(problemas da idade avançada)
Sou um tipo que gosta de
comunicar. Comunicar falando, comunicar escrevendo. Mas, o certo é que só
comecei a ser um falador após deixar de fumar, o que aconteceu pelos meus 38
anos. Passei a comer que nem um lobo, quando era um pisco, e para compensar a
falta do tabaco falava. E hoje sou aquilo a que se pode chamar uma língua de
prata. Por um lado, é bom; comunico com os amigos, conto umas anedotas, tento
ensinar o pouco que sei e também aprendo com eles, mas acabo entretendo a
malta. Na piscina, os meus amigos até já sentem a minha falta quando, por algum
afazer extra, eu não apareço. Enquanto nos despimos, nos lavamos e nos vestimos,
vamos conversando e dizendo umas graças. Só que a idade não perdoa e com o
“paleio” vamos esquecendo umas coisas e, normalmente, lá temos de voltar atrás
à procura das chaves, telemóvel, frascos do gel de banho, champô, etc. Mas
aconteceu pior. Eu conto: Um destes dias, enquanto me limpava, sentado no banco
corrido do balneário, conversava animadamente com o meu amigo José Valente. Entretanto,
deito a mão às calças penduradas no cabide atrás de mim e começo placidamente a
vesti-las. O meu amigo, sentado de frente vê um companheiro ali às voltas como
quem procura algo e pergunta-lhe: “Perdeu alguma coisa?”, ao que ele responde:
“Roubaram-me as calças!”
Nesse momento dá-se-me um clarão
cerebral e exclamo: “Não me diga que estou a vestir as suas?”
E estava. O meu amigo Valente
costuma rir com gosto das minhas anedotas, mas já há muito que não o via com um
ataque de riso como aquele. O pobre quase morria de tanto rir e eu contagiado,
também ri com gosto do meu despistanço. E continuei a rir pelo caminho a pensar
o que seria eu a chegar a casa e a minha mulher descobrir que levava calças
trocadas. Havia de ser bonito.
O certo é que o episódio tem sido
contado a toda a gente e já começa a ser a piada do mês. O que faz a idade e a distracção.
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