Escolhi o filme por um site de cinema.
No meio de uma série de filmes, uns de acção (estou farto disso), outros de
comédia (falta-me a paciência), outros tipo dramalhão de fazer chorar as pedras
da calçada (já não há pachorra), acabei por me concentrar num argumento que me
pareceu ser algo de sério e que me despertou interesse por ter algo a ver
comigo, livros. A Livraria é um filme de mulheres que retracta mulheres.
Mulheres que sabem o que querem da vida e lutam por isso. Infelizmente nem
todos os quereres estão livres de invejas e de más intenções. É um filme
relatado em ritmo lento e em ambiente sóbrio, algo tristonho, em que o clima
carrega um pouco o ambiente, mas por outro lado descontrai pelo sossego.
O tema é baseado no livro do
mesmo nome de autoria de uma escritora britânica Penelope Fitzgerald. A
realização é de uma Catalã já consagrada, Isabel Coixet. A produção é alemã, reino
unido e espanhola.
Uma mulher, ainda nova, mas viúva
de guerra há dezasseis anos, Florence (Emily Mortimer, excelente papel), tem o
sonho de abrir uma livraria numa casa velha de uma localidade meio perdida na
costa britânica. Esta vontade, algo temerária, pois naquela terra pouco ou nada
se lê, vai contundir com as pretensões da mulher rica lá da terra, casada com
um general reformado, que se arma em, e acaba por ser, a figura máxima do burgo
a quem todos prestam vassalagem. Uma atitude daquelas poderá colocar em causa a
sua supremacia e, assim, move todas as suas influências para boicotar o
empreendimento, contrapondo que aquela velha residência, desabitada há tantos
anos, seria muito melhor aproveitada como um centro cultural e de artes. Esta
atitude da detentora do poder, leva tudo e todos, incluindo o banqueiro que de
início apoia a iniciativa, contra a
vontade de Florence em levar os habitantes ao hábito da leitura.
Florence, a nossa personagem
central, alheia a tudo isso, continua com o seu ideal e, apoiada pelo único
habitante que lê, um misantropo que nunca sai e vive numa velha casa, tipo
castelo, consegue fazer prosperar o seu negócio e levar as pessoas a lerem e a
comprarem livros, mostrando e provando que estes abrem as mentalidades e dão
força e coragem aos leitores. Florence acaba por dar emprego em “part time” a
uma rapariga adolescente, que mais tarde percebemos ser a relatora da história,
a quem se começa a dedicar. Mas, a inveja dos poderosos é forte e Florence,
lutadora com os seus ideais, mas incapaz de criar guerras e fazer frente a
opositores, vê-se obrigada a abandonar o seu ideal, apesar da ajuda do seu
apoiante, Edmund Brundish, por quem começa a sentir uma certa atracção. O final
é esperado e surge sem sobressaltos tal como começa o filme…
O seu aliado, tenta lutar a seu
favor, mas um estúpido enfarte faz parar a iniciativa. Florence renuncia à
luta, mas a sua jovem seguidora, não tão adepta das boas vontades, dá uma inesperada
finalidade ao problema.
O filme acaba como começou, em
sossego e sem conflitos. O espectador habituado que está à violência e aos
finais em que o bem vence o mal pela força, fica um pouco expectante, mas
sereno e descansado.
De salientar as excelentes
interpretações de Emily Mortimer no papel de Florence, Honor Kneafsey, a sua
pequena ajudante¸ James Lance num papel algo caricato como
adulador, mas efeminado e o sóbrio e “very british” Bill Nighy como Mr. Brundish. Patricia Clarkson dá-nos
uma óptima opositora, irritante na sua soberba, mas sempre elegante na sua
aparência.
Valeu a pena.
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