sabes. E depois, houve algum azar?
— Parece que sim. Acho que vai ter um bebé. Ó mãe o Francisco é Deus?
— Que disparate filho. O Francisco é um homem.
— Ó mãe e deus não é homem?
— Ai rapaz, dás.me cabo da cabeça. Claro que Deus é Deus e não é homem. Está acima dos homens.
— Então o Francisco não percebe nada disso. Deus fez um filho à Maria que continuou virgem, o Francisco fez um filho à vizinha e ela não continuou. Ouvi a mãe a gritar: “Perdeste a virgindade filha. E agora o que vai ser de ti?”
— Ó mãe?
— Diz filho.
— O José bateu na Maria?
— Claro que não. O José era santo.
— Santo? Acho que era santo e parvo. Faziam filhos na mulher dele e ele não se importava. Acho que era parvo ou muito distraído.
— Ó filho. Vê se compreendes. Deus mandou a virgem conceber um filho que no fim era ele mesmo para poder vir à terra comunicar o que ele queria que fosse ensinado.
— Porque não veio ele próprio?
— Ai filho, caramba! Deus é espírito e espíritos não andam por aí a falar com as pessoas.
— Mas a minha professora de catequese disse que Deus falou com Abraão e com Moisés. Se falava com uns porque não com todos?
— Ai rapaz, dás-me cabo da cabeça. Isso foi muito tempo atrás. Parece que Deus achou que devia ser um homem a falar com os outros homens.
— Afinal Jesus era homem ou Deus?
— Era Deus feito homem.
— Que confusão. E afinal ouviram-no ou não?
— Uns ouviram-no outros não. Até houve os que não acreditaram nele e mataram-no. Mas ele deixou-se matar para nos salvar.
— Não percebo. Como nos salvará depois de morto?
— Ó filho. Acho que vai interceder lá em cima pelas nossas almas se formos bons.
— Ó mãe. Temos de ser bons para que Jesus tome conta das nossas almas?
— Claro filho. Se formos maus vamos para o Inferno e lá está o Diabo para nos supliciar.
— Então o Diabo é mau e Jesus não o leva para ao pé dele.
— Pois é filho. Bons para ao pé dos bons e maus para ao pé dos maus.
— Ó mãe, podiam fazer isso para que ficassem metade bons e outra metade maus, até podia ser que os bons tornassem os maus menos maus e quando todos estivessem bons já Jesus tomava conta de todos.
— Olha filho. Não sei que dizer-te. Tens alguma razão. Naturalmente até será assim.
— Só não percebo porque é que Jesus sendo Deus ou filho dele, ou lá o que era, tenha tido de morrer para nos salvar. Sendo Deus podia ter feito tudo isso enquanto era vivo.
— Mãe. Quando o pai chegar vou fazer-lhe as mesmas perguntas a ver se ele me explica melhor.
— Quem lhe vai pedir explicações vou ser eu. Sempre quero ver o que me vai dizer sobre o querer fazer filhos à vizinha.
— Olha mãe. Se o pai conseguir é porque é Deus.






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