quarta-feira, 27 de junho de 2018

Algumas palavras sobre o livro de Valentino Viegas “As Teias da Primeira Revolução Portuguesa”



Escrever um livro histórico não é para qualquer um e, fazê-lo em forma de romance é-o ainda menos. Mas o meu amigo Valentino Viegas não é qualquer um. Historiador doutorado, deve ter passado grande parte, da sua vida e do seu tempo, feito rato de bibliotecas e arquivos metendo o nariz em tudo o que é registo e documento para nos relatar com a maior veracidade possível “As Teias da Primeira Revolução Portuguesa”, dando-lhe ao mesmo tempo uma visão quase real do que teriam sido os diálogos e conversas de todos aqueles homens que foram responsáveis pelo facto de a coroa portuguesa não ter caído em mãos castelhanas após a morte de D. Fernando e durante a regência de sua mulher D.ª Leonor Teles (1383/1385). É pois, através de uma linguagem fácil que seguimos todas as reuniões dos homens, quer da nobreza quer do povo, que levam D. João, Mestre de Avis, a liderar várias acções, que começando na morte do Conde Andeiro, terminam nas Cortes de Coimbra com a aclamação de D. João, Mestre de Avis, a rei de Portugal.
Através deste livro romanceado ficamos a saber que a causa de toda a teia revolucionária residiu no facto de Portugal estar em vias de perder a independência nacional, por ainda não ter nascido o filho do rei D. João I de Castela e de D. Beatriz, filha do falecido rei D. Fernando e da rainha D. Leonor Teles que, depois de gerado, seria o futuro rei do território português, conforme determinavam as cláusulas do contrato de casamento de Salvaterra de Magos. O rei vizinho, como desejava ocupar o trono português, já se intitulava rei de Portugal, por lhe permitir o clausulado daquele contrato. A sua vontade era fazer letra morta daquele tratado celebrado entre Portugal e Castela.
O livro revela também como a rainha D. Leonor, que pretendia concentrar em si todo o poder, tinha conseguido que os infantes D. João e D. Dinis, potenciais candidatos ao trono português, filhos do rei D. Pedro e de D. Inês de Castro, se exilassem em Castela. Por sua vez, o amedrontado D. João, Mestre de Avis, igualmente filho do rei D. Pedro, contudo, muito menos influente que aqueles dois meios-irmãos, alegando defender a sua vida mata o conde Andeiro, amante da rainha, acelerando o complexo e imprevisível movimento revolucionário.
Nesta intensa trama, o cidadão Álvaro Pais, alguns nobres e homens do povo, como o tanoeiro Afonso Anes Penedo e o sapateiro Estevão Domingues, conseguiram, com a sua liderança e intervenção, mudar o rumo dos acontecimentos fazendo com que nobres, clérigos, representantes concelhios e homens de leis, como o doutor João das Regras, tomassem as decisões que mudaram o curso da história.
Tudo isto nos é mostrado através de uma linguagem livre e directa, completamente entusiasmante que nos leva, parágrafo atrás de parágrafo, até ao fim da história que é de nós conhecida na sua essência, mas não no seu pormenor. De salientar algumas similitudes entre esta revolução e a de 25 de Abril de 74.
A propósito de linguagem livre, achei divertidíssimo que Valentino Viegas pusesse na fala de Afonso Anes Penedo, a frase: “… pela minha parte, tive o cuidado de reanalisar o filme posto a correr pelas ruas e ruelas da capital ...” como se em pleno século XIV já fosse possível utilizar filmes. Liberdades de escritor que o autor certamente me perdoará a ousadia de referir.
Valentino Viegas sempre se interessou pela história e já a isso se referia em livros anteriores, nomeadamente em “A Morte do Herói Português”, livro que escreveu sobre a sua experiência de guerra em África, onde aliás teve comportamento extraordinário que lhe valeu uma cruz de guerra. 
Sinto-me honrado em ser amigo deste nosso historiador/escritor, natural de Goa, que optou por viver em Portugal após a invasão daquele território e que muito veio valorizar o nosso panorama cultural.




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